- Delegacia de Forks, xerife Swan, em que posso ajudar? - Perguntou Charlie e sorri, ele é absurdamente assustador quando trabalha de uniforme, sempre sério e muito formal.
- Oi, pai - Murmurei constrangida, eu não liguei para ele nos últimos dias.
- Julieta, minha querida - Respondeu e eu senti o coração explodir de saudade - Eu achei que tivesse esquecido de mim - Provocou e as palavras vieram carregadas de drama.
- Isso nunca vai acontecer pai, as coisas aconteceram muito rápido - Afirmei olhando a pilha de livros sobre magia em cima da cama - O senhor está bem? Tem comido direto? - Eu questionei, preocupada.
- Sim, tudo em ordem por aqui - Bufou de maneira insatisfeita - E Nova Orleans? Tenho a certeza de que está aproveitando - Afirmou e a sua voz tremeu, indício de hesitação.
- Aqui é maravilhoso, sinto que estou em casa. A vovó tem sido paciente comigo, ela se tornou uma professora incrível - Afirmei e não houve resposta imediata.
- Você descobriu... - Constatou, aquilo se concretizou de uma hora para outra - Julieta, é complicado e muito perigoso - Sibilou.
- Por quê mentiu para mim, pai? Eu achei que não havia segredos entre nós - Suspirei, o clima da conversa ficou pesado e ruim.
- Quer falar de segredos, Julieta? Quando pretendia me contar sobre os Cullen? - Charlie virou o jogo com maestria e destreza.
- É diferente... - Afirmei sem saber como reagir, ele me pegou desprevenida.
- Diferente como, Julieta? - Insistiu, a sua teimosia chega a ser irritante.
- O segredo não era meu para ser aberto e compartilhado livremente - Devolvi ainda me recuperando do susto - Bem diferente de você que escondeu da filha as suas origens - Ri das ironias da vida, é inacreditável.
- Querida, é complicado - Murmurou sem a postura firme e forte de antes.
- Eu sei, esse é o único motivo que ainda não surtei. O que não entendo é por que abriu mão da bruxaria, pai - Comentei e ouvi a linha no mais absoluto silêncio.
- Renée, ela é o motivo - Suspirou e todas as peças do quebra-cabeça se juntaram - Abri mão de tudo por ela - Repetiu cansado.
- Como? - Questionei buscando algumas respostas coerentes para o grande motivo do afastamento de Charlie e sua mãe.
- Eu era jovem... imprudente. Ela tinha um sorriso lindo, do tipo que impressionaria todos os homens do mundo. Nos envolvemos depois de muita insistência da minha parte, ela teve o meu coração desde o princípio - Contou e ouvi a mágoa em sua voz - Renée descobriu minha origem e fez um ultimato, na época ela estava grávida de você. Eu fiz aquilo que meu coração mandou, escolhi você e não me arrependo, seu nascimento foi um presente - Narrou e tudo se encaixou perfeitamente.
- Eu sim muito, é minha culpa - Respondi e o peso caiu direto nos meus ombros.
- Julieta, você não é culpada, nunca foi. A decisão foi minha, eu escolhi ser o homem que seguraria sua mão e guiaria seu passos. Eu me orgulho de ter visto você crescer, filha, de estar lá quando precisou de mim. Eu escolhi você no momento que soube da sua existência - Ele se tornou um exemplo de paternidade, mais que qualquer outro no mundo.
- Obrigada, obrigada - Respondi em meio as lágrimas e soluços, uma confusão.
- Eu amo você, Julieta - Anunciou e pude imaginar o seu rosto totalmente corado.
- Eu amo você, pai - Assegurei e ele riu e anunciou que precisava voltar ao trabalho - Ei, cuidado com Edward, ele lê mentes - Afirmei e o xerife grunhiu irritado.
- Era só o que me faltava - Resmungou, a atitude foi cômica e engraçada.
(...)
|| 6 meses depois ||
O tempo passou e eu agradeço. Eu sinto que estou mais forte que antes, as marcas do passado tem cicatrizado aos poucos. Como o sol que aparece depois da tempestade, tudo é temporário nessa vida, até às dores que antes pareciam capazes de me destruir. Edward não é dono de meu coração, eu vejo com clareza e convicção agora. Bella é somente outra jovem que cedeu aos seus encantos.
As sessões com o psicólogo tem aberto minha mente de forma positiva. Eu aprendi os macetes e agora não carrego a bagagem com traumas e medos de anos atrás. A bruxaria se tornou uma espécie de refúgio, eu me dedico de corpo e alma. Helen tem sido paciente, ela permitiu que eu lesse tudo na biblioteca, até a sessão proibida, contendo livros antigos. Eles contém feitiços milenares.
Nesse período muita coisa aconteceu. A mais importante é o surgimento de Kol. Ele se tornou meu melhor amigo, um irmão capaz de causar dor e sofrimento para me proteger. Ele já fez isso antes e não foi bonito. O Mikaelson é muito parecido comigo... duas almas cheias de amargura. Eu lembro da primeira vez que o vampiro milenar deu as caras, claramente sob efeito de bebidas alcoólicas.
(...)
Era noite de lua cheia e o vento frio gerou o clima perfeito para uma caminhada. Eu havia acabado de concluir um treinamento com uma amiga de Helen, o cansaço era intenso. Decidi andar pela floresta e esclarecer a mente, talvez olhar as estrelas na campina. Eu andei durante alguns minutos, sozinha em meio a completa e absoluta escuridão. Cantarolando músicas dos anos 80 baixinho e em ritmo lento.
- Meninas bonitas não deveriam andar na floresta a noite, ainda mais sozinhas - Afirmou uma voz masculina e eu congelei.
- Eu sei me proteger, obrigada - Respondi e continuei andando, mas fiquei atenta.
Tudo acontece em uma velocidade veloz e humanamente impossível. De repente, eu vi o corpo de um homem parado na minha frente, o rastro de sangue fresco aparente em sua boca e pescoço. Vampiro. Ele era alto e forte, olhos em tom de castanho, uma cor comum, mas era tão hipnotizante nele. Sua blusa branca estava manchada de vermelho, o sangue seco grudou no tecido fino. Uma visão horrível.
- Desculpe, amor, não é pessoal - Ele veio para mais perto e me segurou no lugar - É uma questão de sobrevivência, entende? - Indagou e tentou morder meu pescoço.
Eu estava assustada, mas reagi. Usei um dos truques que aprendi recentemente, dores e aneurismas agonizantes capazes de derrubar imortais experientes. O homem caiu no chão e gritou a plenos pulmões. Ele se contorcia, mas eu parei depois de um tempo, incomodada. Ele levantou com muito esforço e me encarou, seu olhar parecia surpreso. Eu aguardei alguma de suas investidas, mas nunca ocorreu.
- Por essa eu não esperava - Admitiu e eu acabei revirando os olhos - Kol Mikaelson, seu mais novo admirador - Sorriu galanteador.
- Julieta Swan - Respondi ainda hesitante e preparada para outro ataque.
(...)
A amizade mais improvável surgiu ali, as estrelas são testemunhas. A presença dele se tornou cada vez mais comum, até o ponto em que passamos a ser vistos juntos andando de um lado para o outro. Kol estava presente nos momentos constrangedores, como quando eu decidi sair para beber pela primeira vez e sofri na manhã seguinte. O vampiro também ouviu os meus lamentos na madrugada.
Eu ofereci o ombro amigo quando ele se permitiu abrir o coração, falando abertamente sobre a relação conturbada com a família. Ele chorou durante horas e eu permaneci sempre ao seu lado, acariciando seu cabelo e ouvindo cada palavra quebrada. O original dormia aqui frequentemente, obrigando Helen a aceitar os comentários ousados e espirituosos. O rapaz é como outro neto da bruxa.
Kol me ajudou a descobrir quem eu sou de verdade, ele esteve comigo durante meses de transformação e evolução. O Mikaelson se tornou parte fundamental na minha vida, tudo é mais colorido graças a ele. Ele me ensinou a ser independente e livre. Kol Mikaelson surgiu quando eu estava no fundo do poço e agora é o irmão que nunca tive. Ele é minha família de coração e alma, agora e sempre. Ele mostrou que monstros também amam.
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Encontro - Elijah Mikaelson
VampirosEle me encontrou quando tudo parecia escuro e sem vida. Eu estava quebrada e quase desistindo, a traição e abandono deixaram marcas profundas em minha alma. Elijah provou ser um homem corajoso, leal e intenso. Que os rumores eram verdadeiros, sua fa...