Tonic

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Izuna tinha perdido a conta de quantas vezes questionou o que deveria sentir ao certo. Ali, sentado na varanda de casa com uma lata de cerveja esquecida na mão, ele ouvia os amigos falando e rindo, mas no fundo estava oco. E não fazia a menor ideia de como sair disso.

As férias terminaram há quase duas semanas, e hoje era a segunda sexta feira que Tobirama parecia não passar em casa. Ele sabia pelas luzes apagadas no apartamento ao lado, e também, claro, pela ausência do carro na garagem. Tinha descido lá todas as noites por volta de onze e meia apenas para verificar se ele havia chegado, e encontrar a parede vazia já era o resultado a ser esperado.

Sua mente continuava repetindo a conversa que dividiram no quarto. Todos os elogios, o tom de voz que ele usou, a forma como o brilho das íris tremiam. Gravou o aroma do perfume dele no fundo de seu cerne, tentando todos os dias manter aquilo vivo, embora sentisse que não importava o quanto lutasse, o cheiro se tornava cada vez mais difundido.

O que significava que ele também estava sendo. Deixado para trás, vivendo sua vida, exatamente como combinaram. Mas, porra, não deixava de ser horrível. Querer alguém que você não pode ter, pelas razões que não podiam. O problema em si nem era a diferença de idade, e sim a forma como aconteceu e o fato de que seus irmãos eram quase casados. Isso daria uma dor de cabeça tão grande... Madara faria um escândalo, já conseguia ver e ouvir. Mas, apesar disso, sentia que para o albino aquilo tinha um elemento a mais. Não fazia ideia do que poderia ser. Se era vergonha, raiva, ou algum outro sentimento.

Bom, não importava. O terceiro e último dia da viagem foi mais do mesmo. Os quatro passaram a manhã juntos, mas após o almoço se separaram. Izuna ficou o dia dentro do mar, saindo apenas para comer e se hidratar. Não fazia ideia de onde o loiro pudesse estar, o que era bom. Não desejava vê-lo, até porque teria que dormir mais uma noite naquele quarto e isso seria sufocante o suficiente.

Quando chegou a hora, eles enrolaram ao máximo e entraram no cômodo por volta das duas da manhã, e nesse instante o mundo pareceu parar de girar. Dividiram o resto do maço de cigarro na varanda, e Izuna enlouqueceu com a luta que via no corpo dele. E no seu. Os dois parados em pé, a fumaça adornando suas cabeças, a vontade de chocar os lábios gritava, a alma implorando por isso, pelo alívio. Izuna viu a ereção dele, sentiu o calor da respiração alta, e por um instante deu o primeiro passo, pronto para tocá-lo... Mas ele virou de costas, apagando o fumo e voltando para dentro do banheiro como se estivesse sendo queimado vivo.

Engolindo o resto de orgulho que tinha, se enfiou debaixo das cobertas e virou na direção oposta, encarando a parede até adormecer. No dia seguinte, voltou de carro com Madara, assim como na ida, e após entrar no apartamento, decretou que viveria pelas regras decretadas naquelas quatro paredes.

Acabou de verdade.

As aulas recomeçaram na segunda seguinte, e desde então sua rotina foi essa. Trabalho de manhã, descanso a tarde, faculdade a noite. Sequer conseguia ficar ativo no site, e isso era um problemão visto que boa parte do seu salário vinha dali. Sua vida parecia virada de cabeça para baixo. Evitava o olhar deles nos corredores, não se encontrava mais com Madara para almoços perdidos, não tinha a menor intenção de ir para bar algum com os garotos.

E por conta disso, eles encheram a paciência, convidando-o e reclamando em seu ouvido que ele estava doente, que não queria mais nada com a vida, que eles isso e eles aquilo. No fim, marcou uma pequena reunião em seu apartamento, e isso pareceu acalmar os ânimos. Tinha de confessar que se sentia um pouco melhor ouvindo as risadas e histórias de férias, mas ainda assim, uma parte muito grande sua não conseguia tirar os olhos da varanda escura.

Devia ser um maldito masoquista. Ou não ter nenhum pingo de amor próprio. Só podia ser, para ficar ali, olhando desse jeito. Esperando que ele apareça, bote a cabeça para fora da porta e lhe encare com a mesma dor que estava experimentando naquele segundo. Sim, queria ser confortado pelo sofrimento dele. Queria saber que o ele o queria com a mesma intensidade, precisava disso.

Lace and SilkOnde histórias criam vida. Descubra agora