Inquieto com a súbita realização, Kihyun voltou-se novamente para Hyunwoo deitado na cama. Suas roupas estavam ainda um tanto encharcadas, com várias camadas devido ao frio, um pouco empastadas de lama e folhas secas de quando ele caíra no chão do Bosque após ser atacado. Com o cérebro a mil, conectando diversos pontos que antes pareciam apenas informações jogadas, uma suposição sobre o que estava havendo de verdade surgiu no canto de sua mente.
Hoseok o observava atônito, incapaz de acompanhar o grande fluxo de informações que se passava na cabeça do amigo. Sua mudança de humor e proatividade também o surpreendeu, vendo que uma nova chama se instaurara em Kihyun. Isso lhe dava esperanças de que Hyunwoo poderia ser salvo, então mesmo sem entender, ele respirou um pouco aliviado.
Estar aliviado não foi o suficiente para impedir que uma exclamação indignada escapasse de sua garganta quando Kihyun começou a despir o mago da Montanha.
— Kihyun!! Você não pode fazer isso com uma pessoa desacordada! — ele se exasperou, se aproximando e segurando o pulso de Kihyun. O mago do Bosque o olhou de sobrancelhas franzidas, fazendo Hoseok corar.
— Eu preciso procurar algo nos bolsos dele. Me ajude aqui, preciso tirar esse casaco pesado — ordenou, sem mais nenhuma explicação. Hoseok concordou, apressando-se em apoiar o corpo do mago desacordado. Por sorte, seus braços fortes eram capazes de sustentar o peso de Hyunwoo sem problemas. O mago da Montanha franziu um pouco suas feições, mas não expressou nenhum sinal de consciência.
Tendo o casaco em mãos, Kihyun fuçou todos os bolsos, visíveis e presumidamente invisíveis, utilizando-se de feitiços silenciosos de busca, até que seus dedos gelados fecharam-se num objeto pequeno e liso, um tanto quente considerando a temperatura ambiente e do casaco gelado pela chuva da tempestade. Puxando a mão de dentro do bolso, observou com admiração um fragmento de pedra escuro que se encontrava em sua palma. Segurando-o com a ponta dos dedos, colocou-o contra a luz das velas na cabeceira da cama, e viu o interior da pedra explodir em cores vivas e quentes, como um magma movendo-se no subterrâneo.
A pedra do vulcão.
— Eu sabia — sussurrou para si.
— Hmm, Ki? — Hoseok chamou, um pouco hesitante, fazendo a atenção do mago do Bosque se desviar. — Desculpe, mas eu não estou acompanhando o que está acontecendo — ele coçou a nuca, parecendo embaraçado.
Kihyun estendeu a pedra e deixou-a cair nas mãos em concha de Hoseok, que a observou ainda confuso.
— Hyunwoo veio até mim pela primeira vez em busca de ajuda para encontrar a pedra do vulcão. Essa pedra. Parece que é uma herança de família que lhe foi tirada há muitas gerações, e que aumentaria exponencialmente seus poderes como preparador de poções. Recentemente eu encontrei pistas sobre o paradeiro de alguns fragmentos e Hyunwoo foi atrás delas. Creio que vinha hoje à noite para me mostrar que havia conseguido recuperá-la — Kihyun explicou brevemente. Respirou fundo, observando o rosto de Hyunwoo e a mancha em seu peito, que continuava imutável.
Lembrou-se de Hyunwoo dizendo em sua carta que não fazia mais tanto questão da pedra agora, que havia encontrado algo mais. Pensou em sua proposta de trabalharem juntos, como fizeram com o Feitiço do Voo e a Poção da Leveza. Pensou em uma vida com Hyunwoo como seu parceiro, e todos os dias que se seguiriam nela.
O quanto ter encontrado a pedra haveria lhe custado?
— E você acha que ele foi atacado por conta dessa pedra? Mas o que a sua maldição teria a ver com Hyunwoo se tornando mais poderoso? — Hoseok continuava sem acompanhar o rápido desenvolvimento do que lhe era revelado.
Kihyun levantou-se, começando a caminhar lentamente pelo quarto, tentando colocar os pensamentos em ordem para que ficasse claro para Hoseok, e para que ele também decidisse o que era o melhor a ser feito dali pra frente. Batucando de leve seu lábio inferior com a ponta dos dedos, demorou uns longos segundos antes de respirar fundo e deixar os ombros relaxarem.
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A Casa do Bosque
FantasySe o viajante virar à esquerda na terceira macieira, à direita no carvalho seguinte e contornar o quarto sabugueiro em seu caminho, talvez não encontre nada. Mas se ele souber onde quer chegar, souber o que precisa e o que procura, e seguir estes me...