Sieglinde VI

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p o r t o    r e a l

O grande salão estava abarrotado.

Tochas, candelabros e velas iluminavam uma multidão em vermelho, preto, azul, verde, dourado, amarelo, laranja e mais cores do que se pode enumerar nos tons mais variados e misturados. Famílias se uniam em um fronte compacto, representando suas respectivas casas com orgulho e pompa. Todos estavam bem vestidos naquela noite fria, usando as melhores joias, com os penteados mais complexos, mostrando riqueza, poder e força.

Ela entra sozinha.

Daevon havia ficado para trás, nos aposentos dele. Era mais seguro, aquele era um evento ainda maior do que o último, e ela temia por seu filho naquele lugar cheio de aparências misturadas com segundas intenções. Ainda mais em tal noite com tantas pessoas, onde não era possível andar sem pedir licença ou esbarrar nas saias de alguém. Porém, para ela todos abriam caminho.

Afinal, ela era uma Princesa Martell, filha de Selaena e Herdeira de Dorne.

Era Sieglinde.

Sif.

Seu nome tinha peso e sua presença também.

Sentia com arrepios o frio em suas costas nuas, enquanto o vento passeava pelo aposento colossal. O vestido cor de areia era uma junção de sedas calorosas como o sol, se movimentando com graciosidade por seu corpo que caminhava pelas pessoas. Era aberto no formato "v" na parte traseira, mostrando até um pouco embaixo de suas omoplatas em um ato escandaloso para os mais religiosos. As joias douradas cintilavam por seu corpo e na tiara repousando em seu cabelo castanho. Ela ora cumprimentando, até mesmo trocando poucas palavras com conhecidos, cumprindo seu papel, como era esperado.

Ao longe acenou para Elrie que já estava ali, tendo entrado com seu marido e a família Velaryon.

Algumas vezes era difícil de se lembrar que, ao menos em nome, a gêmea de Taryne não era mais parte de sua família. Que sua vida agora era naquela corte, não mais sob o sol ardente onde nascera. Entretanto, Sieglinde não se ressentia, sabia o que era amor e como o da irmã dela estava depositado naquele homem da mesma forma que ela havia feito com Gaemon.

Sif observava com atenção os seus arredores.

Aquela era uma de suas últimas chances, sabia que seus dias estavam acabando como areia numa ampulheta. Tinha vindo com uma promessa para sua mãe, de achar a princesa. Aquela promessa ficava mais tênue a cada lua, com o dia dela voltar a Dorne mais próximo. Seu lugar não era ali, no meio daquela corte, mas em Lançassolar com o resto de sua família e seu povo.

Ainda assim, tinha a certeza que precisava fazer tudo o que podia por Daevon.

Era seu filho, sua única criança, seu tudo.

Se houvesse uma chance de fazê-lo ser quem deveria ser, em todos os sentidos, ela a agarraria.

Pensou em ir até seu primo Tyrell.

Mesmo com os rumores circundando a corte, ela ainda acreditava que ele poderia ter alguma revelação ou segredo que poderia ajudá-la. Sim, Fuchs deve ser de alguma ajuda, pensou enquanto se preparava para abrir caminho, pronta para barganhar com palavras por informações, entretanto, foi interrompida.

A grande mão calejada era fácil de se reconhecer.

Havia passeado por seu corpo, cabelo e face.

A Martell levantou os olhos para o Baratheon.

Ele sorria, verdadeiramente sorria, e ela não conseguiu evitar sorrir também.

— O que quer comigo, Sor? — Questionou com uma voz apática após desfazer o sorriso em sua boca subitamente, já que ele havia se esquivado dela por dias, como se não fosse ninguém importante.

— Uma dança, espero não pedir demais.

Ela então percebeu que havia um círculo no meio do salão, com casais pulando e batendo palmas no ritmo, rapazes pegando suas damas pelas cinturas e as girando ao ar. Fazia tempo desde sua última dança, desde que havia sido conduzida daquela forma.

Sif encarou Borys.

— Sabe o que o ato significará. — A Princesa procurou a face do pai dele pela multidão, mas não o encontrou. — O que as pessoas irão insinuar. Está disposto a isso?

Ele tomou sua mão antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, a puxando pelo mar de nobres que olhavam embasbacados.

O veado posicionou a princesa do sol no meio dos casais dançantes e ofegantes, que aguardavam a próxima música começar. Estavam debaixo de um grande candelabro, iluminando suas cabeças e faces animadas. Ela observou seu par, mais alto do que todos ali e chamando toda atenção para si por estar com ela, mas nenhum dos dois pareciam se importar.

Não naquele momento, ao menos.

— É só uma dança. — Ele sussurrou em um tom divertido no pé de seu ouvido quando a música finalmente começou.

Sieglinde sorriu novamente quando foi puxada, sem conseguir permanecer estoica, girando e bailando num mar de seda dornesa e lã tingida nas cores Baratheon.

Os casais ao redor faziam o mesmo, animados como apenas jovens conseguiam ser. Todavia, os olhares estavam apenas no casal no centro, dançando com mais vigor do que qualquer daqueles ao redor. Ela era levada ao ar com facilidades pelas mãos do grande soldado, como se suas palmas se encaixassem perfeitamente na curvatura de sua cintura.

Eles formavam um belo par.

— O que o fez mudar de ideia? — Não conseguiu conter a pergunta, por mais que estivesse se divertindo, livre das preocupações por um breve momento. — Bateu com a cabeça durante um de seus treinos?

— Não, embora o efeito da conversa com minha irmã... — Ele começou enquanto ambos se separavam por um momento para pular e bater palmas separados, voltando um para o outro com passos ritmados. — ...possa ter sido considerado o mesmo.

— Devo agradecer a Lady Baratheon, então?

Ele concordou com um aceno, um pouco constrangido.

— Devo pedir perdão. — Ele confessou enquanto os dois giravam de mão em mão. — Temo que meu orgulho costume falar mais alto na maioria das vezes e não gosto de admitir que estou errado. E você...

Eles se separaram novamente, rondando distantes com os braços atrás das costas até a música voltar ao tom rápido, com os músicos mascarados deslizando os dedos pelas cordas com agilidade. Então voltaram um aos braços do outro.

— Você estava certa.

Ela sentiu uma vontade grande de se vangloriar por tal confissão, mas calou a si mesma.

— Sabe que eu mesma teria ido até você cedo ou tarde, não? — Ela respondeu ao invés de dizer o que queria inicialmente.

— Fico feliz por não ter sido o caso e eu ter vindo primeiro.

Ela piscou com um olho e a música finalmente acabou.

Percebeu que estava ofegante e vermelha nas bochechas, com o cabelo não mais alinhado como quando adentrou a sala do trono. Até mesmo Borys tinha a testa brilhando com o suor e seu peito largo subia e descia com mais pressa debaixo do gibão.

A plateia aplaudiu e ela finalmente notou os olhares, os cochichos e as palavras escondidas.

Os outros pares também não pareciam focados na multidão, mas neles.

Sieglinde realmente não gostava daquele lugar.

— Me encontre nos jardins. — Murmurou se afastando e se misturando à paleta de cores.

Pela PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora