Kihyun observou as costas largas e nuas de Hyunwoo se afastarem aos poucos enquanto o mesmo saía das águas frias e cristalinas do pequeno lago em que se banhavam. As duas cachoeiras que desembocavam naquele lago, uma de cerca de dez metros de altura e a outra de mais de trinta, juntamente com o gorjeio dos inúmeros pássaros ao redor da mata e de outros animais terrestres, criavam uma sinfonia quase paradisíaca.
Kihyun e Hyunwoo eram os únicos ali, apesar das Duas Cachoeiras ser um ponto de energia mágica muito conhecido na região das Montanhas e frequentemente receber visitas de magos de diversos clãs, peregrinos e outros seres mágicos. Talvez Hyunwoo, como um mago influente do clã da região, tivesse algum dedo naquilo e conseguira um tempo a sós para eles.
O mesmo Hyunwoo que agora enrolava uma pequena toalha ao redor de seus quadris, ainda expondo pequenas marcas avermelhadas em sua nuca e pescoço, os cabelos pingando e fazendo as gotículas escorrerem por sua pele bronzeada. Kihyun afundou metade do rosto da água, escondendo tanto seu sorriso quanto refrescando o calor em suas bochechas. Hyunwoo espiou o mago do Bosque por cima dos ombros, apertando seus olhos em um sorriso alegre e envergonhado.
— Por que está se fingindo de jacaré, Kihyun? — perguntou em um tom jocoso, se virando e puxando suas vestes para perto de si.
— Estou tentando absorver tudo que for possível dessas águas — Kihyun disse, tirando a cabeça da água e então jogando o corpo para trás, passando a boiar e observar o céu azul cercado pelas copas latifoliadas das árvores. Raios de sol da manhã infiltravam o pequeno oásis dos dois e borboletas coloridas circulavam por todo o ambiente.
Hyunwoo não respondeu, suas feições contraindo-se em uma expressão levemente preocupada enquanto observava o outro flutuar pelas águas claras. As cachoeiras agitavam e ondulavam o lago na proximidade das rochas, fazendo diversos respingos atrapalharem a visão ao mesmo tempo em que pequenos arco-íris se formavam, mas a parte onde Kihyun se encontrava já era calma o suficiente para que o mago passasse horas boiando enquanto olhava o céu.
— Kihyun — ele o chamou, atraindo sua atenção e fazendo com que ele se virasse para ele, movendo seu corpo para baixo d'água de forma que seus ouvidos ficassem descobertos. — Não fique muito tempo na água ou vai virar uma ameixa seca — Hyunwoo brincou, terminando de se vestir. — Vou andar na mata para procurar uns ingredientes que preciso enquanto estamos por aqui, você quer ir junto?
— Pode ir na frente, Hyunwoo — Kihyun disse, sorrindo e começando a se aproximar da beirada do lago. Seus dedos realmente estavam bem enrugados. — Eu vou me secar e espero você retornar aqui. Quero ver as cachoeiras mais um pouco.
— Está certo — Hyunwoo hesitou por um breve momento, mas sorriu e jogou a toalha para que Kihyun se secasse quando o mesmo saiu da água. Com dois passos rápidos, aproximou-se do mago e depositou um beijo em seus lábios gelados e úmidos. — Volto já.
— Tome cuidado — Kihyun falou, sorrindo e vendo-o se afastar em passadas largas, levando apenas seu cinto de ingredientes e uma sacola de couro.
Assim que Hyunwoo se afastou o suficiente para que os passos não fossem mais ouvidos, Kihyun soltou um suspiro pesado e se sentou em uma das pedras, enrolado na toalha. Ele contemplou a beleza do lugar onde estava, assistindo à queda d'água e seus efeitos.
Por quase toda sua vida, Kihyun não conhecera o mundo. Crescera no Clã das Vozes, um vilarejo simples, com casas iguais para todos os lados, o largo teatro no centro com suas fileiras de assentos em pedra e o grande palco onde os melhores bardos sempre realizavam suas apresentações. Não havia muita floresta ao redor, nem mar, nem lagos. Era apenas um vilarejo.
Quando fugiu, estava tão atormentado que mal observou as regiões pelas quais passara, focando-se apenas em ir para longe, longe, longe. Finalmente alcançou o Bosque, que lhe encantara o suficiente com sua diversidade de árvores, animais, arbustos. Já era muito mais do que Kihyun explorara a vida inteira e, ficando por lá, nunca tivera a oportunidade – e a coragem – de sair. No máximo, visitava a Cidade para mantimentos e pequenas pesquisas, ou outros territórios apenas para o Mercado do Crepúsculo.
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A Casa do Bosque
FantasySe o viajante virar à esquerda na terceira macieira, à direita no carvalho seguinte e contornar o quarto sabugueiro em seu caminho, talvez não encontre nada. Mas se ele souber onde quer chegar, souber o que precisa e o que procura, e seguir estes me...