Capítulo 13 - Inesperado.

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Jughead

Serenava. A fina garoa fazia com que o frio que eu já sentia piorasse ainda mais. Meu corpo inteiro parecia congelado conforme eu via o caixão de meus pais diante de mim. Havia várias pessoas ao meu redor, mas eu não percebia ninguém, nem mesmo ouvia as palavras que o pastor dizia. Receber a noticia que meus pais haviam sofrido um acidente só não foi pior do que descobrir que eles estavam a caminho do meu apartamento naquela tarde, com certeza para me dar mais algum sermão.

Senti um toque gentil em meu ombro. Virei meu rosto e me deparei com um dos amigos de meu pai. Simplesmente assenti. Eu só conseguia pensar em uma pessoa que eu gostaria que estivesse aqui comigo. A única capaz de me trazer algum conforto. Minha Elizabeth.

Subitamente, como se atendesse meu pedido, ela apareceu por entre as pessoas. Antes que fosse em sua direção percebi que não estava sozinha. Quando o vi ao seu lado senti minha fúria e razão voltar com tudo. Ele era o culpado por tudo isso e ela também. Foi por culpa deles que briguei com minha mãe e por causa deles que meus pais estavam chateados comigo.

Fui como um foguete até onde estavam. Minha raiva aumentando a cada passo. Quando me aproximei, ela
automaticamente levantou a cabeça e me encarou através dos óculos escuros que usava. Elizabeth se agarrou fortemente ao ser que a abraçava pela cintura, fazendo com que eu finalmente explodisse.

— O que está fazendo aqui? — perguntei entre dentes. Ela pareceu em choque com minha reação.

— Vim me despedir dos meus pais, Jughead — murmurou com a voz embargada.

— Eles são meus pais, não seus — respondi rude. — Você é só uma vagabunda que eles pegaram para criar por pena — disparei com desprezo. Antes que me desse conta, senti um golpe no meu rosto e caí no gramado sentindo o gosto de sangue na minha boca. Olhei para cima e vi o namorado dela ofegante, me encarando com um ódio mortal.

— Nunca mais diga isso seu verme! — esbravejou irritadiço. — OUVIU? — gritou e tentou se aproximar novamente, entretanto Elizabeth o segurou. Todos ao redor observavam a cena com curiosidade.

— James! Pare! — pediu segurando seu braço. Retirou os óculos e me olhou com os olhos vermelhos. Seu olhar me machucou muito mais do que o soco que havia recebido.

— Ele não vale a pena — soltou rispidamente me olhando com desdém.

— Você é insignificante, baixo e vazio, Jughead. Gladys e FP não mereciam um filho assim — Elizabeth disse amarga, fazendo com a dor em meu peito aumentasse.

— Faça muito bom proveito da sua vida frívola. Vamos, Jay — chamou o tal cara e o puxou. Ele a abraçou e ela colocou a cabeça em seu tórax. A cena fez uma pressão ainda maior se apossar do meu peito. Eu via a única pessoa capaz de me curar indo embora com outro, por minha culpa.

— Jughead — virei e vi um dos funcionários que estava encarregado de tudo me chamar. — Está na hora — avisou estendendo a mão na minha direção. Ignorei e levantei sozinho. Não precisava da compaixão de ninguém. Ainda mais de um simples empregado.

Retornei ao meu lugar e refleti sobre o que Annabelle havia dito. Pela primeira vez eu teria que concordar com ela. Meus pais não mereciam um filho como eu. Enquanto via os caixões sendo sepultados, senti que não era só eles que tinham morrido, mas eu também. Porque naquele momento percebi que tinha perdido tudo o que mais amava, meus pais e Elizabeth.

Logo após o sepultamento o braço direito de meu pai e advogado da empresa, John Carter, me chamou para conversar.

Com certeza para ler o testamento. Conforme o esperava, observava as gotas de chuva baterem na janela do escritório como uma forma de me distrair da dor. A chuva estava mais forte e parecia que os céus choravam a perda dos meus pais.

Última Chance - BugheadOnde histórias criam vida. Descubra agora