Glitter

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— Me empresta aquele casaco com as pedrinhas no bolso?

— Pode pegar — Izuna disse ao apontar na direção do armário aberto. — Tá no canto perto do vestido rosa.

Obito agradeceu e saiu pela porta junto da bendita peça ainda no cabide de veludo. Respirando fundo, continuou a procurar pela calça jeans preta que queria no meio da pilha com mais umas oito calças jeans pretas, e após trinta segundos de terror puro, lembrou que talvez ela pudesse estar no varal lá na lavanderia.

Desistindo da missão "partes debaixo", optou por uma regata vermelha sangue, e por uma jaqueta lisa de couro negra — metade de seu guarda-roupa era daquele jeito e não tinha a menor pretensão de mudar, não importava quantas vezes seus amigos o zoassem. Trocando a cueca azul por uma cinza e mais confortável, cantarolou a música que tocava ao fundo enquanto ia até o banheiro, procurando seu frasco de perfume favorito e espirrando-o entre os pulsos, pescoço e nuca. Dali, foi direto para a lavanderia, encontrando o alecrim dourado pendurado exatamente onde imaginou. Pegando o coturno que estava largado por ali, e que agora estava seco e engraxado, como deveria ser, retornou ao quarto, finalizando a troca de roupas.

— Se eu ganhasse um real a cada vez que eu chamasse o seu nome hoje e você não ouvisse, eu já tinha alguns mil na minha conta — Obito zombou.

Levantando o olhar, encontrou-o apoiado no batente, encarando-o com desdém.

— Se você não quer ir hoje, é só falar.

— Não, eu quero. Eu só tô meio aéreo, não sei qual o motivo...

— Bom, nada que três doses de tequila não resolvam — ele sorriu. — Hoje tem sinuca, e hambúrguer... E vários homens gostosos só esperando pra descobrir os benefícios do meu... — ele pausou apenas pelo tempo suficiente de conseguir aumentar o sorriso perverso. — Beijo.

Izuna riu pelo nariz.

— Você é podre.

— E você não viveria sem mim. Bora. Itachi e Shisui já estão lá.

— Credoooo, ainda são onze e meia, que gente apressada.

— Vou fingir que não ouvi isso, senhor Senju!

Encarou seu reflexo ainda sorridente por conta das baboseiras que o amigo falava, e gostou do que viu. A roupa era uma escolha perfeita para aquela noite morna. Ignorou o fato de que seu estômago estava revirando desde a noite anterior quando dormiu na sala de Tobirama, ou melhor, desde quando pensara o que pensara durante a manhã, após dormir na casa dele.

Tinha levantado assim que ele entrou no banho, e sem se despedir, saiu do apartamento e fora andando mesmo até a faculdade, onde enfim conseguiu pegar seus pertences no escaninho. A viagem de volta foi tranquila e agradável, o vento produzido pelo movimento da bicicleta era uma certa forma de calmante e, apesar de não se considerar calmo, também não diria mais que estava à beira de um ataque.

Seu peito parecia que ia estourar enquanto buscava suas roupas ainda úmidas no varal dele, e sua pressão ameaçou cair quando ele vestiu a perna da calça. Durante todo o caminho — ida e volta, sua mente rodava, sem saber exatamente o que pensar. E agora, ali, enquanto se arrumava para um lugar que sabia que ele provavelmente estaria, seu coração o traía deixando-o refém da própria expectativa.

Nada foi dito entre eles, mas ouviu Madara falando a telefone com alguém sobre não ir ao bar da Mito hoje porque iria viajar com Hashirama para sabe-se lá onde. Era matemática básica: se Hashirama não estava na cidade, ou Tobirama se juntaria com a trupe ou ficaria sozinho em casa. E qualquer que fosse a opção escolhida, Izuna sentia em seu âmago que ele trombaria com o professor em algum momento daquela noite infernal.

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