Havia dois fatores que Kihyun prezava mais do que tudo em sua função como vendedor. O primeiro deles era a cordialidade. Ser gentil com seus clientes, através das cartas de resposta ou quando os recebia em sua loja, ainda que preferisse fazer vendas à distância.
O segundo era sua rotina. Abria a loja em determinados horários, atendia a pedidos em determinados momentos, e seguia seu cronograma com perfeição, para não atrasar nada nem causar inconveniência a si mesmo e aos seus clientes. Kihyun não abria exceções, ou pelo menos, não pretendia.
Nenhum desses seus preciosos fatores era relevante quando Minhyuk do clã do Sol visitava.
— Bom dia, Kihyun! — sua voz alta preencheu a entrada da loja, trazendo consigo uma iluminação forte de uma das últimas manhãs de verão, e Minhyuk entrou de braços abertos como se esperasse ser aclamado.
Tudo que recebeu em resposta foi um olhar feio de Kihyun, lançado por cima de uma caneca de porcelana tingida de verde.
— São sete e meia da manhã, Minhyuk — ele grunhiu, ainda enrolado em seu roupão cor de vinho, as calças do pijama e pantufas aparecendo. Ele deveria ter previsto que o mago iria surpreendê-lo de alguma forma. Pelo menos dessa vez – ele tentou ser positivo – Minhyuk não tinha entrado pela janela com sua vassoura recém-comprada.
— Eu avisei que vinha — ele levantou os ombros, como se fosse o suficiente para que fizesse como bem entendesse.
Minhyuk do Sol era mais alto que Kihyun, um tanto magro, com cabelo castanho da cor de amêndoas e um sorriso mais brilhante que a própria estrela. Parecia que nunca havia um dia ruim quando ele estava por perto (na opinião de outras pessoas, não de Kihyun), e ele sempre iluminava todos os lugares que adentrava. Também graças à sua tagarelice, era exímio mensageiro (ou fofoqueiro, como Kihyun gostava de apontar) e sempre se encarregava de estabelecer relações entre pessoas. O clã do Sol costumava ser o mais aberto a se mostrar para os outros e conhecer novos magos, e seus membros não eram muito secretos sobre suas práticas.
— Você não precisava ter vindo tão cedo. Você sabe que eu não abro a loja antes das nove horas — Kihyun continuou emburrado, terminando seu café e fazendo a xícara subir para sua cozinha com um aceno da mão. Minhyuk apenas sorriu.
— Não há hora melhor para começar o dia do que quando o dia começa! — respondeu, enfiando a mão no bolso de uma jardineira jeans que usava. As calças se conectavam com suspensórios, uma das alças pendurada em seu ombro direito, e a outra caída – provavelmente uma decisão estilística que estava além de Kihyun para compreender. O mago, no entanto, estranhou a combinação de vestimenta de Minhyuk, acostumado a vê-lo em suas vestes azuis claras.
— Além disso, — Minhyuk continuou, andando ao redor da loja e observando as novas aquisições de apanhadores-de-sonho que o lojista conseguira — você nem mesmo abre aos sábados. — completou, com um sorriso travesso.
— O que diz muito sobre minha boa vontade em estar conversando com você agora sem te meter um chute nas canelas — Kihyun disse. — Vou me trocar, me dê cinco minutos.
Precisamente depois de cinco minutos Kihyun retornou, encontrando Minhyuk brincando com Yogshim no chão. Assim como tinha muito jeito com pessoas, o membro do clã do Sol se dava bem com animais, e como sua raposa-do-deserto vinha originalmente de uma região quente e repleta de sol, a afinidade entre os dois era grande.
— Achei que você tinha dito que ia trazer alguém para que eu conhecesse? — Kihyun indagou, cruzando os braços. — Por acaso é um mestre de invisibilidade?
— Ha, ha, ha. Muito engraçado, Kihyun — Minhyuk levantou-se, rolando os olhos. — Ele está lá fora, distraído com seu jardim.
Indicou a porta com a cabeça, deixada aberta e permitindo que a luz solar, dissipando a névoa típica da manhã, invadisse o cômodo e colorisse tudo em tons amarelados e quentes. Sendo seguido de perto por Minhyuk, saiu para seu jardim.
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A Casa do Bosque
FantasySe o viajante virar à esquerda na terceira macieira, à direita no carvalho seguinte e contornar o quarto sabugueiro em seu caminho, talvez não encontre nada. Mas se ele souber onde quer chegar, souber o que precisa e o que procura, e seguir estes me...