Daeron V

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p e d r a   d o    d r a g ã o

Daeron havia sonhado com chuva e tempestades, porém tudo fora naqueles estranhos sonhos gélidos e nevados. Não havia imaginado que seria ele mesmo a ficar preso no meio de uma tormenta em seu caminho para o castelo ancestral dos Targaryen.

O cabelo preto vindo da sua linhagem Dayne e na altura do queixo estava grudado a sua face e o par de olhos violetas tentava focar-se nas luzes bruxuleantes que cintilavam esparsas na ilha. Ele teve sorte de se aproximar o bastante antes dos ventos, água e relâmpagos o açoitarem sem descanso. Já que sabia que não passaria muito mais tempo encharcado e com um pouco de frio como estava naquele momento nas costas largas de Stormcloud, mesmo com o calor emanado do dragão que não o aquecia além de sua cintura.

Ele sentia o dragão empolgado por estar de volta para casa. Era ali onde a grande maioria dos ovos Targaryen eram chocados pelos próprios seres escamosos, onde eles cresciam antes de serem domados algum dia ou continuavam levemente selvagens perto da grande montanha vulcânica. Daeron havia vindo ali apenas quando tinha dezesseis anos, passando dois anos para achar Stormcloud, domá-lo, ganhar sua confiança e finalmente voar. Tudo isso ao lado de Alyssana, ele não conseguia parar de se lembrar disso enquanto chegava cada mais perto da fortaleza.

A noite deixava as gárgulas dracônicas de pedra com uma aura ainda mais sombria, prontas para expulsar qualquer invasor ou visitante com suas bocas abertas e dentes pontiagudos. Haviam poucos guardas nas guaritas com tamanha tempestade e os que estavam ali não se assustaram ou fizeram alarde quando o dragão azulado desceu e pousou no pátio cinzento batendo as asas compridas, já estando acostumados com os animais e com Targaryens sempre aparecendo. Daeron desceu pelas asas molhadas e deixou que Stormcloud pudesse voltar para onde nasceu e para junto dos outros de sua espécie nas entranhas cavernas de Pedra do Dragão.

O fim da tarde já tinha cara de noite por conta das nuvens escuras que cobriam o céu e a chuva formava poças nos buracos entre os tijolos de pedra no chão. O som das botas contra a água fez o herdeiro de Solarestival se virar. Martyn caminhava rapidamente em sua direção.

— Milorde! — O homem exclamou oferecendo uma capa para o Targaryen que aceitou, seguindo o intendente de seu pai para debaixo de uma cobertura. — Uma baita tempestade, não?

— Sim. — Daeron comentou olhando para o céu rapidamente, o temporal não parecia pronto para partir logo. — Apenas não pior do que os que estou acostumando nas Terras da Tempestade.

— O senhor vosso pai me avisou que estava vindo, já mandei prepararem seus aposentos. — Disse prestativo e bom em cumprir seu trabalho. — É o mesmo em que ficou há anos atrás, ainda sabe o caminho? Ou gostaria que lhe acompanhasse?

Ele ignorou os dois pedidos com um aceno. Realmente estava com frio, fome e sono, mas antes precisava cuidar da missão a qual lhe havia sido incumbida. Uma conversa rápida com o capitão da guarda não o mataria, depois disso poderia mergulhar em água quente.

— Me leve até o capitão primeiro.

Martyn concordou e mostrou o caminho que dava até o grande salão, esculpido em formato de um grande dragão deitado. Dentro do lugar pessoas comiam e bebiam, inertes a confusão que acontecia no resto de Westeros. As conversas animadas e risadas ficaram mais controladas nas mesas com guardas, serviçais e pessoas de cabelos platinados devido sua entrada. Daeron sabia que causava um rebuliço por chegar na fortaleza, por mais que todos ali já soubessem de sua vinda.

Ele ignorou os olhares e cochichos, caminho até Balon.

O homem possuía a confiança do Rei Aegon, disso Daeron sabia do tempo que havia vivido naquela ilha, e era um Targaryen menor que havia ganhado o posto com muita bajulação. Os cabelos platinados eram ralos e quase sumindo da cabeça por conta da calvície, não havia olhos violetas ou púrpuras, apenas dois pares cinzentos observando o herdeiro se aproximar. No passado poderia ter sido um jovem robusto, mas hoje os músculos deram lugar a gordura e os membros pareciam ainda mais roliços enquanto arrancava uma coxa de galinha da travessa.

Pela PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora