A Casa do Bosque

🌖Terceiro Dia da Décima Primeira Lua Minguante🌖

O ar cheirava a tempestade. As janelas de vidro da Casa do Bosque tremelicavam com o vento uivante que açoitava as árvores, apesar de nenhuma gota de chuva ter alcançado o solo ainda. O dia já curto do fim do outono parecera ainda mais curto com o céu escurecendo cedo, e apesar de ser apenas o começo da noite, Kihyun tinha todas as velas acesas pela casa enquanto terminava de organizar os últimos pedidos da semana.

Os últimos dias haviam sido suspeitosamente pacíficos, com uma quantidade regular de pedidos sendo recebidos e enviados, seus novos produtos que se utilizavam do estoque adquirido no Mercado sendo amplamente requisitados pelos costumeiros clientes e alguns novos. Kihyun esperava encerrar a noite de sexta-feira com tranquilidade, porém parecia que algo diferente estava reservado a ele.

BAM.

Não foi um som real, mas parecia ter sido o que ecoou pelos ouvidos de Kihyun ao ter seu coração saltando pelo peito em surpresa. Um de seus feitiços de proteção ao redor da Casa havia se quebrado – por intervenção externa.

Levantando-se com tanta pressa da cadeira que a mesma tombou ao chão, o mago correu até a porta, preparando alguns feitiços de defesa que pudesse usar contra o que quer que fosse que tentava invadir seu terreno. Ainda havia outras barreiras a serem quebradas antes que chegasse a Casa, mas ele não daria abertura para que se aproximassem ainda mais.

O vento fustigou seu rosto quando ele abriu a porta, diminuindo a iluminação atrás de si para que pudesse enxergar melhor o bosque escuro à sua frente. Yogshim se encarrapitara em seu ombro, a cauda espichada e as orelhas abaixadas em uma postura preparada para o ataque.

— ...n!! K... — algo parecia soar entre as árvores, um som trazido pelo vento, e Kihyun apertou os olhos tentando fazê-los focar em qualquer movimentação diferente do cenário.

— Kihyun!! — dessa vez ouviu claramente, uma voz definitivamente humana. Não era o tom alarmante que ouvira em seu sonho, e ela soava bastante familiar. — Kihyun?!

— ...Hyunwoo? — Kihyun sussurrou para si. Sua pele se arrepiava de frio e seus olhos ardiam com a secura do ar e intensidade do vento. Seu coração ainda batia forte no peito devido ao susto de estar sob ataque – exceto que talvez não fosse o caso? O que Hyunwoo estaria fazendo ali tão subitamente? Precisaria de ajuda? Seu tom de chamado não parecia desesperado, mas ele parecia estar tentando alcançar Kihyun apesar de saber que o mago teria preparado vários feitiços de proteção.

Mas se era Hyunwoo, se era mesmo ele, não havia por que Kihyun estar em alerta daquela forma. Ele não poderia deixar o mago da Montanha para fora na potencialmente pior tempestade do ano. Lentamente, ele começou a entoar o enfraquecimento dos feitiços, contudo sem se precaver contra uma possível armação. Ele conhecia magos incrivelmente talentosos e mal intencionados que não teriam nenhum problema em encantar suas vozes para soar como o de conhecidos.

Assim que desfez o terceiro feitiço, uma luz de lampião surgiu na entrada de seu terreno, sendo trazida por um homem alto e de proporções fortes. Conforme ele se aproximava, Kihyun reconheceu Hyunwoo, e só então seu coração se acalmou o suficiente para Yogshim parar de rosnar no pé de seu ouvido.

— Kihyun!! — Hyunwoo gritou mais alto que o uivo do vento, que parecia ter se tornado ainda mais alto nos últimos segundos. — Desculpe! Eu sei que não avisei que viria!

— Está tudo bem, Hyunwoo! — Kihyun gritou de volta, acenando. Ainda estava em pose de invocar rapidamente um feitiço caso fosse necessário.

Mas não precisou. Assim que alcançou a soleira da entrada, Hyunwoo trazia um largo sorriso em seus lábios e era ele mesmo, descabelado devido ao vento e parecendo um tanto apressado. Nenhum truque, nenhum encantamento. Yogshim saltou para o chão e quicou para pular no braço livre do mago da Montanha, confirmando para Kihyun que era seguro.