Chapter Two

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Eu não sabia o que estava sendo pior. Não aguentava mais ter que ficar sentado no chão duro e gelado, ainda amarrado. Na primeira noite, em que dormi sozinho, tentei me soltar de todas as formas possível e, talvez, impossíveis, mas apenas consegui machucar mais meus pulsos e calcanhares. Viver de vinagre também não estava sendo a melhor coisa e meu organismo ficava mais fraco a cada dia, me fazendo vomitar água e bílis constantemente, me deixando desidratado. Resumindo, eu estava à beira da morte e nenhum sinal de meus pais ou algum tipo de resgate. 

Não sabia a quanto tempo estava ali, mas parecia uma eternidade olhando pela minúscula e alta janela que havia em uma das paredes. Basicamente, estava sobrevivendo do sol que ela permitia entrar no lugar frio e úmido que eu estava. Conseguia ver meus ossos começando a aparecer, devido a minha desnutrição e emagrecimento. Minha cabeça doía com qualquer tipo de barulho auto ou movimento brusco e toda noite eu chorava e soluçava, pedindo a Deus que me tirasse daquele pesadelo.

Acordei pela manhã com gritos invadindo meu espaço. A cada som mais auto, minha cabeça parecia querer explodir e eu ficava mais inquieto. Abri os olhos vagarosamente e fui obrigado a desviar rapidamente de algo que tacaram em mim. Olhei para frente, encarando os dois seres ali parados, com certo desespero. Ainda estava sem óculos, então não podia vê-los ou sequer identificá-los.

- Já passou da hora de acordar - Um deles disse em bom tom.

- Me desculpe... - Sussurrei, me encolhendo como em todas as vezes em que er obrigado a falar.

- Tragam o vinagre! - Ordenaram.

- Não. Por favor, eu não quero - Choraminguei.

- Não vamos te dar outra coisa. Sabe disso, não sabe? - Disseram e eu assenti. - Certo. Você escolhe.

Quem falava se retirou, mas a pessoa que estava ao seu lado permaneceu ali. Parada. Provavelmente me encarando. Eu sentia seu olhar percorrendo cada parte do meu corpo e isso estava me deixando a cada segundo mais desconfortável. Ele parecia não querer sair dali e continuava na mesma posição. Naquele momento, só gostaria de poder ver seu rosto e com que expressão me encarava. Levantei o olhar para encará-lo também e ouvi um leve suspiro. Ele então se moveu e aos poucos o borrão foi desaparecendo.

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Ficar sem nada para fazer era entediante. Eu não tinha meu notebook ou um livro para ler, um caderno para escrever ou sequer algo para fazer o tempo passar. Apenas eu, meus pensamentos, que não andavam lá muito positivos, e meu estômago que roncava a cada cinco minutos. 

Estava deitado no chão, olhando para o teto e pensando. Uma vez, eu li um livro sobre sequestro. O mocinho principal foi levado de sua família e colocado em cativeiro. Torturado e feito de saco de pancadas. E então quando você acha que ele ia morrer, aparece a bela filha do sequestrador. Ela cuida do mocinho, o ajuda a fugir e os dois se apaixonam. Com certeza está muito longe de ser o melhor livro que já li, mas naquele momento essa péssima história havia me dado um pingo de esperança. E se o meu sequestrador também tivesse uma filha?E se ela aparecesse e viesse me ajudar a sair daqui? Ela não precisava se apaixonar por mim. 

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Já era noite e uma tempestade caía lá fora. Eu conseguia ouvir os sequestradores gritando e comemorando algo na sala ao lado. Talvez estivessem jogando cartas. Os trovões eram constantes, e me faziam ficar mais encolhido no canto molhado da parede. Sempre odiei tempestades. Quando era mais novo, minha mãe costumava cantar para mim quando chovia e isso realmente me deixava mais calmo. Então, comecei eu mesmo a cantarolar alguma música.

Take me to church. I'll worship like a dog at the shrine of your lies, I'll tell you my sins... 

Enquanto eu sussurrava Hozier baixo o suficiente para que só eu escutasse, aquele sentimento de que alguém está te observando, veio novamente. Abri o olhos e vi um vulto se movimentando rapidamente, como se tivesse medo de ser descoberto. Troquei de posição, meio desconfortável, e ouvi passos em minha direção. 

- Parece que seu pais não te querem mais, garotinho - Aproximaram-se do meu rosto e pude sentir o hálito de álcool.

- Por que diz isso? - Falei baixo.

- Mandamos uma carta com a quantia que queremos por você e até agora não responderam.

- Carta? Em que século vocês vivem? Isso é tão antiquado. - Franzi as sobrancelhas.

- Oras - Cuspiram no meu rosto e chutaram minhas costelas - É bom você ficar calado, ou volta pra casa sem vida.

Me empurraram contra a parede e em seguida ouvi os passos distantes. Com a manga da camisa, tentei limpar o cuspe do meu rosto e segurei para não chorar. Agora até respirar estava difícil. O ar entrava pela minha boca, vagarosamente, e eu o soltava pelas narinas, tudo com muita dificuldade e dor. Logo não consegui mais conter as lágrimas e elas começaram a escorrer como cachoeira pelo meu rosto. O que eu fiz de tão errado para estar sofrendo assim? Pensava comigo mesmo. Meus soluços tomaram conta do ambiente e eu batia com a cabeça na parede, irritado, com medo e desesperado para sair dali. Porém, levei um enorme susto quando tocaram meu rosto com cautela. Abri os olhos instantaneamente e o ser a minha frente pareceu se assustar também, porque se esquivou para trás.

- O que quer comigo? - Tentei gritar, mas minha voz saiu embargada.

- Eu não vou te machucar... - Disseram baixo.

- Como posso ter certeza? - Me encolhi, arrastando meu corpo de volta ao canto.

- Você vai ter que confiar em mim...

- Nem te conheço! Como vou poder confiar em alguém que nem sequer consigo enxergar? - Bufei. - Eu sou um cego! - Bati a cabeça na parede outra vez.

- Ei, não faça isso. - Tocaram minha perna.

- Não me toque! - Encolhi-me mais.

- Não tenha medo... 

- Tarde de mais - Solucei.

- Eu trouxe comida - Estenderam algo para mim.

- Como vou saber se não está envenenada? - As lágrimas ainda escorriam.

- Não está. Eu juro. - Aproximaram o alimento da minha boca e eu pensei duas vezes antes de morder. Era um pedaço de pão.

- Eu só quero ir embora - Quase gritei - Por favor, me tire daqui.

- E-Eu não posso - Gaguejaram - Me desculpe. 

- Obrigado pelo pão - Murmurei, ignorando a resposta anterior.

- Tudo bem. - Sua voz saiu doce - Você... hm... se importa de eu cuidar da sua costela machucada?

- Como sabe que estou machucado? - Indaguei.

- Eu... 

State of the dark ➸ z.hOnde histórias criam vida. Descubra agora