Capítulo 8

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Jimin tentou se convencer de que estava fazendo a coisa certa, embora sua mente reprovasse suas intenções. Esforçou-se para não parecer nervoso, mas suas mãos enluvadas se retorciam sobre o colo. Quando viu a elegante mansão surgir na estrada sabia que não tinha mais volta. A carruagem parou na frente da construção e a porta principal foi aberta por um criado. 

─ Bom dia. Eu sou o conde Jeon e estou aqui para falar com Taehyung. Não tenho hora marcada. 

─ Sim, milorde, queira entrar por favor. Vou anunciá-lo. ─ O criado auxiliou o conde a descer. Jimin virou-se para Yoongi. 

─ Yoongi, acredito que não levará muito tempo. Espere-me aqui mesmo na carruagem. 

─ Sim, milorde, ─ Yoongi concordou. O criado levou Jimin até a sala de estar e em pouco tempo Taehyung entrou no aposento com um sorriso largo nos lábios. Vestia um conjunto claro e comportado. Seus cabelos estavam presos em um coque e alguns cachos emolduravam o rosto bonito. 

─ Bom dia, milorde, que prazer imenso recebê-lo! 

Jimin não respondeu de imediato, apenas olhou-a altiva. Exibia uma confiança que estava longe de sentir. Toda dúvida que comprimia seu peito quis explodir e ele não conseguiu segurar as palavras. ─ Você o ama? ─ Jimin perguntou de súbito. 

A dúvida sombreou os olhos de Taehyung por um momento, mas rapidamente entendeu o que Jimin queria dizer com aquela pergunta. ─ Sim, o amo. ─ O francês respondeu simplesmente.

 Os dois pareciam se medir com o olhar num embate mudo. Jimin sentiu o coração se comprimir. Ele procurou por isso, então que aguentasse as consequências. Ergueu o queixo num sinal de orgulho. Perguntou-se se havia algum jeito de manter a dignidade depois de ouvir o que não estava preparado para ouvir. 

─ Por que você veio? ─  Taehyung perguntou estreitando os olhos. 

─ Vim para me certificar de que não há nada entre você e meu marido. ─ Jimin não conseguia mais se segurar e deixou que toda sua dignidade se esvaísse em suas palavras. 

─ Oh, mas existe muita coisa entre seu marido e eu, Lorde Jeon. Temo que nem o senhor nem ninguém possa apagar isso.

 ─ Como se atreve... ─ Jimin começou indignado. 

─ Não... como você, milorde, se atreve a vir aqui fazer-me tais perguntas? ─ Taehyung interrompeu o conde. ─ Sinto muito se você não confia em seu marido, mas isso não lhe dá o direito de vir me perturbar em minha casa. O senhor não pode apagar o que eu e o conde temos... 

Jimin sentiu o rosto esquentar e quando caiu em si, viu a atrocidade que acabou de cometer. O violento tapa que desferiu contra o rosto do francês fez com que este perdesse o equilíbrio e caísse sobre as almofadas do sofá. ─ Como havia dito, Taehyung, vim apenas me certificar de que não há nada entre você e meu marido. Sabe, ─ Jimin falava enquanto calçava as luvas, ─ algumas amigas já tinham me alertado que havia ômegas franceses vulgares circulando pela sociedade londrina, no início havia acreditado nelas, mas alguém me convenceu do contrário. Agora vejo que minha intuição sempre é verdadeira. Bem, meu recado já foi dado e creio que você o entendeu muito bem. Tenha um bom dia. 

Jimin girou o corpo e saiu da sala, deixando um Taehyung completamente abismado com o que havia acabado de acontecer. Seus dedos formigavam dentro da luva e ele se recusava a processar o que acabara de fazer. Mais tarde refletiria sobre sua ação impensada e nas consequências que isso poderia acarretar, mas no momento, ele sentia uma pontada de satisfação em ter estapeado o rosto do francês  insolente. 

Jimin saiu apressadamente da mansão e não olhou para trás. Não queria demorar mais nenhum minuto dentro daquela casa. Acomodou-se no interior da carruagem e logo partiram de volta para Crescent Garden Hall. Inconscientemente o conde sorria. Era um sorriso de satisfação, mas ele sabia que mais tarde, quando analisasse suas ações, encontraria apenas motivos para se envergonhar. Ele não era assim, não fora ensinado a se comportar de maneira tão deplorável. Ele simplesmente não sabia o que se passava em sua cabeça. De súbito, abriu a janelinha para falar com o cocheiro. 

─ Sr. Minjun, por favor, leve-me para o Hyde Park. Gostaria de dar uma volta antes de retornarmos para casa. Viu quando o cocheiro desviou o caminho e seguiu para o parque. Queria olhar a natureza ou quem sabe ficar a sós consigo mesmo, nem que fosse por alguns minutos. Cedo ou tarde teria que refletir sobre o que fez. Sua maior preocupação no momento era com relação à decepção de Jungkook quando ele soubesse do ocorrido. Certamente Taehyung contará na primeira oportunidade. Se é que ele já não estava com uma pena na mão naquele exato momento. O cocheiro parou a carruagem e desceu para ajudar o conde. Porém, quando abriu a portinhola, Jimin o impediu com a mão. 

─ Não, sr, Minjun, gostaria de permanecer aqui dentro mesmo. Vamos ficar aqui só mais um pouco. Depois dê a volta no parque e seguimos para casa. 

─ Sim, milorde. ─ O cocheiro tornou a fechar a portinhola, subiu no assento e trocou um olhar com Yoongi, que estava sentado ao seu lado. O beta  apenas deu de ombros e falou com a voz baixa 

─ Não somos pagos para entender, apenas para fazer o que nos mandam. 

Assim como o conde solicitou, o cocheiro esperou alguns minutos para então colocar a carruagem em movimento. Dirigiu devagar para que o patrão  pudesse apreciar a visão do parque. Do interior do veículo, Jimin observava o final da tarde cair sobre a alameda arborizada. 

A luz vespertina dava um toque mágico ao ambiente e a vegetação parecia resplandecer ante a luz morna. O mar colorido dos canteiros de flores se exibia para os poucos transeuntes que passeavam despreocupadamente. Ao longe, o lago explodia em inúmeras faíscas devido à incidência do sol que já declinava. Então, Jimin deparou-se com uma cena singular. Viu a silhueta de um casal contra o espelho d'água. Eles estavam tão próximos quanto o decoro permitia. O cavalheiro segurou a mão de sua dama e a levou aos lábios. Jimin sentiu o coração se aquecer diante do gesto singelo. De repente, ele ajoelha-se e a moça leva a mão à boca. Jimin sentiu um ímpeto de pedir para o cocheiro parar a carruagem; queria ver o final daquela pequena história, mas a cena muda de amor desapareceu por trás das árvores. Com lágrimas nos olhos, Jimin se recostou no assento. 

O que estava acontecendo com ele? A partir daquele momento, não mais se reconhecia. Sentia vergonha de si mesmo e sabia que ficaria mortificado quando visse o descrédito estampado nos olhos de Jungkook quando ele soubesse do que fizera. Certamente ficaria constrangido ao saber que ele, um conde, capitão da Marinha Real, tinha um esposo indigno. Um histérico. Jimin sabia o que acontecia a ômegas tachados como histéricos e ele não queria o mesmo fim. Tratou de se recompor. Ele era um conde, não um desclassificado qualquer. Tinha que agir de acordo com sua posição. Durante o trajeto de volta, refletiu sobre sua atitude e decidiu que o melhor a ser feito seria ir para casa de campo em Devon. 

A temporada para ele já havia terminado; ademais acreditava que não havia mais nada que Londres pudesse lhe oferecer. Queria ficar longe de tudo e de todos. Sumir um pouco da sociedade, tampouco queria ouvir falar de Taehyung. Nem mesmo as flores coloridas da primavera conseguiram aplacar a angústia que crescera em seu peito. Queria recolher-se para encontrar seu norte, sua paz de espírito. Agora que sabia que seu marido mantinha um amante, teria que educar seus sentimentos na tentativa de dirimir sua dor.

O Segredo de Park JiminOnde histórias criam vida. Descubra agora