- Eu vou esperar ali, tudo bem? - Sorri e o vampiro concordou, embora hesitante.
- Fique onde possa vê-la, Juls - Pediu e o carinho em sua voz era sincero.
Caminhei lentamente até o carro, aflita e temerosa com a conversa entre os originais, a chance de acabar em briga eram grandes. Me concentrei na tarefa de proteger Kol, usaria de magia se fosse necessário. Eles conversam, a linguagem corporal parecia tranquila, mas era praticamente visível a irritação de meu melhor amigo. Encostei no capô do automóvel e pude sentir que estava sendo observada.
O homem de terno olhava para mim, seu olhar transmitia curiosidade e interesse. Ergui a sobrancelha e cruzei os braços, frustada em relação a seu comportamento. Meu celular foi responsável pela quebra de contato visual, era minha avó ligando. Eu sabia que ela estava se corroendo de preocupação, ainda mais depois de testemunhar o estado que sai de casa. Seu nome brilhava na tela do aparelho.
- Oi, vovó - Atendi ciente de que não teria privacidade durante a conversa.
- Onde você se meteu, menina? - Indagou e acabei suspirando, culpada.
- No cemitério, Kol arranjou problemas e precisou de ajuda - Respondi frustada, ele não escaparia de ouvir xingamentos mais tarde.
- O que ele aprontou? Eu sabia que ele se encrencaria mais cedo ou mais tarde - Bufou e acabei rindo da expressão de Kol.
- Ele foi sequestrado por bruxas - Afirmei e o silêncio mórbido se instaurou.
- Eu quero falar com ele, agora - Ordenou e não tive coragem de negar sua ordem.
Respirei fundo e caminhei até o vampiro imortal, a conversa entre eles havia terminado assim que resolvi me aproximar. Kol estendeu a mão e levou o celular para longe, identifiquei o constrangimento conforme ele respondia as perguntas da adorável senhora. Tentei ignorar o olhar persistente da família, mas era difícil e praticamente impossível. Eu sabia quais eram os pensamentos correndo em suas mentes. A convivência com Kol trouxe isso.
- Então... uma bruxa Swan? Pensei que a sua linhagem estivesse morta - Afirmou Klaus e segurei a vontade de revirar os olhos.
- Alguns sobreviveram - Respondi e pude ver o canto dos lábios se erguerem.
- Você parece intimida de nosso irmão, é quase suspeito - Rebekah parecia avaliar cada gesto e movimento que realizei.
- Ele venceu pelo cansaço, seu irmão me seguiu para cima e para baixo durante dias, as coisas estavam ficando estranhas - Admiti e o garoto ergueu o dedo do meio - Agora ele tem dormido em casa e comido nossa comida. Eu aceitei a derrota e adotei o garoto - Sorri.
- E como se conheceram? - Perguntou, a postura impecável de Elijah era imponente.
- Kol tentou me atacar - Revelei e ele não pareceu surpreso com a informação.
Kol retornou e devolveu o celular, ele era a personificação de garoto assustado, aposto que a conversa com a vovó foi medonha. Não resisti e acabei lançando olhares provocativos e cheios de segundas intenções. Ele bufou e a personalidade infantil ficou a mostra, ele tinha o péssimo hábito de retribuir as zombarias de minha parte. Nos despedimos e entramos em meu automóvel, em absoluto silêncio.
A ferida na região da mão latejava como brasa quente, felizmente a ardência tinha uma nuance suportável. O cheiro de sangue fresco atraiu a atenção de Kol, que mordeu o pulso e me forçou a beber seu próprio sangue. A cor e sabor eram repulsivos, engasguei e comecei a tossir compulsivamente. O vampiro ria, vendo o nojo estampado em meu rosto. Eu limpei os lábios da melhor maneira, mas era inútil, senti o sabor ferroso impregnado na boca.
- Eu odeio você - Resmunguei e ele tinha um sorriso estúpido no rosto.
- Não, não odeia - Desdenhou sabendo a verdade, eu detestava seu ego - Vovó Swan se tornou o demônio na ligação - Revelou.
- Foi tão ruim assim? - Perguntei indo na direção do bairro que moramos.
- Eu fiquei com medo, Julieta. Tem ideia de quando foi a última vez que aconteceu? Eu era humano na época, irmãzinha - Afirmou e a resposta trouxe estranheza.
- Ainda bem que foi com você - Afirmei e não contive a risada de alívio.
- Ótimo, muito obrigada - Comentou sem a mesma empolgação de antes.
Liguei o rádio e a música tomou conta, a melodia era animada. Tamborilei os dedos em acompanhamento e Kol balançou o corpo. Era incrível testemunhar a mudança de atitude no garoto, muito diferente da postura altiva que o vampiro assumiu na presença dos irmãos. Ele aprendeu a esconder sua verdadeira face, sua personalidade foi sendo dividida. Entretanto, é notório que ele sente falta da vida antiga, tudo que valia a pena... perdeu o sentido.
- Eu quase não acreditei que era você no cemitério, achei que estivesse alucinando. Foi a primeira vez que sentiram minha ausência e decidiram ajudar - Comentou e quebrou a leve atmosfera criada no momento.
- Sua família estava lá - Respondi e notei a mágoa afundar seu coração.
- Apenas para reafirmar dominância. Era o modo de Klaus mostrar poder, Juls. É assim que funciona a mente psicótica dele. Rebekah e Elijah somente seguiam os comandos sujos daquele desgraçado - Desabafou e senti dor e sofrimento em cada palavra proferida.
- Eu sinto muito, Kol. Gostaria de saber o que dizer para amenizar sua dor, mas imagino que palavras não sejam o bastante. Eu sinto o quanto eles machucaram você e odeio que as cicatrizes atinjam sua alma - Murmurei e vi os seus olhos marejarem - O futuro é incerto e eu não vou fazer promessas vazias. O que posso prometer é nunca desistir de você, Kol. Serei a sua protetora, amiga e confidente, até quando houver fôlego e energia em mim - Afirmei.
- Eu te amo, Julieta - Afirmou sem tentar omitir a dimensão dos sentimentos.
- Eu amo você, Drácula - Respondi ciente da reação que seria desencadeada.
- Acabou com o momento de irmandade e sentimentalismo, amor - Reclamou como se não estivesse lutando contra o riso.
- Eu não resisti, desculpa - Pedi, mas não era sincero, havia diversão explícito - Vai fazer algo no sábado? - Perguntei.
- Não, por quê? - Indagou e estacionei na calçada em frente da casa da vovó.
- Quer ir a cerimônia da lua comigo? Não quero ir sozinha - Comentei e ele saiu do carro e aguardou minha aproximação.
- Não é uma festividade exclusiva para a comunidade bruxa? - Questionou caminhando ao meu lado, suas mãos enfiadas nos bolsos.
- É sim - Respondi e entrei na casa, alívio por estar finalmente em segurança.
- Então... - Murmurou sem acompanhar a linha de raciocínio - Juls... - Sorriu malicioso, o charme característico do vampiro.
- Alguém já impediu Kol Mikaelson de ir a algum lugar? - Indaguei ouvindo o som forte de música partindo da cozinha - Hoje teremos lasanha para o jantar - Anunciei animada.
- Quer mesmo ser vista comigo justo em sua primeira festividade mágica? - Kol parou e me impediu de seguir até minha avó.
- Sim, eu não me importo - Anunciei e fui para a cozinha caótica - Esteja bonito, Kol - As palavras resultaram em mais risadas.
- Eu estou sempre bonito, amor - Sorriu e subiu para o quarto que dividimos, talvez para tomar banho e dormir um pouco.
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Encontro - Elijah Mikaelson
VampirosEle me encontrou quando tudo parecia escuro e sem vida. Eu estava quebrada e quase desistindo, a traição e abandono deixaram marcas profundas em minha alma. Elijah provou ser um homem corajoso, leal e intenso. Que os rumores eram verdadeiros, sua fa...