A Rainha

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p o r t o     r e a l

Rhaerys passou a mão pelos cachos prateados de Aerion.

Seus dedos deslizando pelos fios bem cuidados, chamando a atenção do jovem príncipe. Ele levantou o queixo delicado, focando-se nela, o par de órbitas lilases quase em um tom roxo no escuro iluminado apenas pelo fogo. Eram as mesmas cores chamativas que os de Alyssana, distintos até mesmo entre os outros que tinham o sangue valiriano.

Os mesmos olhos ágeis.

A mesma boca rosada e sorridente.

O mesmo nariz arrebitado.

Uma cópia menos fiel de sua filha que apenas os mais observadores poderiam notar.

Os dois nunca haviam se encontrado uma única vez após o parto, nem estado no mesmo cômodo, trocado olhares uma multidão e por isso que nenhuma pessoa havia feito a associação, nem mesmo sua própria filha. O segredo continuava seguro, principalmente de Aegon. Ele nunca poderia descobrir que Aerion não era seu filho, que o garoto era o bastardo de sua filha e não o herdeiro legítimo, que ele nunca havia conseguido colocar um filho homem no mundo.

Rhaerys o deixou sair de suas mãos, indo correr até um canto do quarto com sua espada entalhada na madeira.

A Rainha se levantou, olhando o reflexo distorcido que aparecia no grande espelho que se erguia até o teto. Tocou o ventre em um movimento sutil, sentindo o que uma vez já esteve ali, quase como um fantasma de seu passado que ela nunca conseguiria esquecer completamente. Era o dia de seu nome também, mesmo que ele nunca tivesse conseguido dar um sopro de vida naquele mundo.

Ela havia ficado feliz quando o segundo filho havia vingado após tantos anos.

O parto de Alyssana havia feito ela desmaiar após perder muito sangue, não havia conseguido engravidar após aquilo e o meistre havia dito que outra gestação poderia matá-la. Contudo, Aegon nunca iria desistir de seu herdeiro varão. Ter conseguido a segunda gravidez fora quase como um êxtase, mesmo que apenas por um breve período. A mulher tinha acreditado que era sua chance, de não ser xingada e maltratada. Das brigas e noites que tinha que dividir com Aegon contra sua vontade. Acreditou enquanto sua barriga ia crescendo, quando teve de trocar as roupas, pois seus vestidos não cabiam mais. Acreditou até o último minuto, quando faltava tão pouco para dar a luz. Entretanto, os Sete, se realmente existissem ou não, haviam tido outros planos.

Apertou o tecido preto com força, segurando as costumeiras lágrimas que nunca a largaram desde que pisou em Porto Real.

Aerion veio ao seu lado, segurando sua mão livre, se agachando ao seu lado.

— Você está bem, mamãe? — Ele perguntou com a voz doce.

A voz que ela podia fingir ser de seu verdadeiro filho que nunca teve a chance de crescer.

A Rainha sorriu, escondendo o que sentia.

Nem mesmo ele poderia saber, que ela não era sua mãe realmente, mas sua avó. Que seu nome deveria ser Lucas e não Aerion, que de acordo com as leis dos homens ele deveria ser apenas um bastardo e não príncipe, que seu destino estava entrelaçado com uma mentira e uma troca. Que sangue e morte estavam ao redor de seu nascimento, sangue de outras pessoas.

Não era justo com uma criança tão pura.

Rhaerys havia perguntado a si mesma durante suas noites de insônia ou mesmo no meio de seus dias se Alys um dia poderia perdoá-la por ter escondido a verdade, por ela ter trocado sua própria criança natimorta pelo bebê da filha. No fim, ela sempre acreditou que havia feito o melhor para ela, que tinha salvo ela da morte ao convencer Aegon que ela deveria ser exilada, que tinha salvo o filho dela ao trocar as crianças, que tinha protegido sua menina ao manter a mesma mentira debaixo dos olhos de todos.

Pela PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora