Encontro - Elijah Mikaelson

Capítulo 10

Elijah Mikaelson

O despertar de Kol trouxe sangue e caos as ruas de Nova Orleans. O caçula conhecia o caminho para acumular mortes violentas e de cunho questionável. As primeiras semanas de liberdade mostraram que seu irmão não tinha interesse em mostrar controle. O jovem rapaz sentia prazer na desgraça alheia, rapidamente a quantidade de corpos aumentou, mostrando o resultado de seu breve espetáculo.

A família começava a questionar modos de apagar o incêndio. Klaus cogitava apagar o irmãos por mais algumas décadas, afinal tudo saiu do alcance de suas mãos. Porém, lenta e vagarosamente, as atitudes mudaram e houve amadurecimento no imortal. Kol parecia outra pessoa, mais feliz e centrado. Eu testemunhei o renascimento de sua humanidade, o que era impossível para muitas pessoas.

O vampiro passou a dormir e comer fora de casa, e quando estavam no mesmo local, a sua atenção era direcionada para o celular. Eu lembro de ouvir sua risada ultrapassar a noite e madrugadas à dentro. O som doce que tinha sido esquecido após a transformação... agora era ouvido com regularidade. A calmaria tinha preenchido cada lacuna vazia de sua alma. As feridas começaram a cicatrizar.

Eu queria saber qual o rosto do anjo que desceu a terra... saber seu nome e os motivos que desencadearam esse evento único. Segui Kol em uma de suas saídas, preocupado com o que acabaria encontrando. Ele dirigiu para o bairro tradicional bruxo, famílias antigas e que vinham de linhagens poderosas viviam ali. Era proibido a entrada de vampiros na área, mas o garoto parecia estar familiarizado.

Kol estacionou e desceu do carro, indo a encontro da garota parada na calçada de uma casa de aparência modesta. Ela tinha cabelos castanhos e olhos cor de chocolate. A pele se mostrou incrivelmente pálida, ressaltando sua boca rosada e as sardas perto do nariz. A sua altura diminuta possuía graça e leveza, ela era estranhamente comum, mas chamou atenção por sua doçura não intencional.

Eu não sinto orgulho, mas permaneci na rotina preventiva de segui-los. Eles tinham um laço de irmandade poderoso, muito mais forte que o de nossa família desajustada. Senti que Kol faria qualquer coisa para mantê-la segura e viva. Julieta, a jovem bruxa, demonstrava os mesmo sinais de lealdade e dedicação, assim como garantir sua felicidade. Eu senti inveja e desejei estar no lugar de meu irmão.

Reparei que alguns grimórios sumiram e reapareceram em lugares diferentes. Kol tinha começado a furtar os livros de maneira rápida e incrivelmente habilidosa. Julieta avançava a passos largos na magia, mesmo que ainda se mostrasse hesitante em praticar na frente das colegas de sua avó. Eu percebi que aquela era a fonte da repentina explosão enérgica que os moradores sentiram meses atrás.

A garota, cujos olhos refletiam angustia e sofrimento, detinha o futuro da comunidade bruxa nas mãos, e nem sabia disso. Eu notei a esperança reacender nos olhos das feiticeiras mais experientes, enquanto as jovens eram os pedregulhos no percurso. Julieta Swan seria a jóia que nasceu para ser, eu mesmo garantiria que seu futuro fosse concretizado, mesmo de longe e sem receber agradecimentos.

Passei a deixar os grimórios nas áreas e prateleiras de fácil acesso, assim Kol acharia as peças sem dificuldades. Eu dizia para mim mesmo que era apenas a retribuição de todas as vezes que ela cuidou de meu irmão, porém a verdade nunca foi tão simples. Julieta tinha dominado minha mente sem perceber, ela não sabia da minha existência, mas eu sabia cada detalhe sobre seus gostos e preferências.

Ouvi as conversas noturnas entre eles, a confissão mútua de segredos e receios. Odiei que ela tenha se envolvido com frios, eles não eram conhecidos pelo autocontrole. Odiei que Edward tivesse quebrado seu coração. E Bella que traiu a própria irmã com tanta facilidade e indiferença a dor que causaria. Eu não sabia o rosto dos indivíduos envolvidos, mas senti um intenso sentimento de empatia com Klaus.

Eu gostaria de retribuir o favor. O híbrido saberia como lidar com a situação e não seria complicado... sem remorso ou culpa. Gostaria de causar dor e sofrimento naquelas pessoas cruéis e egoístas. Eu prometi que buscaria um método eficiente de destruir a família Cullen e aniquilar seus sonhos e planos futuros. Assim eles sentiriam por todo transtorno.

A mãe de Julieta, Renée, também possuí parcela de culpa. A jovem bruxa compartilhou da mesma lacuna maternal que nós, era triste saber que alguém tão doce sofreu tanto. Sorri ao lembrar do cheiro agradável do cabelo e da cor intensa dos fios que brilhavam no sol, não havia palavras para descrever a garota. Kol se tornou um homem digno graças a ela. A bruxa era a irmã que ele nunca teve.

Nem mesmo Rebekah conseguiu chegar a esse estágio, mesmo sendo carinhosa. Ouvi inúmeras declarações de lealdade entre eles e senti a sinceridade presente. Eu vi Kol matar vampiros que ameaçaram Julieta. Ela usou de magia para proteger o original. A dupla tinha a fama de quebrar paradigmas estabelecidos. A guerra era inexistente para eles. A rivalidade e diferençaz não eram problemas.

Entretendo, o ápice de admiração e puro encanto, aconteceu quando ela protegeu meu irmão de um grupo poderoso de bruxas. A sua face refletia coragem e confiança. Eu sabia da dimensão de suas habilidades, mas ainda sim fiquei sem fôlego e embasbacado. Julieta não olhou para minha família, afinal estava focada em salvar Kol. Ela era imponente, porém tinha o caminhar elegante da nobreza.

Niklaus começava a maquinar planos de conquistar sua confiança e trazê-la para o seu lado do tabuleiro. Rebekah desapareceu após o embate, e não demonstrou sentimentos. Era impossível raciocinar com clareza, o cheiro de perfume continuava na atmosfera, misturados aos demais aromas do ambiente. Eu caminhei sob a terra durante séculos e acompanhei um turbilhão de mudanças significativas.

E naquele instante... tive certeza de três coisas. A primeira: pela primeira vez, Kol tinha conquistado o controle da própria vida, e tudo graças a um pequeno anjo. A segunda: ela era a criatura mais perfeita já criada, mas tinha os olhos foscos e a alma dilacerada. A terceira: o seu futuro seria comigo, mesmo que eu fosse obrigado a mergulhar em sangue e aniquilar o que tentasse ferir ou prejudica-la.

- Julieta - Sussurrei ao vento.