Lace and Silk

Lipgloss

Despediu-se do gerente e da outra garota que havia acabado de chegar para ocupar seu turno. Enquanto colocava a mochila nas costas e montava em sua bicicleta antiga, pedalou em direção ao apartamento em que morava.

Aquele era um bairro bom de residir. Deveria ser, claro, pelo preço que pagava apenas para dormir sob aquele teto. Virou a primeira esquina, então a segunda, e mais uma terceira. Bingo. O portão da garagem já estava aberto e ele acenou para a senhora dentro do carro que saía. Ela era uma moradora do terceiro andar, e Izuna sempre ganhava biscoitos dela durante o natal.

Estacionando sua companheira de viagens, amarrou a tranca e seguiu destino para o elevador. Não tardou para as portas se abrirem no oitavo andar, onde ele não precisou andar muito até alcançar sua porta.

Deixou a mochila sobre o sofá, largando na mesa o celular e as chaves. Foi direto até a geladeira, buscando um copo de água gelada. O dia estava quente e suas roupas pretas pareciam adorar reter todo o calor do universo.

Pegou uma das refeições prontas em seu freezer, colocando a embalagem dentro do microondas e foi para o quarto. Tirou a camisa durante o processo, apoiando-a contra a cadeira de rodas em frente à sua escrivaninha.

Seu apartamento não era grande nem pequeno demais. Perfeito para uma pessoa que às vezes recebia amigos. Caminhou até o único banheiro da casa — entre o quarto e a sala —, tomando uma ducha rápida antes. Era meio do verão e se tinha algo que detestava, era suar.

Seu dia era quase sempre corrido assim, mas as terças e sextas eram especialmente. Motivo? Seu cliente favorito...

Izuna Uchiha era um jovem adulto de vinte e quatro anos. Estudante de arquitetura em uma faculdade local, morava sozinho há três anos, pois tinha dois empregos. Um de meio período na loja de conveniência do bairro em que residia, e outro como camboy.

Sua especialidade era feminização. Seus espectadores o amavam tanto por seu corpo, quanto seu humor. E claro, suas lingeries, maquiagens e performances. Tinha descoberto por acaso, testado em um momento de tédio e acabou se descobrindo naquele universo secreto.

Ninguém o reconhecia, ninguém o julgava. Seu show não era do tipo explícito, com nudez e auto-inserção de todos os jeitos possíveis, como alguns outros canais do site. Ele dançava, simulava, conversava... Mostrar-se real, fazendo tudo como um filme caseiro, não fazia. E apreciava os assinantes que se mantinham ali firme e forte com ele por justa causa.

Sexo era o assunto principal, afinal, aquilo era um site pornográfico. No entanto, não se permitia resumir-se a isso.

O que o obrigava a voltar ao seu assinante favorito. Um de seus clientes fixos da semana, um homem que sequer sabia o nome, ele era o motivo de seu colapso. Todas as vezes em que eles faziam a chamada privada e seu tom de voz alcançava seus sentidos, Izuna se excitava de uma forma que nunca entendeu porquê.

Uma vez ele havia lhe feito gozar apenas por falar. Narrando todos os tipos de coisas eróticas de que gostaria de fazer consigo... Suspirou, ignorando os arrepios que vieram apenas com a memória já distante. Era esse tipo de poder que ele tinha sobre si. Maldito.

Secando-se, pegou sua lasanha ainda quente e foi para o sofá. Sentou de pernas cruzadas e enquanto procurava por algo divertido para ver na televisão, foi assoprando a comida. Quando Hora de Aventura apareceu na tela ele sorriu, colocando a primeira garfada na boca.

Estava quase na metade da bandeja quando seu celular tocou. Resmungou por ter de levantar, mas mesmo assim o fez.

— Alô.