Chapter One

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Tiros

- Mãos ao alto! - Alguém gritou.

Pessoas correndo

Agarraram meu pescoço, me deixando imóvel.

Pânico

Uma arma contra minha cabeça. O assaltante com o dedo no gatilho.

Olhares horrorizados.

Quatro caras emcapusados e de preto roubavam o que podiam das joias da loja.

Comandos de ordem policial

- Vamos! Vamos! - Quem me segurava berrou.

Os caras de preto correram para os fundos e fui arrastado junto com eles, ainda pelo pescoço e de costas, com a arma na minha cabeça. Me jogaram dentro de uma vam, juntamente com o saco repleto de joias. Ouvia-se tumulto do lado de fora e batidas de portas, logo aceleraram e tive que segurar para não cair. Estava escuro, mesmo que ainda fosse noite, e umido também. Me encolhi com frio, apesar de estar de jaqueta, e respiração estava descompassada.

O que querem comigo?

Eu não tinha noção de tempo ali dentro, mas estávamos demorando para chegar onde é que fosse, e a cada minuto ficava mais frio. Quem dirigia não tinha medo de rodar o carro, ou algo assim, pois parecia chover lá fora, e ele não tirava o pé do acelerador. Até que aos poucos fomos parando e houve murmúrido do lado de fora outra vez. Abriram a porta e uma descarga elética caiu ali perto, deixando o ambiente claro por alguns segundos. Dois dos caras agarraram meus braços e outro arrancou meus óculos, me deixando parcialmente cego. Colocaram algo preto na minha cabeça e me arrastaram para fora da vam. Eu tropeçava em tudo e em todos e gritvam comigo e entre eles o tempo todo. Então a chuva parou me me molhar e entedi que já estava dentro do lugar desconhecido. Ouvi o barulho das joias contra um mesa e jogaram meu corpo contra o chão gelado e duro, com brutalidade, me fazendo arfar e ficar com prováveis ematomas.

- Relógios! Nós só conseguimos relógios! - Uma voz grossa ecoava nervosa e eu automaticamente me encolhi.

- Não deu tempo de pegar mais! - Outra mais estridente, mas masculina também, gritou.

- Pelo menos temos o garoto. - Alguém falou calmo.

- Podemos arrancar um bom dinheiro da família dele. Pelas vestes parece ter grana. - Me arrepiei. Eu não podia ver, mas sabia que estavam todos me encarando.

- Amarrem-o.

--✖---

Eu estava na mesma posição a, com certeza, mais de três horas. No chão. Ensopado. Com os pulsos e calcanhares amarrados com corda de marinheiro. Com fome. Frio. Sede. Medo.

A movimentação constante de pessoas e palavras havia sumido. Estava silencioso, talvez silencioso de mais. Mas ainda chovia lá fora. Na verdade, caía uma tempestade lá fora. Com direito a raios, trovões e, aparentemente, pingos grossos. Então em um movimento súbito, arrancaram a toca da minha cabeça e me assustei, encolhendo um pouco. Posso jurar que ouvi um sussurrado, e quase inaudível, "não vou te machucar" de quem tinha feito, mas também poderia ter sido alucinação.

- Consegue enxergar?

- Hum? - Murmurei.

- Consegue me ver? - Tentaram fazer uma voz firme.

- Apenas um borrão preto. - Levantei os olhos.

- E agora? - Houve movimento e o borrão preto ficou mais claro.

- Ainda é um borrão.

- Ele não consegue enxergar sem os óculos. - Gritaram, me causando pontadas na cabeça.

- Ótimo. Não ia aguentar ficar com isso na cabeça o dia todo. - Alguém de estatura baixa se aproximou um pouco mais e, aparentemente, tirou a touca.

- O que vamos dar pra ele? - A voz anterior perguntou.

- Quê? Não vamos alimentá-lo!

- Ele não pode morrer! - Agradeci por terem dito isso - Como vamos conseguir a grana se isso acontecer?

- Certo. - Houve um estalo - Já volto.

Eu não conseguia enxergar, mas sabia que um deles me encarava. Ele não se movimentou enquanto o outro esteve fora, e eu já estava constrangido com aquilo.

Por que logo eu?

- Aqui - Ouvi um barulho de balde contra o chão.

- O que é isso?

- Vinagre. Ele pode sobreviver com isso. - Estenderam algo na minha direção e esfregaram na minha cara. - E como alimentar um cego - Deram uma risadinha zombadora.

- Tecnicamente, eu sou um agora - Murmurei.

- Calado! - Gritaram - Anda, toma isso ali logo!

Me inclinei um pouco para frente e meus lábios tocaram algo úmido. Uma esponja. Uma esponja que havia sido mergulhada em um balde cheio de vinagre. Eu odiava aquilo. Odiava com todas as minha forças. Queria poder chorar. Mas não faria isso aqui e agora. Talvez eu fosse espancado por isso. Suguei o líquido de gosto ruim da esponja e fiz careta.

- É bom não ficar fazendo careta! Vai ser seu alimento nos próximos dias.

Ouvi um suspiro. Mas não vinha da mesma pessoa.

Fiquei sozinho novamente e dessa vez não pude evitar as lágrimas. Eu queria ir embora dali. Seria obrigado a ficar até quando? E ainda por cima ficariam me chamando de cego. Sofri com piadinhas de mal gosto a minha infância toda sobre meus óculos e meu problema de vista e, agora que estava na faculdade, estava sendo diferente. Mas tudo parecia ter voltado no tempo e eu me senti aquele magricela esquisito quatro olhos outra vez.

- Não chore! - Disseram tentando dar uma ordem, mas aparentemente este falhou.

- Pensei que estivesse sozinho. - Murmurei e me inclinei para o lado, encostando na parede.

Juntei minhas pernas e as levei até meu peito. Não poderia abraçá-las como gostava de fazer, e isso me deixava mais intrigado. Deitei minha cabeça sobre os joelhos e fiquei pensando se alguém me tiraria dali. Se meus pais tinham ficado sabendo que o filho havia sido raptado. Se eu ainda tinha alguma esperança.


State of the dark ➸ z.hOnde histórias criam vida. Descubra agora