Prólogo

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Donghyuck nunca se sentiu pertencente a um lugar.

Por alguma razão, nada em sua vida fazia qualquer sentido. Era como se o universo conspirasse contra si. Seus pais eram desmiolados, e por isso sua criação havia sido conturbada. Eles não eram pais ruins, apenas não tinham senso de responsabilidade algum. Por isso, durante toda a sua infância se via em situações que, se seus pais tivessem o mínimo de atenção, poderiam ter sido evitadas; como da vez em que foram à praia e sentaram para tomar sorvete ao lado de uma colmeia de abelhas. Não era nenhuma ciência, era apenas uma pequena atenção.

Por sua criação ser feita por pais que beiravam a irresponsabilidade, Donghyuck pedia aos céus que quando chegasse seu primeiro cio, ele anunciasse que Lee era um alfa, ou um beta, para que seu coração — e sua ansiedade — parasse de criar cenários absurdos, onde a negligência de seus pais junto de sua transformação na classe que não se deve ser nomeada não tornasse a vida de Lee Donghyuck um caos a cada três meses.

Mas novamente, o universo nunca colaborava com Donghyuck.

Era de se esperar que seu pai, um alfa de alto pedigree — palavras usadas por ele mesmo —, pudesse sentir o cheiro de seu filho entrando no cio no dia de sua formatura do ensino fundamental. Mas ele não sentiu. E foi quando o que deveria ser parte de suas memórias felizes, se tornou quase um trauma em sua vida; Jamais se esqueceria como seu pai correu consigo no colo enquanto meia dúzia de alfas e betas os perseguiram até o carro. Tudo que sua mãe fez naquele dia foi entregar uma caixa de brinquedos novos e dizer para que não fizesse muito barulho.

Na semana seguinte, quando o cio de Donghyuck finalmente se cessou, e tudo que lhe restou foi uma dor de cabeça e a confirmação de que era um ômega, sua mãe lhe pediu desculpas pelo tratamento completamente indiferente e deu a desculpa de que ficou em choque com a movimentação repentina e não sabia como agir. Como o bom e ingênuo filho que era, Hyuck aceitou as desculpas e seguiu em frente.

Quando entrou no ensino médio, Donghyuck criou esperanças de que não seria tão ruim, já que agora poderia começar a tomar suas próprias decisões e se divertir como todo bom adolescente. Quase deu certo. Na verdade, acabou conhecendo Chenle e Renjun, dois garotos que haviam acabado de se mudar para a cidade e ainda estavam aprimorando o coreano. Eles não eram exatamente nerds mas mantinham uma boa média e preferiam ficar longe dos holofotes. O que acabou combinando com a personalidade de Donghyuck, que por causa de seus pais — que frequentemente chamavam a atenção para si sem se esforçar muito — acabou criando certo medo de ser o centro das atenções.

O que não era o caso de Mark e Jeno, dois alfas que, assim como seus pais, chamavam a atenção apenas por sua mera existência. Não achava estranho, já que os dois eram extremamente atraentes, mas ainda ficava impressionado na facilidade que tinham de se destacar.

Eles eram, de longe, a amizade mais improvável que Donghyuck criara.

Foi sem querer, ele esbarrou em um deles enquanto corria para não perder o ônibus para casa, o que acabou acontecendo mesmo assim, mas eles lhe ofereceram uma carona e Hyuck aceitou de bom grado. Eles eram divertidos de se conversar, sempre mantendo o papo leve e querendo conhecer melhor Donghyuck. O que batia contra alguns rumores que corriam pela escola de que eles eram intimidadores e que faziam coisas levemente suspeitas nos horários fora da escola.

Se tornaram próximos conforme o tempo passou. Aprendeu sobre os dois o suficiente para saber que a multidão nunca trouxe arrogância para sua personalidade, e também que eles deveriam sim, fazer algo suspeito fora da escola, mas Donghyuck não era curioso — ou corajoso — o suficiente para questioná-los sobre, então apenas deixava suas suspeitas guardadas a sete chaves em um cantinho de sua mente.

Bom, até o último ano do ensino médio.

Donghyuck nunca havia tido um crush de verdade. Achava alguns garotos atraentes, mas nunca passava disso. Até que, quando suas férias começaram, ele sentiu uma falta enorme dos dois garotos. Frequentemente se pegava pensando em como seria agradável passar a tarde com eles assistindo um filme ou até mesmo observando o pôr do sol na piscina do hotel que estava com seus pais.

Não compartilhou seus devaneios com Renjun, que o acompanhava na viagem, sabia que o amigo provavelmente tiraria sarro de seus pensamentos sem sentido e preferiu manter aquilo para si. Ele só não esperava encontrá-los no dia seguinte, no mesmo hotel que estava ficando.

Donghyuck os reconheceu de longe. Era tarde da noite e havia fugido do quarto junto de Renjun para ver o céu estrelado da praia quando os viu sentados na areia, sozinhos. Hyuck pode ver um homem de máscara indo até a direção deles. Preocupado, avisou Renjun que se surpreendeu ao vê-los ali, e puxou o amigo de volta para o hotel como se sua vida dependesse disso.

Hyuck não queria ir, é claro, queria se certificar que tudo ficaria bem com os garotos. No último relance que teve dos dois garotos, Mark entregava algo ao homem suspeito enquanto Jeno recebia o que pareciam ser notas entregues pela figura.

Donghyuck não disse nada, apenas seguiu Renjun de volta para o quarto e se deitou calado. Passou a noite pensando no que aquilo tudo significava, e se Renjun sabia de algo, já que aquela não era uma atitude comum de alguém que não tem ideia do que estava acontecendo.

Não dormiu pelas noites seguintes, frequentemente os avistava pelo hotel, andando sempre juntos. E nada tirava da cabeça a estranha situação que havia encontrado os dois naquela noite, e a inusitada atitude que Renjun tomou.

Era tudo muito estranho.

Não via a hora de descobrir o porquê. 

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