Queime a Bruxa

Viagem suicida

  Observei de forma ríspida enquanto o pedaço de maçã caia por entre as cobertas.

  Minha voz estava falha, só pude balbuciar por entre o pouco de razão que me restou depois do susto.

  - C-como?

  Ela se virou, olhando pra mim, sorrindo.

  - Parece que Belinda nunca falou de mim - disse encarando meu rosto de forma estranha - Que olhos bonitos os seus

  Minhas bochechas começaram a pegar fogo

  - Você é a Sra McBerry? Eu ouvi falar da senhora, mas... Eu lhe imaginava de outro jeito.. - Olhei pra baixo, ainda corada pelo elogio recente.

  - Me imaginava mais conservada?

  Gelei

  - P-pelo contrário... Te imaginava bem mais velha! - Não sei se isso foi rude, mas foi a primeira coisa que consegui pensar para rebater, de fato, eu a imaginava mais nova.

  - Está tudo bem pequena - ela sorriu saindo de perto da janela e se dirigindo a beira da cama - Por que não termina de comer? Já que sua maçã não estava tão boa - ela riu com as mãos nos lábios.

   Era estranho, mesmo com ela falando essas coisas, como se deixasse claro que deveria me sentir a vontade... Eu não me sentia.

   Meu corpo não me permitia relaxar, meu coração palpitava, pensando que a qualquer momento algo aconteceria, e isso levaria a minha morte.

  Minha guarda estava sempre levantada, talvez esse seja um dos motivos de eu ainda estar aqui.

  Sra McBerry me olhava, esperando eu comer alguma coisa, seus olhos se dirigiam a mim e a bandeja, respectivamente, fazendo-me ficar inquieta.

   Observei o prato de forma mais abrangente, finalmente notando um pequeno pedaço de pão em sua ponta, com um caldo deslizando de seu miolo, que eu estava torcendo para ser um ovo.

    O peguei com cuidado, e mordi de forma delicada, sujando mesmo que sem querer um pedaço de bolo que estava logo abaixo do meu queixo.

    - Oh querida, vejo que estava com fome, mas tome cuidado! - Sra McBerry chegou mais perto, tentando limpar com os dedos a pequena fatia de bolo recém ensopada.

    - Está gostoso?

    - Muito!

   E estava mesmo, tanto o cheiro quanto o gosto, eram incríveis, pareciam ser recém assados, fazia muito tempo que não comia algo tão fresco, era incrível!

   Mas... Talvez o gosto... Ou o jeito que foi preparado... Me fazia lembrar de alguém...

  - Mãe...

  - Hm? Disse alguma coisa querida? - Ela chegou seu rosto perto do meu.

  - Não! Nada! - dei um pequeno pulo pra trás, com o seu ríspido chamado, eu estava sonhando acordada denovo.

  - Mãe... Não é?

  A olhei de forma curiosa.

  Ela se afastou, colocando o bolo em cima de uma cômoda, e tomando assento a beirada da cama, observando novamente a janela de forma melancólica.

  - Eu sou mãe também, então acho que sei como se sente... - ela deu uma pequena pausa - Sinto falta de meu filho, sabe você me lembra muito ele.

  - Ele morreu? - falei rapidamente sem pensar, olhando para meu pão com ovo pensando se não fui muito direta ou intrometida.

   Eu com certeza fui