DECISÃO

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Desde que nasci, até os meus seis anos, sempre acreditei que casamento era pra ser algo mágico. A junção de duas almas, um ato de amor supremo. Eu acreditava, sonhava com o dia em que eu iria encontrar minha alma gêmea e ter a oportunidade de me unir em uma cerimônia tão bonita.

Era meu sonho de princesa.

A partir dos sete anos de idade as coisas mudaram drasticamente. Casamento não era mais sobre amor, união. Era uma obrigação. Parece ridículo contar algo assim, mas isso não é uma brincadeira.

Se casar se tornou um ato temido por muitos, inclusive por mim.

Com o novo governo, veio incluso uma ditadura. Garotas a partir dos dezesseis anos deveriam encontrar um parceiro para "constituir uma família". Se não houvesse um casamento no ano em que a moça completa dezesseis anos, a partir dos dezessete o próprio governo se encarrega de nos encontrar um marido. Homens, por muitas vezes, muito mais velhos e totalmente desconhecidos pela noiva ou sua família.

O ano dos nossos dezesseis era conhecido como o ano da Caça ao Casamento.

O número de mulheres mortas nas mãos de maridos era absurdamente grande, o de órfãos também. Mas se engana terrivelmente se acha que eles eram punidos. Havia sempre uma desculpa, das mais fajutas e ridículas, o crime sequer chegava a ser investigado.

Era isso que eu temia.

Como uma garota de dezesseis anos poderia se casar com um homem de quarenta e estava tudo bem? Não estava, definitivamente. Mas acredite ou não, algumas pessoas concordavam com isso.

Quando veio o novo governo, minha família se mudou, junto comigo, para uma cidade minúscula no interior.

Minha vizinha era fascinada pela ideia de se casar. Coisas que sua família colocava em sua cabeça.

"Você tem que agir desta forma, Kate"

"Olha só como minha Kate é habilidosa, consegue fazer tanta coisa ao mesmo tempo"

"Vai ser uma ótima esposa um dia, vai cuidar tão bem dos filhos e do marido!"

Era o que ouvíamos diariamente de sua mãe. A garota tinha doze anos, quem, com doze anos deve pensar em se casar e se tonar uma escrava?

Aquela era uma forma de opressão, e uma extremamente escancarada.

Mas Kate não sofreria com a Caça ao Casamento. Era tinha muitos pretendentes.
"Qual homem não se sentiria atraído pela garota de cabelos dourados, olhos verdes e uma pele de porcelana sem uma sequer cicatriz?" Sua mãe dizia, quando ela tinha dez anos.

Dito e feito! Kate era um ano mais velha que eu, quando ela fez quinze, estava se casando.
A idade mínima para a união era catorze. A máxima era dezessete.
O homem que ela se casara tinha dezenove. Um jovem forte, costumava trabalhar como lenhador. Para uma cidade do interior, aquele trabalho era muito bem visto, nosso Éfron era um país naturalmente frio.

Garotos eram perdoados por um tempo um pouco maior, tinham até os vinte e um para encontrar uma parceira, essa era a maioridade, aos vinte e dois seria o marido desconhecido de alguma garota.

Eu sei que falei sobre homens de quarenta, e eu não menti. Esses eram os homens que geralmente perdiam suas esposas. E eles eram muitos.

Ver Kate se casando fora o estopim para que eu ficasse paranoica. Dalí a dois anos eu deveria me casar. Eu não tinha nenhum pretendente.

Um ano se passou e eu ainda não tinha um sequer flerte de adolescência.

Meus pais não gostavam disso, nem um pouquinho. Mas infelizmente não havia muito o que eles poderiam fazer sozinhos. Seriam presos, ou pior, seriam assassinados.

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