O inverno visivelmente se aproximava. Os dias começavam a encurtar, de pouco em pouco, repletos de ventanias cortantes e geladas, e as árvores do Bosque já tinham se avermelhado e alaranjado em um espetáculo de cores vibrantes, prontas para se desfazerem de todas as suas folhas para enfrentarem o período gélido. Os galhos se transformavam lentamente em garras afiadas, nus e retorcidos, e o chão afofava-se com camadas e camadas de folhas secas, que inevitavelmente acabavam sendo levadas pelo vento para os lugares mais inconvenientes.
Kihyun não gostava dessa época do ano, pois a falta de vegetação ao redor da Casa a deixava muito mais vulnerável e à vista. No entanto, também facilitava a ele avistar o que estava espreitando no Bosque.
Em meio ao outono, estava ocupado varrendo a entrada da Casa quando avistou dois vultos passando por entre as árvores do Bosque. Mesmo sabendo que havia aperfeiçoado e reforçado seus feitiços de defesa, e que provavelmente ninguém era tão bom quanto ele nesses feitiços, portanto era impossível que chegassem até ali com más intenções, os cabelos de sua nuca se arrepiaram em aflição. Ele não costumava ser medroso, mas se precavia. Depois do sonho que tivera, todo cuidado era pouco.
Seus ombros só relaxaram quando os vultos chegaram perto o suficiente para que ele reconhecesse o andar esguio de Hyungwon e o rosto de Hoseok, expressando confusão enquanto segurava uma vareta bifurcada nas mãos.
— Kihyun! — o último disse, alívio soando em sua voz. Ele andou apressado por entre as flores magicamente mantidas e a horta até alcançar o outro mago, parecendo preocupado. — Por que foi tão difícil nos localizarmos dessa vez? Quase achei que algo ruim tivesse acontecido e você tivesse sumido.
— Ele estava pronto para encontrar a Casa em ruínas, apesar de eu ter dito que ele provavelmente só contou errado quantas macieiras tínhamos passado — Hyungwon disse, abanando a mão na frente do rosto e rolando os olhos.
Hoseok se voltou pra ele, parecendo um pouco ofendido.
— Quem mandou ficar me distraindo! Se você não tivesse-- — Hoseok se interrompeu, fechando os lábios em uma linha fina como se um encantamento os tivesse selado, ao mesmo tempo em que suas orelhas irrompiam em uma cor vermelha intensa. Hyungwon arqueou uma sobrancelha, desafiando-o.
— Se eu não tivesse o quê, Seok?
— Podem me poupar de ouvir quaisquer detalhes a respeito do que estavam fazendo perdidos no Bosque. Eu definitivamente não quero saber nada disso — Kihyun alfinetou, olhando de um para o outro com diversão. Os dois voltaram-se para ele, Hyungwon parecendo tão divertido quanto Kihyun ao alfinetar seu parceiro, e Hoseok com o olhar de frustração arredondando-se em seu rosto, causando risos nos outros.
— De qualquer forma, por que você aumentou os feitiços de proteção? Eu estou sentindo a ponta do meu nariz coçar até agora por causa deles — Hoseok insistiu, ajeitando a grande mala nas costas. Kihyun encaixou a vassoura ao lado da porta onde normalmente a guardava, e espanou as mãos na frente de suas vestes.
— Vamos entrar para uma xícara de chá?
Ao contrário do que fizera com Minhyuk e Jooheon, Kihyun levou Hoseok e Hyungwon para a cozinha de sua própria habitação. Os dois não se impressionaram nem um pouco com a amplitude de produtos de Kihyun, e Yogshim pulou nos braços de Hoseok sem hesitação. A familiaridade da visita dos dois era clara nesses pequenos gestos.
Essa cozinha era menor, igualmente clara, e possuía diversos vasos com temperos e ervas culinárias ao redor das janelas. Ela ficava voltada para os fundos da Casa, onde uma clareira se estendia por vários metros, se tornando um ambiente perfeito para feitiços elaborados que demandavam espaço.
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A Casa do Bosque
FantasySe o viajante virar à esquerda na terceira macieira, à direita no carvalho seguinte e contornar o quarto sabugueiro em seu caminho, talvez não encontre nada. Mas se ele souber onde quer chegar, souber o que precisa e o que procura, e seguir estes me...