Capítulo 31 - Rabiscos

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LIANA


Pisco os olhos repetidamente e depois pigarreio enquanto meus pensamentos flutuam de um lado para outro. Olho para um Dreicon calmo a minha frente e pergunto com a voz oscilante

- Você está bem?

- Sim – ele diz confuso e eu aceno mordendo o lábio

- Não bateu a cabeça enquanto vinha para cá?

- Não – ele diz e se aproxima – O que...?

- Não vai querer saber o que eu estou pensando – eu falo e estreito os olhos tentando não pensar no motivo principal dele estar me pedindo em casamento – Porque mudou de ideia?

- Não é obvio? – ele pergunta e franze a testa dando mais um passo – Sua irmã e eu não conseguimos ficar nem dois minutos perto um do outro

- Isso não é o suficiente

- Liana...

- Não é o suficiente – eu repito e dou um passo para mais perto, meus punhos se formando – O que Marco lhe disse?

- Já falei para você

- Não, ele disse mais alguma coisa. O que foi que ele lhe disse?

- Liana – ele repete e percebe minha expressão, bufando ele continua – Ele disse que tinha informações para me dar, eu disse que não queria

- Porque?

- Porque o que?

- Porque você não quis? – eu pergunto minha boca ficando seca

- Ele iria me cobrar por essas informações e não estou a fim de dar esse gostinho a um inimigo meu

Encaro-o por alguns segundos e vejo sua expressão continuar a mesma, sua respiração tão regulada quanto antes. Relaxo a postura e movimento meus dedos tensos, enquanto penso em algo

- Não acho que devemos tomar uma decisão dessas no calor do momento – respondo por fim e ele estreita os olhos

- Nosso relacionamento não foi no calor do momento

- Foi sim, você admitindo ou não – ele abre a boca para discutir e eu o interrompo de novo – Nem comece Dreicon, você sabe que eu estou falando a verdade. Tudo isso começou por um impulso, não deve acabar por impulso também

- As máfias precisam se unir Liana

- Precisam de lideres com pensamentos e decisões racionais – eu ressalto e ele contrai a mandíbula

- Acha que o nosso casamento resultaria em algo irracional?

- Sim, principalmente se nos matássemos dois dias depois da noite de núpcias – eu comento ironicamente e vou até a outra porta abrindo – Vou tomar banho, vê se não mexe no que não deve

Dreicon resmunga algo, mas eu fecho a porta abafando seus comentários. Encostando a cabeça na porta fria tento localizar meus pensamentos e encaixa-los nos lugares certos enquanto tiro minha roupa e entro debaixo do chuveiro.

Lavando os meus cabelos esfrego até que toda a sujeira e fragmentos saiam, ignoro os cortes e saio debaixo do chuveiro com a pele fria e limpa. Seco meus cabelos com a toalha, e depois passo o secador o mais rápido que posso.

Coloco um sutiã e uma calcinha e me enrolo em um roupão branco enquanto saio do banheiro com o cabelo ainda úmido. Paro na entrada e cruzo os braços quando vejo Dreicon deitado de lado passando página por página do meu caderno pessoal.

- Está confortável? – eu pergunto sarcástica e ele nem ao menos levanta o olhar enquanto responde

- Sim, obrigada

- Me dê isso – eu falo e me movo para frente tentando pescar o caderno. Ele tira de perto das minhas mãos e passa outra folha, vejo a capa do caderno e solto um gemido por dentro quando vejo que o caderno é o que estava dentro da última gaveta – Dreicon...

- Esses desenhos estão ótimos Liana, você fez todos eles?

- Sim, agora me dê – eu falo e pulo para frente de novo, ele salta em outra direção e me encara divertido

- Porque está tão receosa? Tem algum segredo aqui? – fico em silencio e ele estreita os olhos – Desenhos dos antigos namorados?

- Um monte – eu falo soando séria e ele faz uma carranca enquanto passa as páginas mais rapidamente, salto para frente, mas é tarde demais, ele já chegou na ultima folha. Grunhindo vejo ele arregalar os olhos com o desenho e lentamente um sorriso toca os seus lábios

- Cacete – ele diz baixinho e eu suspiro aborrecida – Sou eu

O desenho que eu fiz foi de Dreicon há algumas semanas atrás, por meio de uma memória visual. Ele estava inclinado sobre a ponte no meio da pista de madrugada, o vento tinha bagunçados seus cabelos e seus olhos estavam completamente focados em algo a frente fazendo com sua expressão fosse intensa e crua. Eu tinha tentando reportar isso no desenho, rabiscando e apagando até que tivesse uma imagem tão clara quanto na minha memória.

E tinha conseguido

E o que ele estava vendo era o desenho inteiramente completo. E sem querer tinha visto uma parte completamente diferente de mim

- Você me desenhou – ele diz com a voz orgulhosa e eu reviro os olhos

- Sabe que isso não é nada demais, não é?

- Pra mim é – Dreicon levanta os olhos me observando e sua expressão antes passiva se transforma em algo feroz e intensa, assim como no desenho – Isso importa e muito para mim

- Não deveria

Tento arrancar o caderno de novo, ele se mexe tentando desviar, mas eu o empurro e coloco um pé derrubando-o no chão, ele me puxa junto e se impulsiona para o lado me prendendo no chão. Soco-o na barriga e prendo minha panturrilha em sua perna enquanto jogo meu peso sobre ele, Dreicon arfa e eu prendo seu peito com o meu peso, colocando uma perna de cada lado do seu corpo.

- Desista – eu falo e ele sorri ofegante

- Nunca

Ele me puxa com força e eu ofego quando nossas bocas se batem em uma disputa desenfreada.

Mas dessa disputa nós dois gostávamos de participar

O Par PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora