Belinda
A obervava dormir de forma serena por entre o chão frio, seu pequeno corpo se contorcia por entre os pequenos pedaços de feno que se espalhavam por todo seu cabelo.
Não pude deixar de observa-la, cada centímetro do seu corpo, como se estivesse a observar uma escultura, como nunca a tinha visto.
Desde que a cuidei na residência de Rose, algo parecia ter mudado, não sei dizer se era seu jeito, ou o quanto estava cansada ao dormir, mas algo com certeza mudou.
Toquei calmamente seu cabelo, fazendo carinho por entre os fios brancos que enchiam minha mão, ele era curto, mas estranhamente volumoso, como se estivesse a vestir uma peruca estranha.
Lembro-me de ouvi-la dizer que o odiava
Mas pra mim, ele parecia perfeito
Ouvi sons de passos curtos que invadiam o lugar de forma um pouco estrondosa, mas não o suficiente para acorda-la de seu transe.
- O que está fazendo querida? - o garoto estranho dos cabelos vermelhos invadiu o lugar, sorrindo de forma maliciosa.
Eu conhecia aquele sorriso, mais do que gostaria de conhecer.
- Não é da sua conta - rapidamente retirei as mãos de seu cabelo, o encarando de volta
- Entendo... Então posso fazer isso também? - ele se aproximou, agachando-se no chão, levando as mãos para perto de Elizabeth.
O impedi
- hahahahah, desculpa Querida, não sabia que ela era sua propriedade - ele me olhou malicioso - E você mesma disse que não era nada...
- Para mim não é nada, pra você é uma afronta - empurrei seu braço para trás, o olhando furiosa
Não confiava nem um pouco em pessoas como ele, homens jovens que sorriem assim para mulheres, são quase tão nojentos quanto velhos que visitavam o prostíbulo.
Seus cabelos da cor do fogo pareciam cada vez mais chamas de verdade quando seu corpo atingiu o chão, fazendo seu sorriso mudar para algo afrontoso.
- Ainda não entendo porque me trata com tanto desdém
- Pensei que já estivesse claro de que não confio em você
Ele riu
- E está madame, mas achei que Minha dama havia lhe dado confiança acerca de mim
"Minha dama" quem ele pensa que é?
- Você não tem o direito de chamá-la assim - tentei imitar seu olhar de afronta
- E você tem?, Eu sei quem você é Bel, e sei onde trabalhava, tenho muitos contatos nas cidades próximas
- Acha que valho menos que você por isso? - odeio quando falam de meu antigo trabalho, nunca me orgulhei dele, mas não tinha muita escolha, precisava de dinheiro não de dignidade.
- Muito pelo contrário! Acho você uma mulher muito corajosa, acredito que você seria alguém muito interessante de se conversar - ele sorriu
- É eu sou, mas não com estranhos que aparecem do nada falando que querem me proteger
- Mas não foi assim com a El?
Gelei, pensei que soubesse de alguma coisa, mas pelo visto, me conhecia mais que eu gostaria que conhecesse.
Ele se aproximou, me olhando fixamente com os olhos, murmurando baixinho
- Não se preocupe, assim como ela, não quero seu mal, como eu disse, só estou aqui para lhe proteger - se levantou e foi em direção a porta, se escorando por entre o pilastro.
- Por que não dorme? Está tarde, eu fico de vigia, lhe acordo se acontecer algo
- Eu já disse que não confio em você
Ele sorriu, parecia feliz de alguma forma
- Como quiser minha dama - disse enquanto se reverenciava, saindo do chocho calmamente.
Tomei um leve suspiro, realmente não o aguentava, ainda mais não sabendo de nem metade do que ele planejava.
Afinal, nunca se sabe quem quer seu bem, ou uma faca na sua garganta.
Me escorei para trás, novamente a observando, lembro-me de ver seus olhos, eles tinham a cor do céu, e de fato, me faziam me sentir nas nuvens.
As vezes me reprimia por pensar nisso, afinal, não nós conhecíamos a muito tempo e eu não sabia nem metade do seu passado, mas...
Algo dentro de mim dizia que isso não importava, talvez eu devesse ouvir mais essa parte do meu ser, já que era isso que me fazia levantar todas as manhãs.
Saber que ela estaria ali, e que eu não estava mais sozinha
Será que era tão errado assim? Se Deus pudesse realmente me ouvir, eu já estaria no inferno.
Se ele pudesse saber todas as vezes que olhei para mulheres na rua, desejando saber como seria seu toque, todas as vezes que me deitei com homens por poucas moedas, sentindo nojo de mim mesma depois.
Todas as vezes que desejei ser capaz de matar quem féria os inocentes nas ruas por puro prazer, eu nunca senti que poderia ser capaz de fugir de tudo, ou ter a coragem pra realizar qualquer coisa que envolvesse mais que apenas sorrir e fazer o que me foi mandado.
Mas talvez, algo tenha me dado essa luz que eu precisava.
Algo dentro de mim, me fazia pensar nela toda a hora, e temia que algo pudesse tirá-la de mim, isso fazia eu me sentir egoísta, mas eu não podia evitar de pensar...
Na única pessoa que me fez sentir vontade de fazer algo, e me deu algo pelo o que lutar, o algo que eu precisava, pra luz que estava apagada dentro de mim reacender como uma chama.
Mesmo que eu não a conhecesse ela me salvou, mesmo que eu não a conhecesse ela esteve lá por mim, ela não precisava, mas mesmo assim lutou por mim, e mesmo sabendo o o quanto eu era suja e desprezível, ela me aceitou, e no fim, e eu a aceitei.
E eu sou eternamente grata a ela.
A menina dos cabelos brancos que faz meu coração bater cada vez mais forte.
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Queime a Bruxa
Исторические романыO fim é apenas um início Dizem ver ao longe Uma menina com cabelos brancos que balançavam como neve no inverno Dizem ver ao longe Pegadas marcadas ao chão, pelo sofrimentos de inocentes Dizem ver ao longe Seu doce grito estridente, que ecoava p...