Encontro - Elijah Mikaelson

Capítulo 2

O quarto ficou irreconhecível sem todas as fotos e quadros que colecionei. Organizei o ambiente e empacotei tudo, Charlie vai doar a maioria das caixas e guardar as que restarem no sótão. Eu queimei os presentes dados por Edward, incluindo: as cartas repletas de juras e promessas de amor, os ursinhos de pelúcia que ele ganhou em parques de diversão, além de peças dadas por sua família.

"O fogo tudo purifica", espero que a pura e luminescente chama de calor purifique meu coração e mente, levando tudo de ruim que as experiências que vivi aqui trouxeram. Deixei a bagagem na sala de estar, malas contendo as poucas peças de roupas que realmente gostei e comprei por mim mesma. A maioria foram decisões de Alice, outras de Isabella, ela acreditou que éramos parecidas em algo.

E de fato, por um longo período, desde a infância, eu quis ser parecida com ela. Falar e andar como ela, usar roupas semelhantes e o mesmo tipo de perfume cítrico. Na cabeça de uma criança, distorcida e traumatizada, aquilo pareceu um preço baixo a ser pago, anular um pouco de quem eu era, por segundos de amor e aceitação. E, a cada ano, meu sacrifício não parecia o suficiente, nunca seria.

Meus sorrisos eram tímidos, iguais aos dela. As roupas eram horríveis, mas nela eram elogiados constantemente por Renée. Medo e desespero fizeram isso comigo, eu fiz isso no decorrer de dezoito anos. Eu flertei e desejei a personalidade dócil e meiga, além do cabelo e os olhos repletos de vulnerabilidade. Bella foi meu espelho, e sem perceber, acabei virando a sombra de minha própria irmã.

Agora, tudo que restou foram os cacos e partes irreconhecíveis. Olhar no espelho e não reconhecer o reflexo é doloroso e estranho, as possibilidades parecem ter aberto um mundo de possíveis descobertas. New Orleans será o meu lar e espero ter um pouco de sorte, quero viver como nunca antes. Redescobrir quem eu sou e, finalmente, agir como uma humana, eu quero esquecer o passado.

Conviver durante tanto tempo com o clã de vampiros mudou meus costumes. Eu senti a necessidade de planejar cada passo dado e cada ação tomada. Eu convivi com o possível descontrole de Jasper, afinal um deslize e eu morreria sem chances de defesa. Edward não foi o melhor namorado, admito, mas eu engoli cada atitude controladora e machista, eu fingi normalidade quando ela não existia.

A dor agonizante parece ser a primeira e real emoção que estou sentindo. Como se um pano tivesse sido tirado dos meus olhos, e de repente, a racionalidade retornasse. Bella terá um longo caminho pela frente, semelhante ao que trilhei recentemente. Ela aprenderá a lidar com a dor, incerteza de ser ou não suficiente, seu subconsciente pregando peças cruéis, o olhar desdenhoso de outros humanos.

Minha irmã irá conviver com o medo de suas próprias decisões. Abdicar de sua vida e humanidade pela imortalidade? Abandonar as pessoas que lhe deram a vida para enfrentar a eternidade ao lado de um monstro? Sinto uma raiva gigantesca quando lembro que eu estive perto de vender minha alma. Sentiria saudade da sensação agradável do calor do sol, ou dos sabores de alimentos e bebidas, manter cada traço de aparência e identidade é vital.

- Querida, tem certeza que deseja viajar para tão longe? - Questionou Charlie entrando no quarto, eu estava me despedindo das boas lembranças que passei nesse cômodo.

- Sim, pai, é importante e necessário que eu tenha essa experiência - Respondi com um tom de voz cansado, resultado de noites sem conseguir dormir adequadamente.

- Ligue todos os dias, não importa qual o horário, eu preciso saber está segura e que as maluquices da sua avó não estão afetando os seus neurônios, minha querida - Afirmou com os olhos marejados, prevendo que a distância entre nós aumentará.

- Eu prometo, obrigada por me entender e realmente ouvir minha opinião - Agradeci de maneira sincera, Charlie é meu herói.

- Eu sempre estarei aqui para você, com os braços abertos - Respondeu e sorriu, suas rugas e marcas de expressão ficaram visíveis e ainda mais aparentes.