Eu perdi a conta de quantas vezes dormi e acordei durante a madrugada. Dia e noite se misturaram, tornando impossível distinguir os últimos acontecimentos com clareza. Eu ouvi vozes femininas repetindo cânticos antigos, o olhar em seus rostos era hipnotizante e todas possuíam uma energia acolhedora. Helen não saiu do meu lado, ela se recusou.
Meu corpo transpirou excessivamente, o suor ficou impregnado nas roupas que vesti e grudaram em minha pele. Incenso e ervas das mais variadas espécies foram queimados no quarto, o aroma excêntrico era intenso. Todas as amigas de minha avó vieram aqui, elas não esconderam as expressões de alívio, como se o ocorrido fosse importante.
Eu estava diferente... mais viva. A dor se tornou obsoleta e suportável, eu senti o poder e força de Nova Orleans. Eu ouvi as vozes tão distintas comemorando o despertar da magia Swan, o meu renascimento. Helen murmurava palavras de encorajamento, tentando diminuir o caos desencadeado por mim. O medo ainda estava presente, mas foi acalentado.
Eu senti a liberdade como nunca antes e a sensação foi incomparável. Acordar tendo o carinho de minha avó foi reconfortante, ela se recusou a me deixar sozinha. Vovó Swan foi a minha guardiã e protetora, assegurando que o abandono não acontecesse. Músculos que eu nunca soube da existência doíam com menor esforço, foi um desafio acordar.
- Oi, vovó - Murmurei e senti os pulmões e garganta arderem com o esforço.
- Julieta, você me assustou - Respondeu acariciando as bochechas coradas pela febre de horas antes, eu estou destruída.
- Sinto muito, eu não... - Busquei meios e formas de me desculpar adequadamente.
- Está tudo bem, querida, tudo acontece por um motivo, é seu destino - Afirmou com o olhar gentil e solidário.
Eu tinha tantas perguntas na mente. Um emaranhado repleto de confusão e dúvida. Eu mal sabia por onde começar, meu corpo tinha atingido seu ápice de desgaste. Uma parte é ambiciosa e exigente, querendo respostas do que aconteceu naquele dia. A outra, medrosa e submissa, deseja fingir que foi um pesadelo e que nunca ocorreu de verdade.
- Sei que está curiosa, mas você precisa de um banho e comida quentinha - Comentou e acenti, consciente de minha situação quase degradante e humilhante.
- Vai explicar o que aconteceu? - Exigi de maneira cansada e arrastada.
- Eu prometo, Julieta - Respondeu e seus olhos mostraram verdade e honestidade.
Ela me ajudou a levantar da cama. Meus pés tiveram dificuldade em sustentar o peso e densidade do próprio corpo. Eu fiquei sentada na privada, observando Helen se mover com a leveza de uma pluma. A banheira de mármore se encheu depois de um tempo, o vapor subiu em espirais pelo ar. A temperatura da água se manteve agradável e quente.
O óleo com cheiro doce foi adicionado e bolhas começaram a surgir. Vovó ajudou com a retirada do pijama, mesmo que eu alegasse ser perfeitamente capaz de fazer sozinha. Ela estava preocupada e eu compreendi que era o seu modo de demonstrar carinho. Eu agradeci quando fiquei sozinha e pude pensar sobre os recentes acontecimentos.
A sensação é estranha. Eu sinto que não mudei fisicamente, mas não sou a mesma. Eu mudei durante essas poucas horas, nenhuma palavra existente é capaz de descrever a atual situação em que estou. Tem essa coisa forte e independente dentro de mim, uma força que está lutando para se libertar por completo. Eu sinto a energia me envolver e sorrir.
Nova Orleans não é uma cidade comum como todas as outras, ela é especial. Existem segredos e mistérios envolvendo esse lugar e os moradores, eu sinto. Meu pai, Charlie, tinha pesadelos quando criança, ele costumava nos contar quando queria causar medo. Talvez ele estivesse errado sobre sua mãe, Helen jamais inventou ou mentiu para a família.
E agora, a hipótese de bruxaria ser real é totalmente aceitável, é a única explicação. Ela nunca foi louca ou mentirosa, apenas sofreu e foi incompreendida. Continuei o banho e lavei os longos cabelos, semelhantes ao de Bella, a cor e comprimento idênticos. Renée elogiou a beleza das madeixas e eu imitei, desesperada por atenção e amor materno.
Eu levantei da banheira com dificuldade e consegui me enrolar na toalha. Eu caminhei com esforço e parei em frente ao espelho, um rosto desconhecido foi mostrado. Havia uma tesoura em cima da pia e, de repente, eu quis mudar radicalmente. Eu não pensei enquanto as lâminas cortavam os fios escuros, apenas sorri em meio as lágrimas.
Eu chorei de raiva, dor e alívio. Eu estava longe daqueles que tanta me causaram dor. O tempo foi passando e fios se acumularam no chão, foi libertador. O corte não ficou perfeito, mas estava alinhado e razoável, não parecia o grito de socorro de uma jovem. Voltei para o quarto e coloquei roupas confortáveis, eu não estava com paciência ou ânimo.
Lentamente, desci a escadaria e sorri ao ver minha avó cozinhando. Ela ouviu o som de meus passos e se virou na mesma hora. Seus olhos experientes focaram no estado critico e improvisado de meu cabelo. Helen sorriu com a cena, mas não comentou. Sentei na cadeira perto da bancada e respirei fundo. O clima era denso e carregado de tensão.
- O que eu sou? - Perguntei sabendo que o assunto é delicado, mas eu não queria ficar no escuro por mais tempo.
- Você sabe o que é - Afirmou misteriosa e eu bufei frustada, não foi a resposta que eu desejava ouvir, eu quero um pouco mais de luz sobre a verdade omitida por todos.
- Sem joguinhos, por favor - Comentei de forma incisiva, Helen não esboçou reação nos próximos minutos.
Eu respeitei seu momento de reflexão. A verdade é que nós duas temos segredos, vovó Swan está passando por muitas coisas indo e vindo ao mesmo tempo. Ela abriu a casa para a neta que não viu durante anos, lidou com o meu descontrole e agora tem que responder as dúvidas de uma adolescente. Qualquer um teria enlouquecido com tantos problemas, ela é maravilhosa e extraordinária.
- Bruxas, as últimas descendentes vivas de uma linhagem antiga e poderosa - Afirmou e um arrepio percorreu minha espinha - É uma história longa e extremamente violenta - Falou e senti o sofrimento nas palavras.
- Temos a noite inteira - Respondi e notei quando seus ombros caíram, sinalizando uma porcentagem elevada de desconforto.
- Nossa família foi abençoada com dons que a maioria das pessoas sonha. Alguns dos nossos antepassados fugiu para o mais longe que puderam, a grande maioria morreu, foram queimados durante a caça as bruxas - Falou e foquei na explicação - Os que sobreviveram a todo aquele caos? Renunciaram o sobrenome e o poder trazido com o sangue. Nós somos o que restou do coven, Julieta - Afirmou com os olhos cheios de lágrimas.
- Eu não entendo... Charlie e Bella tem o mesmo sangue que o nosso - Comentei ainda sem compreender a situação como um todo.
- Charlie renunciou a magia, querida, ele escolheu viver normalmente com Renée, esse é o motivo de nosso afastamento - Explicou e sorriu tristemente - E quanto a sua irmã? Bella é seca como o deserto, ela nasceu sem essas habilidades místicas - Comentou.
- O que acontece agora? - Questionei e a senhora sorriu verdadeiramente.
- Agora? Vamos explorar e descobrir seu potencial, pequena Morgana - Afirmou e olhou as panelas sobre o fogão.
- Simples assim? - Murmurei com dúvida e desconfiança, Helen riu, mas não respondeu, o que aumentou o meu medo.
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Encontro - Elijah Mikaelson
مصاص دماءEle me encontrou quando tudo parecia escuro e sem vida. Eu estava quebrada e quase desistindo, a traição e abandono deixaram marcas profundas em minha alma. Elijah provou ser um homem corajoso, leal e intenso. Que os rumores eram verdadeiros, sua fa...