Capítulo 4

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O jantar aconteceu normalmente, a vovó cozinhou a famosa lasanha de beringela. Uma das melhores receitas para vegetarianos, fui a primeira a aderir a dieta na família. Lembro de quando decidi parar de comer carne, eu tinha 15 anos na época. Renée enlouqueceu, ela me olhou como se fosse maluca. Entretanto, tudo mudou quando Bella aderiu a ideia.

Eu ouvi as duas conversando, buscando receitas na internet e combinando de comprar alimentos mais saudáveis e orgânicos. Eu me esforcei ao máximo para não chorar enquanto elas faziam planos. Suspirei olhando todas as imperfeições escondidas no escuro. Adoraria estar dormindo, mas é impossível. O sono era apenas uma ideia distante e vazia.

Felizmente, consegui adormecer por um período, mesmo que curto. Minha mente tem lutado para se adaptar com tantas mudanças acontecendo ao mesmo tempo. A luz da lua e das estrelas iluminaram o quarto, projetando a sombra da árvore através do ambiente. Uma sinfonia silenciosa podia ser ouvida, a música natural da floresta. Galhos secos arrastando o vidro empoeirado da janela.

Animais correndo em meio a mata, tudo em perfeita harmonia e equilíbrio. Em meio as observações e reflexões, ouvi um som baixo e quase inaudível de risadas. Eu estremeci e um arrepio percorreu minha espinha de cima para baixo, causando a sensação de frio. Eu fechei os olhos com força, assustada. O barulho alto e infantil aumentou gradativamente. Eu nunca cogitei que isso seria possível.

Julieta, vem comigo - Murmurou e senti familiaridade em sua voz alegre.

Eu permaneci em silêncio. Meu corpo se mostrou incapaz de mover, os músculos eram incapazes de funcionar como deveriam. Cada extremidade ficou arrepiada e meu estômago embrulhou. Cogitei a hipótese de gritar com a força de meus pulmões, chamando a atenção de vovó Helen. Porém, ela poderia achar que é somente um delírio ou que enlouqueci com as experiências e traumas que coleciono através dos anos que sobrevivi.

É seu destino, aceite - Insistiu, animada e estranhamente empolgada.

- Pai nosso que estais no céu... - Reuni o pouco de coragem que tinha e comecei a orar baixinho, eu pude sentir as batidas aceleradas do meu coração batendo no peito.

Eu continuei orando e pedindo ajuda. Os minutos se tornaram uma eternidade, o suor e a tremedeira aumentaram. A voz desapareceu e a tensão foi predominante na atmosfera. Eu estava fragilizada e amedrontada, mas estava sozinha e por conta própria. Abri os olhos e a claridade repentina incomodou meus olhos. A silhueta pequena parada próximo da porta era atraente e magnética. Sua energia pareceu se conectar com a minha.

- Vem comigo, Julieta - Afirmou com um carinho indiscutível nas palavras - Eu prometo que não vou te machucar - Assegurou e correu para fora do quarto.

Honestamente? Isso tudo só poderia ser um sonho, em algum momento, eu adormeci e não percebi. Ignorando a racionalidade, fiz a estupidez de levantar da cama. A curiosidade falou mais alto e nublou os pensamentos que me impedem de ceder aos instintos. Andei no assoalho de madeira e, graças as meias, pude caminhar livremente e sem fazer barulho. Não sei qual o destino, mas vou descobrir.

Eu segui o som de risadas e andei pelos corredores escuros da casa. O aroma intenso de verbena chamou a atenção, mas ignorei as teorias conspiratórias. O vulto era branco com um brilho prateado ao seu redor, paramos em frente a uma porta antiga cheia de símbolos e letras estranhas. Eu deslizei os dedos sobre a superfície de madeira e senti a mesma paz de antes, como se a dor não existisse. 

Leia, rápido, leia - Ordenou e admirei os entalhes delicados e elegantes.

As palavras não faziam sentido algum, a vergonha e frustração inundaram meu interior e amaldiçoei a falta de conhecimento. Talvez Bella conseguisse traduzir, ela sempre adorou idiomas antigos. A raiva aumentou quando as lembranças de minha irmã surgiram, ela não é melhor do que eu, nunca foi. Me concentrei de maneira intensa e um formigamento ocorreu e se espalhou por mim, quente e agradável, eu me senti conectada e autêntica.

Quod magicae non influunt per me - Eu posso jurar ter sentido uma brisa suave e bem agradável no rosto.

Entre, maiestas - Incentivou e apontou para a fresta aberta instantâneamente.

Hesitante, eu empurrei a porta. O ranger de madeira foi mais alto do que deveria. Vovó Swan sempre manteve esse cômodo fechado e trancado. Durante anos eu questionei qual o mistério por trás do quarto proibido. Helen me prometeu que abriria caminho para as minhas descobertas, mas não houve tempo, não era a hora certa. As amigas da vovó vinham aqui de segunda a domingo, muitas traziam livros que nunca pude ler, mesmo pedindo.

O cômodo tinha inúmeras estantes com dezenas de livros, alguns pareciam antigos de aparência surrada, outros eram novos. Eu ouvi mais vozes, agora sussurrando frases inteiras e mais complexas. Eu senti pontadas no peito e cabeça, foi como se algo fosse liberado e as dores fossem consequência disso. Havia uma bancada no centro da biblioteca, um livro com capa de couro preto em destaque.

Toque, criança - Ordenaram, eu obedeci sem questionar, em transe.

Bastou um toque para que o grito fosse ouvido pela casa inteira. Eu desabei no chão e me debati violentamente. Foi como cravar um punhal um mim repetidas vezes. As luzes que iluminavam o quarto se quebraram e os vasos estouraram de forma impressionante. Ouvi os passos apressados de Helen e ela entrou com a expressão carregada de horror. Imagino que serei mandada embora para Forks.

- Julieta? - Murmurou e agachou bem ao meu lado, aflita e preocupada.

- Desculpa, eu não... - Grunhi com a intensidade das dores que se alastraram, foi como ser atropelada por um caminhão.

- Calma, querida, vai passar - Ela sorriu e colocou minha cabeça no colo - É normal e eu vou explicar tudo para você - Prometeu e veio acariciando meus cabelos.

- Está doendo - Comentei e ouvi cristais estourando pela propriedade inteira.

- Seu poder é grande, pequena Morgana, ele precisa preparar seu corpo para suportar a carga - Respondeu, não tive forças ou disposição para questionar.

Eu aguentei até onde pude, mas era uma sensação agonizante e desesperadora. Todas as minhas forças foram sugadas e permaneci acordada durante alguns minutos. Mas cedi e permiti que a escuridão me abraçasse. O que ninguém esperava é que Nova Orleans inteira sentisse as ondas mágicas liberadas. A bruxa recém descoberta havia despertado interesse em muitas criaturas, inclusive dos originais. E sua jornada estava apenas começando. Salve a rainha e o lorde.

Encontro - Elijah MikaelsonOnde histórias criam vida. Descubra agora