Capítulo 27 - Moedas

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LIANA


O restaurante que Harriet escolheu ficava a algumas ruas distante de onde eu morava, era em estilo francês. Mesas com toalhas brancas e cadeiras prateadas, as pessoas estavam dispersas em lugares afastados um dos outros, conversando em tom baixo.

Entrego o capacete a Willian que o pega e lança um olhar duvidoso para o interior do restaurante

- Acha uma boa ideia aceitar um convite de um Hayes?

- Na verdade ela não é mais um Hayes – eu o corrijo com um sorriso – Ela é uma Casey

Willian revira os olhos e eu ajeito o meu sobretudo preto antes de ir em direção a entrada

- Não quer mesmo que eu fique? – Willian pergunta de novo, e eu aceno me despedindo como resposta

Uma atendente vem até mim e eu lhe dou o nome de Harriet, ela me direciona até a mesa dela e eu dou um sorriso quando a vejo sentada com uma taça de vinho branca em uma de suas mãos. Apoiando-a se levanta e me recebe com um sorriso

- Olá Liana

- Olá – eu respondo e coloco minha bolsa em uma das cadeiras vazias me sentando com ela. Harriet me observa por um minuto e fala divertida

- Sabe, eu pensei por alguns minutos se você não iria desistir

- Porque eu faria isso? – eu pergunto e inclino a cabeça – Você disse que teria bolo, e meio que é a chave para me conquistar

Harriet ri baixinho e se inclina por sobre a mesa

- Eu tenho um segredo – ela sussurra e eu arqueio uma sobrancelha me inclinando também

- E qual é?

- Eu odeio lugares chiques demais – dou risada e ela faz uma pausa esperando que o garçom me sirva antes de continuar a falar – Eles são sufocantes, não acha?

- Tenho que concordar com você – eu respondo e tomo um gole da água ignorando o vinho – Mas me desculpe pontuar isso, mas esse é um restaurante propositalmente chique

- Ah, eu sei disso – ela diz e faz uma careta olhando ao redor – Mas como o dono é tio do meu marido eu meio que tenho que vir aqui de vez em quando

Pisco surpresa e ela sorri tomando um gole do seu vinho antes de suspirar e se recostar na cadeira

- Sabe porque eu te chamei aqui? – ela pergunta e eu balanço a cabeça negando

- Na verdade não, esperava que esse convite seria direcionado a minha irmã, não a mim

- Sim – Harriet faz uma pausa e olha ao redor do restaurante parecendo pensar no que dizer – Pensei nisso há alguns dias atrás, mas então eu direcionei esse convite a você por fim

Fico em silencio pensando em milhões de possíveis respostas a minha pergunta, mas nenhuma delas parece concreta, então eu resolvo perguntar em vez de questionar sozinha

- Porque?

- Porque os homens são previsíveis demais – ela responde me surpreendendo e eu olho confusa para ela

- O que quer dizer?

- Meu irmão é conhecido por todos como o cara mais taciturno que existe – Harriet começa e me olha, seus olhos mais astutos do que nunca – Mas surpreendentemente nesses dias ele está conversando mais do que o normal. Devo colocar essa culpa em você talvez?

Inteligente

Brinco com a haste da taça enquanto um sorriso brincalhão toma os meus lábios

- Sim, já ouvi dizer que eu sou muito irritante para alguém, mesmo que um santo, fique calado em minha companhia

Harriet ri quebrando a tensão e eu a olho, pensando que talvez a família Hayes não somente conquistou sua fama pela força bruta, mas também pela inteligência e perspicácia.

- Tenho certeza que Dreicon não resumiria sua convivência com você como irritante – ela diz depois de um tempo. Levanto um ombro casualmente e a olho

- Tem certeza absoluta disso?

- Verdade, talvez ele esteja um pouco irritado – ela diz e faz o seu pedido, logo em seguida faço o meu e me viro para ela de novo. Harriet se inclina apoiando os antebraços em cima da mesa e morde o lábio inferior – A verdade é que eu te chamei aqui por que eu acho que estão acontecendo coisas das quais ninguém tinha planejado

Mantendo minha expressão limpa, me inclino também para frente e baixo o tom de voz

- E o que seria?

- Pensamentos sobre uma possível troca de irmãs no planejamento do casamento – contraio a mandíbula com a resposta direta dela e Harriet percebe, ela inclina a cabeça sorrindo – Vocês dois são o mesmo lado da moeda, não é?

- Mesmo lado da moeda?

- Sim, sabe como é – ela diz e eu estreito os olhos esperando – Uma moeda possui dois lados, uma moeda não é original se não tiver o outro lado dela

- Aonde quer chegar Harriet?

- Em lugar nenhum – Harriet inspira me olhando – Só queria confirmar algumas coisas.

Fico em silencio e volto atrás me encostando na cadeira fria, meus dedos deslizam pelo tecido da mesa e eu encaro Harriet

- Você sabe que de acordo com significados a moeda tem duas faces, uma ruim e a outra boa? – eu pergunto e ela sorri acenando em afirmação – Então quem sou eu? A má?

- Não – ela responde ainda sorrindo – Não existe bom ou ruim, na moeda existe um equilíbrio. Não tão ruim e não tão bom – Harriet faz um movimento de linha e eu acompanho – É uma linha tênue, não acha? Vocês podem ser o equilíbrio um do outro

- Está enganada – respondo suavemente e ela pisca esperando – Não existe equilíbrio e também não existe a possibilidade de "nós".

- Porque não?

- Porque no mundo em que vivemos eu e Hayes fazemos parte de contratos e negociações – eu falo e ela franze a testa – O equilíbrio não existe a base de um contrato forçado

- Mas vocês não foram forçados a nada – ela diz e seus olhos se focam em mim – Ou estou enganada?

Fico em silencio e ela sorri suavemente, seus olhos brilhando de leve. Exalo bruscamente me preparando para responder, mas paro quando um homem para na nossa mesa. Olho para cima e arqueio uma sobrancelha quando vejo quem é

- CJ, mas que surpresa... – eu começo e ele rosna baixinho – Desagradável

- Você tem ideia do trabalho que eu tive para arrumar um pneu novo e que fosse original? – ele pergunta e sua expressão de raiva se acentua

- Na verdade eu tenho, ou acha mesmo que eu faria isso se não fosse te dar problema depois?

Ele dispara para frente e eu me inclino pegando minha adaga em minha bota, mas paro quando vejo três homens que estavam almoçando no restaurante criar uma pequena barreira impedindo o movimento de CJ. Harriet ao meu lado olha surpresa a cena diante dela

Me levanto e bato nas costas de um homem alto e loiro o afastando um pouco para o lado.

- Ok rapazes, sem brigas – eu falo com a voz suave. Olho para um CJ ofegante e estreito os olhos – Acha mesmo que poderia chegar até mim?

- Vagabunda – ele fala e um dos homens o soca no rosto, faço uma careta quando vejo o punho dele voltar vermelho

- Tirem-no daqui – eu comando e os homens saem com um CJ se debatendo entre eles. Volto para a mesa e vejo o olhar paralisado de Harriet segundos antes dela se recuperar e sorrir pigarreando

- Ele está bem irritado

- Ele vive irritado – respondo e bebo o restante da água

- Acho que você realmente tem o dom de irritar algumas pessoas – ela diz sorrindo e eu inclino a cabeça para o lado

- Já irritei você nesses poucos minutos?

- Na verdade não – ela diz e se inclina para frente – Mas as vezes posso ser tão irritante quanto você

Dou risada e me afasto deixando que o garçom nos sirva

O Par PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora