Capítulo 3

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A viagem foi desgastante. Eu atravessei o país e admirei diferentes paisagens, tudo foi incrivelmente arrebatador. Eu fui apenas mais uma humana em meio a multidão, sem todos os olhares atraídos pelos Cullen's. Eu pude ser natural, sem planejar quais atitudes tomar ou qual gesto seria mais apropriado. As comidas pareciam ainda mais saborosas, talvez o gosto de liberdade tenha influenciado.

Eu admirei delicados pássaros voando e ganhando os céus, sendo verdadeiramente as criaturas livres e independentes que tiveram a benção do Criador. Eu nunca poderia agir com tanta espontaneidade, mesmo que tentasse e insistisse durante anos. Estou quebrada, nada parece ser capaz de tapar o vazio deixado por aqueles que amei intensamente. A solidão era uma companhia amistosa.

Ela me abraçou quando mais precisei de ajuda, ela me acolheu quando chorei e orei ao céu questionando os motivos de tanta dor em minha breve existência. A solidão me mostrou que poderia ser amigável, eu senti a presença do vazio em todos os lugares. Eu poderia ter a companhia de centenas de pessoas, mas não importava, elas não me viam de verdade. Eles não eram capazes de enxergar.

Eu precisava de ajuda, um simples olhar bastaria, uma palavra de incentivo. O irônico é que a primeira pessoa que realmente ouviu os gritos silenciosos de desespero, foi capaz das atrocidades que destruíram meu coração. Seu abandono foi o estopim, Edward quebrou tudo de bom que havíamos construído. E Bella agiu como uma avalanche descontrolada. O medo de falhar novamente é gigantesco.

Uma parte de mim está assustada, meu cérebro insiste em pregar peças. As vozes me dizem que é questão de tempo até que outros problema apareçam. Eu não posso falhar, não de novo. É como se todas as emoções que eu reprimi durante anos tivessem encontrado um meio de se libertarem. As dores escondidas e guardadas retornaram ainda piores. Talvez eu não devesse ignorar o que sinto.

Abandonar Forks foi o primeiro passo, o próximo é buscar ajuda especializada. Eu não pretendo cometer os mesmos erros, anular os traumas vividos e fingir normalidade. Eu serei a melhor versão de mim mesma. Serei forte e corajosa, destemida e independente. Eu quero ser o sonho e pesadelo de muitos, como uma sereia mística, atraindo homens com sua voz e beleza, mas os condenando.

Eu conheci o lado obscuro do homem e de criaturas sobrenaturais, não aquele onde o instinto assassino assume o controle. Eu vi os monstros reais andando e interagindo com as almas de luz, sorrindo como se pudessem ver os futuros destruídos e acabados. É inevitável imaginar como um pequeno desvio irá mudar futuros acontecimentos. O que aconteceria se Bella não tivesse aparecido?

Eu estou tentando seguir em frente, juro que estou me esforçando ao máximo, mas os meus pensamentos não ajudam. É estranho o modo como um pequeno objeto trás histórias que aconteceram ao lado dos vampiros. Tudo é um emaranhado repleto de confusão, o meu psicológico parece se divertir causando esses momentos de dejavu. A distância entre Forks e eu tem sido insuficiente.

Entretanto, contra todas as perspectivas do destino, chegar em Nova Orleans tornou as lembranças menos sensíveis. A cidade tem a atmosfera acolhedora e vibrante, eu me sentia conectada com algo maior e significativo. Ela inundou meu corpo com alegria, eu permiti as lágrimas que inundassem meus olhos. Todas as preocupações sumiram, principalmente os medos incabíveis e irracionais.

Foi como finalmente encontrar um lar, a verdade é que eu me senti em casa. A música tocando nas ruas... artistas expondo quadros e outras artes livremente. As cores vivas e um número grande de turistas transitando cheios de sacolas nas mãos. Eu sorri com vontade e verdade no gesto, não houve fingimento como nas últimas semanas. Eu dirigi lentamente na rua e tentei absorver ao máximo.

O GPS indicou o caminho até a casa da vovó Swan, o endereço era mais isolado. Ela e eu adorávamos andar pela floresta em busca de ervas especiais: verbena. A receita de seus chás medicinais são famosos na família, todo mundo sempre elogiou. Estranhamente, Bella e ela nunca tiveram proximidade, minha irmã desprezou as heranças dadas pela vovó. Fui a única que ouviu suas histórias.

Eu amava quando ela contava relatos de bruxas que fizeram feitos importantes. Ela me conquistava sem qualquer dificuldade. Fomos inseparáveis e eu retornei a cada verão, mas a mudança constante de Renée colocou um fim nessas visitas. Ela dizia que meu futuro seria grandioso e que traria mudanças no mundo, o que nunca acreditei. Eu nunca fui especial e a grandiosidade não é para mim.

- Minha pequena Morgana, você chegou, eu senti tanto sua falta - Helen comemorou e notei sua animação com a visita.

- Eu também senti, vovó - Murmurei e vi suas vizinhas olhando atentas.

- Cadê meu abraço, querida? - Exigiu, ela abriu os braços e esperou pacientemente.

Eu apenas andei ao seu encontro e pude abraca-la da forma apropriada. Ela continuou usando o mesmo perfume, mesmo com tanto tempo passado. Helen tinha colares coloridos e anéis com símbolos estranhos. A energia no bairro é mais intensa e quase palpável, eu fui envolta por esse calor agradável. Pegamos as malas e entramos na pequena casa, incenso e ervas foram espalhados no espaço.

Meu antigo quarto estava intocado, sem uma mísera alteração sequer. As paredes tem a mesma cor vibrante de antes, vermelho não foi a melhor escolha. Porém, eu fiquei feliz na época, simplesmente porquê alguém ouviu a minha opinião e levou em consideração. Tudo aqui dentro foi escolhido por mim, vovó Swan incentivou que eu explorasse e me ajudou nos pequenos momentos de dúvidas.

- Podemos reformar se quiser - Afirmou e a ideia foi tentadora, mas não.

- Ainda não, não é a hora certa - Sorri de forma mínima, porém eu tentei.

- Tudo bem, pequena Morgana - Acentiu, ponderando como agir na sequência.

- Obrigada, por deixar que eu fique aqui durante um tempo, eu estou grata de verdade, vovó - Murmurei brincando com os dedos das mãos que estavam unidas.

- Eu sempre soube que voltaria, esse é o seu destino, Julieta - Respondeu e acariciou o meu ombro com carinho e afeição.

- O destino tem sido cruel comigo, acho que o sofrimento é meu único caminho - Ri de sua afirmação anterior, ela usa metáforas que não consigo compreender com clareza.

- Seu caminho é longo, minha neta, essa dor é passageira, mesmo que pareça eterna e duradoura. Tudo passa, até o coração partido em mil pedaços, apenas respire e junte todos os cacos que sobraram - Helen beijou minhas bochechas como fazia na infância.

Ela me deixou sozinha no quarto e saiu do cômodo, alegando que começaria a decidir o que teríamos para o jantar. Eu agradeci pela privacidade concedida. Não tive forças para a organização das malas, eu estava exausta e o sono abraçou meu corpo rapidamente. Eu não estou mais sozinha, essa é a sensação forte e predominante desde que cheguei. O alívio me confortou, Nova Orleans é única.

Eu consegui dormir com tranquilidade e paz, sem pesadelos ou insônia. Todo o sono e desgaste acumulados foram substituídos por ânimo e revitalização. O cheiro de comida foi suficiente para despertar meu estômago, algo que não tem acontecido muito. Eu emagreci e perdi peso violentamente, as costelas tem sido bastante visíveis, assim como outros ossos, é uma visão horrenda e extrema.

- Eu preciso de um milagre - Murmurei e olhei para o céu, as estrelas brilhavam belas e estonteantes, mas tão frias.

Encontro - Elijah MikaelsonOnde histórias criam vida. Descubra agora