🌔 O Passado 🌔

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O silêncio entre Kihyun e Hoseok se prolongou por longos segundos, sendo intercalado apenas pelo gotejar incessante e forte da chuva no telhado da Casa, e pela respiração pesada e ruidosa de Hyunwoo, ainda deitado no chão.

Com um suspiro profundo, Kihyun esfregou o rosto com a palma das mãos e deu leves tapinhas em suas bochechas, aproximando-se mais uma vez, com um aperto no coração, de Hyunwoo.

— Isso não é importante agora. Vamos tentar fazer algo por ele, apesar de ser impossível quebrar a maldição — sussurrou, enquanto mentalizava um feitiço de calma e depositava a mão na testa úmida do mago da Montanha. — Você pode me ajudar a levá-lo para o quarto onde você e Hyungwon ficaram? É só ir por aquela porta preta e dar duas batidas na madeira à direita da maçaneta, pensando no cômodo — ele instruiu.

— C-Claro Ki — Hoseok concordou, parecendo recluso e distante. Ainda assim, com seus braços fortes, ergueu Hyunwoo mais uma vez e olhou para o mago da Casa do Bosque. — Você vem?

— Vou separar uns ingredientes para uma poção rápida, e para outros feitiços. Eu vou tentar o que sei — foi a resposta, dita para o chão de madeira da Casa, onde os olhos de Kihyun estavam fixos. Hoseok acenou com a cabeça, sem que o outro visse, e passou a movimentar Hyunwoo com um baixo grunhido, seguindo as direções que Kihyun lhe passara.

O dono da casa seguiu pela outra porta, alcançando a sala dos mantimentos, e rodou no lugar, tentando relembrar tudo que poderia usar para ajudar Hyunwoo. Ele não tinha ideia do que era a mancha escura sobre seu peito, e não sabia que tipo de maldição poderia ter acometido o outro, por isso era difícil filtrar o que deveria levar.

Seu cérebro parecia ter entrado no modo automático depois de fazer as peças se encaixarem. Ele estava amaldiçoado. Ele não sabia quebrar maldições. Hyunwoo estava amaldiçoado. Ele não sabia quebrar maldições. A sua maldição estava o perseguindo, e não parecia que ele tinha muito tempo restante. Quanto tempo até ela o alcançar? Ela já o havia encontrado, já havia dito que achara seu caminho até ele. Quanto tempo mais? Ele conseguiria fazer algo por Hyunwoo, nesse curto momento restante?

Sentindo o nó em sua garganta se intensificar, Kihyun parou de pensar. Moveu-se agilmente entre as gavetas, focando-se em ingredientes de tranquilidade, de recuperação, de remoção do mal, de proteção. Tudo que coube num cesto de vime, ele retirou das gavetas e separou para levar para o quarto.

Hyunwoo estava devidamente acomodado, e Hoseok, com seu sangue mágico, aquecera o quarto apenas com sua presença e poucas velas acesas. Ele estava ao lado da cama do amigo, tendo um pouco de água fria numa bacia e um pequeno tecido, que usava para refrescar a testa do acamado. Hoseok apenas levantou os olhos quando Kihyun entrou no quarto. O mago depositou o cesto no balcão perto da cama e agrupou rapidamente os ingredientes que utilizaria.

Não aguentando o silêncio sufocante entre ele e seu velho amigo, pigarreou e perguntou:

— Como você encontrou Hyunwoo?

De costas, apenas ouviu o breve suspiro de Hoseok antes de este começar a falar.

— Eu e Hyungwon estávamos preocupados com você já tem um tempo. Hyungwon precisou ver algo no Mar, e viemos até o Bosque para utilizar a passagem da palmeira, mas ao invés de ir com ele, decidi passar aqui nem que tivesse que quebrar sua barreira de novo. Quando estava próximo das macieiras, vi um vulto e o segui por um tempo, até identificar o capuz marrom e ver que era Hyunwoo. Eu estava prestes a cumprimenta-lo e me aproximar quando algo escuro o atacou — a voz de Hoseok tremeu de leve, e Kihyun sentiu sua pele se arrepiar. — A chuva estava muito forte e com o vento eu não conseguia ouvir nada, mas Hyunwoo caiu e quando cheguei até ele não havia traços do que o atacou. Ele já estava desacordado e eu imediatamente o trouxe pra cá.

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