Capítulo 14

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A primeira noite após a volta do conde testou os nervos de Jimin até o seu limite. Aflito, não desgrudou os olhos da janela suplicando, a qualquer entidade com boa vontade em ajudar um pecador, que Namjoon não aparecesse em seu quarto. Por outro lado, qualquer barulho vindo do quarto do marido era um alerta de que ele poderia, a qualquer momento, entrar e reclamar o que era dele por direito. Impaciente, caminhou para lá e para cá, diante da cama, imaginando um jeito de mandar uma mensagem para Namjoon . Sentou-se à escrivaninha e tentou esboçar uma carta de despedida. Enquanto a pena percorria o papel, se perguntou se dentre as cartas que o conde tanto escrevia, alguma delas seria para seu amante francês. Que ironia, não? Cada um escrevendo cartas para o seu companheiro proibido. Depois de algumas tentativas frustradas, finalmente encontrou as palavras certas. 

 Meu caro N, ​

Sinto muito informá-lo que o tempo de romper nossos laços finalmente chegou. Por mais que nenhuma palavra tenha sido proferida em voz alta, sabíamos que não existiria um futuro para nós. Cedo ou tarde sabíamos que este momento chegaria e, por mais doloroso que seja escrever estas palavras, devo agradecer todo carinho e atenção a mim dispensados. No entanto, uma coisa posso lhe garantir, meu querido forasteiro, jamais esquecerei as palavras que trocamos sob o véu da escuridão. Peço que não me procure, será melhor para nós dois. 

Adeus, Lorde J. 

Não segurou as lágrimas. Procurou na gaveta de sua penteadeira uma fita de renda para envolver a carta dobrada. Pediria para Yoongi entregá-la. O criado sempre esteve ao seu lado e conhecia várias particularidades suas. Vira a mancha no pescoço e ainda assim o ajudou a esconder. Ele, certamente, era um aliado. Quanto mais cedo aquela mensagem chegasse nas mãos dele, mais cedo romperiam para sempre e logo seus encontros clandestinos seriam relegados a uma memória distante. 

                                                                                         ​***

Dois dias depois...

 Nos dias que se seguiram, Jimin  tentou esquecer seu pecado particular varrendo-o para os confins de seu inconsciente e dedicou-se inteiramente ao marido. Yoongi  seguira suas instruções e deixara a carta no chalé abandonado, no entanto, voltou para casa com as mãos vazias, já que o forasteiro não estava lá para recebê-lo.

 Ao ver que o criado retornou sem uma resposta, experimentou um desapontamento profundo, mas conformou-se, pois, era exatamente isso o que queria, o afastamento total de seu cigano misterioso. Quando o sol tímido conseguiu perfurar o véu do outono, ele e o marido foram passear de braços dados pelo jardim e o conde aproveitou para inteirar o conde do baile de outono que seria dado em Hillcrest Manor, dentro de poucos dias. 

─ Então foi assim que meu adorável esposo se preocupou com o sumiço de seu marido, planejando festas... ─ Ele provocou espirituosamente. 

─ Ora, Jungkook, um ômega precisa manter-se ocupado. ─ Jimin  riu e devolveu a brincadeira. ─ Além do mais, os ômegas  do comitê não me deixariam em paz enquanto não permitisse que o baile fosse realizado aqui. Todos os anos essa festividade é feita na residência de alguma participante e como sou o novato... 

─ Imagino. Eles ficaram loucos de curiosidade para desvendar os segredos da conde solitário. 

─ Acho que sim. ─ Jimin disse e riu. ─ E agora a expectativa deles está nas alturas, pois o próprio conde honrará o evento com sua presença ilustre e perturbadoramente misteriosa! ─ Jimin gracejou. 

─ E você acha que sou isso ? ─ O conde perguntou quando pararam na parte mais alta da ponte do jardim, que cobria a porção mais estreita do lago. ─ Acha que sou perturbadoramente misterioso ? Jimin  

levantou a cabeça para fitar o marido e viu que ele estava sério. Algo em seu interior perturbou-se e um pequeno calafrio subiu em sua espinha, embora estivesse bem agasalhado. Deu um sorriso nervoso e respondeu. 

─ Claro que sim. Foi por isso que me casei com você. ─ Ele pousou a mão sobre a dele que descansava no parapeito de madeira. ─ Você é o sonho de qualquer ômega , Jungkook. ─ Acrescentou com um sorriso suave. 

─ De qualquer de qualquer  ômega ? ─ Ele replicou com uma sobrancelha arqueada e desta vez com um sorriso no canto dos lábios. ─ E o meu! ─ O conde exclamou e soltou o ar preso em seus pulmões. Relaxou quando percebeu que ele estava apenas brincando. 

─ Você não faz ideia de como os meninos e meninas  do convento quase morreram de inveja quando anunciei que iria me casar com o Conde Jeon  

─ Então eu não passo de um troféu para você, cara esposo. ─ Jungkook  protestou fingindo-se ofendido e ofereceu o braço para o  esposo para que retomassem o passeio. 

─ Mas é lógico, meu amor, todos os maridos o são. ─ Jimin  respondeu irônico, aceitou o gesto do conde e deu palmadinhas de consolo no braço dele. ─ Todos vocês são...

 No caminho de volta para a mansão, Jungkook  inclinou-se para o esposo e falou: ─ Meu anjo, acabei de ter uma ideia interessante e acredito que você concordará comigo, 

─ E qual seria essa ideia? ─ Jimin  deixou de observar o jardim e voltou-se para ele. 

─ O que você acha de convidarmos os ciganos ? ─ Jungkook perguntou com olhos sorridentes. Jimin  engoliu em seco e sentiu o coração falhar uma batida. ─ Quando estava retornando para Hillcrest Manor percebi que havia um acampamento nos arredores da cidade. ─ Ele continuou.

 Ao ouvir tais palavras, Jimin  parou e retirou discretamente a mão do braço do marido, não queria que ele sentisse o leve tremor que tomou conta de suas mãos. Para disfarçar, abaixou-se para mexer num canteiro de áster lilás, como se estivesse interessado em tirar uma folha amarelada ou outra. Tentou manter o controle, mas sentiu as pernas perderem a consistência. O pulso acelerado o impediu de dar uma resposta imediata. 

─ E então, o que acha ? ─ Jungkook  pareceu não perceber o súbito mal-estar do esposo. ─ Não acha que os ciganos deixarão os convidados impressionados ? 

─ Não acredito que seja uma boa ideia. ─ Ele endireitou-se e respondeu e, para sua própria surpresa, a voz não saiu trêmula. ─ Além do mais os ciganos não andam causando uma boa impressão entre nossos vizinhos. 

─ Como assim ? 

─ Você sabe, Jungkook como a sociedade rural é menos tolerante com o que é diferente. 

─ Sim, concordo que os ciganos são diferentes, mas ainda assim são seres humanos. ─ Ele respondeu e ambos voltaram a caminhar. ─ Enquanto estive na Ilha de Wight, conheci um grande grupo deles. Ah, Jimin, se você os tivesse conhecido, como eu os conheci, entenderia o que estou dizendo. Teria ficado encantado pela sua música contagiante e todas aquelas histórias interessantes sobre seu povo e sua cultura. ─ Falou com entusiasmo. Jimin  sentiu o rosto arder e agradeceu por estar de chapéu, assim ele não veria as faces vermelhas de vergonha. Sentia-se desnorteado com o sentimento de culpa que a invadiu por estar com Jungkook  e permitir que sua mente se enchesse de imagens vergonhosamente libidinosas de todas as vezes que fizera amor apaixonado e despudoradamente com o cigano misterioso. 

─ Bem, ─ Ele escolheu as palavras antes de falar, ─ não tenho nada contra eles em particular, é que temo que este gesto seja incompreendido e nós acabemos sendo motivo de escândalos aqui na região.

 Ele tinha que eliminar aquela ideia absurda da cabeça do marido . Se os ciganos fossem convidados a chance de Namjoon ir para o baile seria muito alta e ele estaria arruinado para sempre. Na verdade, não ligava a mínima para o que os vizinhos pensavam ou deixassem de pensar, mas tinha que impedir que o marido os convidasse. 

Jimin resolveu não fazer oposição direta à ideia do marido, prometeu a ele que pensaria com carinho, mas para si mesmo jurou que faria o possível para o assunto cair no esquecimento. Enroscando novamente o braço no dele, expulsou seus demônios para longe, colocou sua melhor expressão no rosto e o acompanhou animadamente de volta à mansão.

O Segredo de Park JiminOnde histórias criam vida. Descubra agora