Capítulo 7

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Delegacia de Forks, xerife Swan, em que posso ajudar? - Perguntou Charlie e sorri, ele é absurdamente assustador quando trabalha de uniforme, sempre sério e muito formal.

- Oi, pai - Murmurei constrangida, eu não liguei para ele nos últimos dias.

Julieta, minha querida - Respondeu e eu senti o coração explodir de saudade - Eu achei que tivesse esquecido de mim - Provocou e as palavras vieram carregadas de drama.

- Isso nunca vai acontecer pai, as coisas aconteceram muito rápido - Afirmei olhando a pilha de livros sobre magia em cima da cama - O senhor está bem? Tem comido direto? - Eu questionei, preocupada.

Sim, tudo em ordem por aqui - Bufou de maneira insatisfeita - E Nova Orleans? Tenho a certeza de que está aproveitando - Afirmou e a sua voz tremeu, indício de hesitação.

- Aqui é maravilhoso, sinto que estou em casa. A vovó tem sido paciente comigo, ela se tornou uma professora incrível - Afirmei e não houve resposta imediata.

Você descobriu... - Constatou, aquilo se concretizou de uma hora para outra - Julieta, é complicado e muito perigoso - Sibilou.

- Por quê mentiu para mim, pai? Eu achei que não havia segredos entre nós - Suspirei, o clima da conversa ficou pesado e ruim.

Quer falar de segredos, Julieta? Quando pretendia me contar sobre os Cullen? - Charlie virou o jogo com maestria e destreza.

- É diferente... - Afirmei sem saber como reagir, ele me pegou desprevenida.

Diferente como, Julieta? - Insistiu, a sua teimosia chega a ser irritante.

- O segredo não era meu para ser aberto e compartilhado livremente - Devolvi ainda me recuperando do susto - Bem diferente de você que escondeu da filha as suas origens - Ri das ironias da vida, é inacreditável.

Querida, é complicado - Murmurou sem a postura firme e forte de antes.

- Eu sei, esse é o único motivo que ainda não surtei. O que não entendo é por que abriu mão da bruxaria, pai - Comentei e ouvi a linha no mais absoluto silêncio.

Renée, ela é o motivo - Suspirou e todas as peças do quebra-cabeça se juntaram - Abri mão de tudo por ela - Repetiu cansado.

- Como? - Questionei buscando algumas respostas coerentes para o grande motivo do afastamento de Charlie e sua mãe.

Eu era jovem... imprudente. Ela tinha um sorriso lindo, do tipo que impressionaria todos os homens do mundo. Nos envolvemos depois de muita insistência da minha parte, ela teve o meu coração desde o princípio - Contou e ouvi a mágoa em sua voz - Renée descobriu minha origem e fez um ultimato, na época ela estava grávida de você. Eu fiz aquilo que meu coração mandou, escolhi você e não me arrependo, seu nascimento foi um presente - Narrou e tudo se encaixou perfeitamente.

- Eu sim muito, é minha culpa - Respondi e o peso caiu direto nos meus ombros.

Julieta, você não é culpada, nunca foi. A decisão foi minha, eu escolhi ser o homem que seguraria sua mão e guiaria seu passos. Eu me orgulho de ter visto você crescer, filha, de estar lá quando precisou de mim. Eu escolhi você no momento que soube da sua existência - Ele se tornou um exemplo de paternidade, mais que qualquer outro no mundo.

- Obrigada, obrigada - Respondi em meio as lágrimas e soluços, uma confusão.

Eu amo você, Julieta - Anunciou e pude imaginar o seu rosto totalmente corado.

- Eu amo você, pai - Assegurei e ele riu e anunciou que precisava voltar ao trabalho - Ei, cuidado com Edward, ele lê mentes - Afirmei e o xerife grunhiu irritado.

Era só o que me faltava - Resmungou, a atitude foi cômica e engraçada.

(...)

|| 6 meses depois ||

O tempo passou e eu agradeço. Eu sinto que estou mais forte que antes, as marcas do passado tem cicatrizado aos poucos. Como o sol que aparece depois da tempestade, tudo é temporário nessa vida, até às dores que antes pareciam capazes de me destruir. Edward não é dono de meu coração, eu vejo com clareza e convicção agora. Bella é somente outra jovem que cedeu aos seus encantos.

As sessões com o psicólogo tem aberto minha mente de forma positiva. Eu aprendi os macetes e agora não carrego a bagagem com traumas e medos de anos atrás. A bruxaria se tornou uma espécie de refúgio, eu me dedico de corpo e alma. Helen tem sido paciente, ela permitiu que eu lesse tudo na biblioteca, até a sessão proibida, contendo livros antigos. Eles contém feitiços milenares.

Nesse período muita coisa aconteceu. A mais importante é o surgimento de Kol. Ele se tornou meu melhor amigo, um irmão capaz de causar dor e sofrimento para me proteger. Ele já fez isso antes e não foi bonito. O Mikaelson é muito parecido comigo... duas almas cheias de amargura. Eu lembro da primeira vez que o vampiro milenar deu as caras, claramente sob efeito de bebidas alcoólicas.

(...)

Era noite de lua cheia e o vento frio gerou o clima perfeito para uma caminhada. Eu havia acabado de concluir um treinamento com uma amiga de Helen, o cansaço era intenso. Decidi andar pela floresta e esclarecer a mente, talvez olhar as estrelas na campina. Eu andei durante alguns minutos, sozinha em meio a completa e absoluta escuridão. Cantarolando músicas dos anos 80 baixinho e em ritmo lento.

- Meninas bonitas não deveriam andar na floresta a noite, ainda mais sozinhas - Afirmou uma voz masculina e eu congelei.

- Eu sei me proteger, obrigada - Respondi e continuei andando, mas fiquei atenta.

Tudo acontece em uma velocidade veloz e humanamente impossível. De repente, eu vi o corpo de um homem parado na minha frente, o rastro de sangue fresco aparente em sua boca e pescoço. Vampiro. Ele era alto e forte, olhos em tom de castanho, uma cor comum, mas era tão hipnotizante nele. Sua blusa branca estava manchada de vermelho, o sangue seco grudou no tecido fino. Uma visão horrível.

- Desculpe, amor, não é pessoal - Ele veio para mais perto e me segurou no lugar - É uma questão de sobrevivência, entende? - Indagou e tentou morder meu pescoço.

Eu estava assustada, mas reagi. Usei um dos truques que aprendi recentemente, dores e aneurismas agonizantes capazes de derrubar imortais experientes. O homem caiu no chão e gritou a plenos pulmões. Ele se contorcia, mas eu parei depois de um tempo, incomodada. Ele levantou com muito esforço e me encarou, seu olhar parecia surpreso. Eu aguardei alguma de suas investidas, mas nunca ocorreu.

- Por essa eu não esperava - Admitiu e eu acabei revirando os olhos - Kol Mikaelson, seu mais novo admirador - Sorriu galanteador.

- Julieta Swan - Respondi ainda hesitante e preparada para outro ataque.

(...)

A amizade mais improvável surgiu ali, as estrelas são testemunhas. A presença dele se tornou cada vez mais comum, até o ponto em que passamos a ser vistos juntos andando de um lado para o outro. Kol estava presente nos momentos constrangedores, como quando eu decidi sair para beber pela primeira vez e sofri na manhã seguinte. O vampiro também ouviu os meus lamentos na madrugada.

Eu ofereci o ombro amigo quando ele se permitiu abrir o coração, falando abertamente sobre a relação conturbada com a família. Ele chorou durante horas e eu permaneci sempre ao seu lado, acariciando seu cabelo e ouvindo cada palavra quebrada. O original dormia aqui frequentemente, obrigando Helen a aceitar os comentários ousados e espirituosos. O rapaz é como outro neto da bruxa.

Kol me ajudou a descobrir quem eu sou de verdade, ele esteve comigo durante meses de transformação e evolução. O Mikaelson se tornou parte fundamental na minha vida, tudo é mais colorido graças a ele. Ele me ensinou a ser independente e livre. Kol Mikaelson surgiu quando eu estava no fundo do poço e agora é o irmão que nunca tive. Ele é minha família de coração e alma, agora e sempre. Ele mostrou que monstros também amam.

Encontro - Elijah MikaelsonOnde histórias criam vida. Descubra agora