Capítulo 9

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Exeter, Devon Seis meses depois...  

O ômega sentiu os pelos da nuca se eriçarem devido à forte impressão de que alguém o observava. A sensação o incomodou desde o momento em que chegou à igreja e se estendeu ao longo de toda a pregação. Impaciente, remexeu-se no assento e investigou a pequena igreja de pedra discretamente em busca de seu observador, mas viu somente o rosto das pessoas conhecidas e todas elas estavam com os olhos atentos ao reverendo. Então, por que aquela sensação teimava em importuná-lo ? 

Quando o sermão finalmente chegou ao fim, os presentes se levantaram mas não partiram de imediato. Paravam a todo instante para se cumprimentarem e involuntariamente impediam que Jimin seguisse em frente. Quando finalmente atingiu o pátio, falou rapidamente com os mais conhecidos. A sensação apenas piorou. Olhou ao redor mais uma vez e balançou a cabeça achando que aquilo era sua mente pregando-lhe uma peça. Dirigiu-se para a carruagem, onde Yoongi já se encontrava sentado ao lado do cocheiro. Antes de subir no veículo, porém, algo chamou sua atenção e virou o rosto na direção do bosque. O que viu fez seu coração acelerar.

 Um homem com o rosto parcialmente coberto por um capuz encontrava-se encostado no tronco de um enorme carvalho. Assustou-se diante da visão um tanto sinistra e olhou para os lados a fim de ver se outras pessoas enxergavam o mesmo que ele. Ninguém parecia ciente de tal imagem. Todos conversavam animadamente entre si, ignorando a repentina aparição. Será que estou ficando louco ? 

Estreitou os olhos e estudou a figura escura e solene. Ele mantinha uma postura desafiadora e a olhava ostensivamente. Seu maxilar era duro e estava coberto pela sombra de uma barba escura, rala e completa. Sem saber se estava irritado com o olhar insistente ou com a própria reação perante o desconhecido, Jimin ergueu o queixo, subiu na carruagem e fechou a cortina. Não admitiria que um estranho o olhasse daquela maneira. Ainda mais agora que seu marido estava tão longe de casa. Jimin passou o resto do dia com o humor nada agradável, principalmente pelo fato de sua mente, a todo instante, lembrar do homem misterioso perto do carvalho.

                                                                                          ***

 Os dias no campo tinham um ritmo diferente. O tempo parecia ter um passo mais lento e as horas, às vezes, pareciam se arrastar e isso era particularmente perigoso pois poderia suscitar ideias inoportunas para alguém que estivesse com a mente ociosa. O conde, temendo ser refém dos próprios pensamentos, tentava manter-se ocupada a maior parte do tempo, a despeito da insistência de Yoongi para que não se cansasse, ou se sujasse, ou forçasse a visão com tantas leituras. Envolver-se com obras sociais nas comunidades mais pobres e afastadas a fim de distanciar-se um pouco de casa e estar presente onde sabia que necessitavam dele.

 À noite, repousava a cabeça no travesseiro tão cansado que não sobrava espaço nem para os sonhos. No fundo, ele sabia que todas aquelas atividades eram apenas uma fuga. Uma fuga para proteger o próprio coração da ausência do conde. As cartas dele eram poucas até o ponto de cessarem de vez,o deixando angustiado e apreensivo. Mandara algumas cartas para a base naval em busca de notícias do marido, mas as respostas eram sempre evasivas e inconclusivas. Não era a primeira vez que Jeon ficava tanto tempo longe de casa, mas as circunstâncias de sua partida foram diferentes. Ele nunca havia partido brigado com ele e sempre encontrava uma maneira de mandar-lhe cartas. A única coisa que se passava na cabeça do conde era que o marido provavelmente já fora avisado de sua conduta deplorável para com Taehyung e resolvera manter-se em silêncio apenas para puni-lo. 

Apertando o xale ao redor do corpo para se proteger da brisa fria que soprava no bosque, Jimin caminhou na trilha a passos determinados de volta para a mansão. Já eram meados do outono e a estação mudou o tempo e a paisagem completamente. A vegetação se tingiu de um escarlate ofuscante que se entremeava com o tom de mostarda e às vezes amarelo vivo. A folhagem seca se acumulava no chão e o ar estava mais límpido. A primeira vez que visitaram Hillcrest Manor, a casa de campo dos Hogan, estranhara o fato de a capela ser tão longe do edifício principal. Porém, quando vira o pequeno e pitoresco santuário à beira do lago que cruzava a propriedade, construído debaixo dos galhos caídos de um salgueiro, entendera o que o paisagista quisera recriar naquele recanto. 

O Segredo de Park JiminOnde histórias criam vida. Descubra agora