Olhar Assassino

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Realmente ele não estava errado, era estupidamente fácil reconhecer aquele lugar.

Musgo cobria as paredes, e mofo as janelas, ela estava coberta de poeira o que fazia Bel dar uns espirros disfarçados ao se aproximar, mesmo em uma cidade como essa, esse lugar não se compara nada a casa ao lado, que apesar de caída ainda tinha um rosa fraco cobrindo seus tijolos gastos.

Bel se aconchegava atrás de mim, parecia relutante em prosseguir, eu definitivamente não a culpava.

- Vai ficar tudo bem, vamos pegar ela, você vai ver!

Pude ouvir um barulho de suspiro atrás de mim.

- Eu sei boba, eu não tô ansiosa... - disse de forma completamente ansiosa.

- isso é o que alguém ansioso diria.

Senti um pequeno tapa em minha orelha, seguido por risos involuntários da nossa parte, acho que isso me deu a coragem que eu precisava.

Respirei fundo encarando a visível sujeira da porta de madeira clara.

Peguei a chave em mãos e girei na maçaneta enferrujada, a porta ocilava, mas depois de muitas tentativas vãs ela abriu.
Era escuro, ao ponto de não conseguir ver nem dois passos a minha frente direito, o chão rangia com os meus passos como se tivesse prestes a desabar.

Ela estava logo atrás de mim com suas mãos agarrando meu vestido, parece que ainda não estava 100% calma.

Seus móveis por mais de velhos pareciam ter sido bem caros, diversas tonalidades de branco cobriam a mobília que uma vez foi algo a se orgulhar.

Me pergunto quem vivia aqui antes, com certeza não era aquela idosa, nem roubando se consegue coisas assim, ainda mais trabalhando para te-las.

Talvez alguém da burguesia, mas não havia sentido alguém de tal patamar morar aqui, ou talvez Holshe tenha uma história maior que apenas uma cidade de má reputação.

Ou talvez eu só estivesse pensando demais
Acho que era o mais provável.

Eu estava tão perdida em meus pensamentos e teorias que só notei a presença de uma terceira pessoa no local, quando Bel me puxou pra trás.

Seus cabelos presos em um coque e duas verrugas destacadas não pertenceriam a mais ninguém.

- Como chegaram aqui? - sua voz estava gaga, mas parecia realmente irritada - Como vocês entraram!?

- Eu...- eu estava prestes a falar algo completamente irrelevante quando em um salto Bel correu em direção a velha.

- Devolva! Agora!

A idosa balançava com a força de Bel em sua gola.

- D...devol...ver o que...? - Ela realmente não estava nem um pouco controlando sua força.

- Cala a boca, e devolve sua velha coroca!

O que aconteceu com ela? Ela saiu de um coelhinho indefeso sorrindo nas minhas costas, para um animal feroz em minutos.

- Bel para!

Ela me olhou, a velha não parecia em seu melhor estado quando Bel parou de mexe-lá.

- Ela nós roubou! Temos que pegar de volta! - ela estava definitivamente muito brava.

- Calma - cheguei perto da senhora, e olhei bem nos olhos dela que ainda estavam girando

- Onde está o medalhão?

Ela riu

- Que medalhão? - ela estava muito calma, ainda mais pra situação em que estava.

- Se você não disser onde você o colocou eu não vou a impedir de cuidar de você.

Bel sorriu pra mim e encarou a senhora.

- Sua...

- Vovó! - uma voz infantil surgiu de um dos quartos.

Ela se calou e nos olhou relutante.

Me aproximei da porta do onde veio o som devagar, pude ouvir pequenos passos fui em direção a maçaneta, mas antes de poder alcançar algo me jogou ao chão.

- O que você fez com a vovó? Sua monstra!

Era um garotinho que segurava minha barriga com força, mas não me causava dano nenhum, por que será não é mesmo?

- El... - Bel gritou em surpresa

- Tá tudo bem, eu tô bem - disse ofegante pela queda.

- Eu te peguei - o ruivo disparou

- Não - Segurei sua mão e o prendi a parede - EU te peguei

- Me larga! Me larga sua monstra!

- Pare! Por favor! - Santa usava sua mão disponível para tentar me alcançar.

Sorri

- Quer que eu solte ele? - larguei seus braços da parede e o segurei pela barriga puxando seu cabelo pra trás - Então devolva o que você roubou!

- Vó! Vovó! Me larga! Vó!

Ela me olhava com nojo enquanto trincava seus dentes.

- Tá! Eu te dou! Mas solta o Will AGORA!

- Não até você me dizer onde tá

- DIZ AGORA! - Belinda a remexeu denovo, agora com mais raiva.

- No quarto, na segunda gaveta, agora solta ele!

A encarei segurei o menino contra meu peito, o fazendo não conseguir ter qualquer movimento, e claro, o mantendo na mesma posição.

Entrei o quarto, ele diferente da casa, parecia limpo e arrumado, se você não ligar prós brinquedos de madeira no chão e as paredes desenhadas com cores diversas e rabiscos de criança.

Avistei a cômoda, era bem bonita, mas como toda a casa, velha e mal cuidada.

Abri a segunda gaveta como ela disse, lá dentro havia desde charutos velhos a pedrinhas com rostos. Mas lá no fundo eu enxerguei, o brilhante do ouro reluzindo.

Peguei o colar e como prometido, larguei a criança.

Ela foi correndo aos braços da avó, que se soltou de Bel e a recebeu com carinho
.
- Vó! Eu tava com tanto medo daquela monstra!

- Eu tô aqui Will...vovó tá aqui...

Seria realmente uma cena linda de amor familiar, se não se tratasse de uma ladra e um menino de suspensório.

Bel me encarou, depois voltou a mirar a velha.

- Você está livre dessa vez...mas se você fizer mais alguma coisa conosco... - ela fez um sinal de pescoço cortado com o dedo, de forma muito artificial.

Não pude deixar de rir, Bel realmente não servia para se fingir de durona.

Santa me olhava de forma assassina, realmente aquela mulher me assustava, mas não podia perder a oportunidade.

- Vamos Bel, já está na hora do café, a senhora e seu neto não negariam nos servir um pelo inconveniente não é?

Santa me encarou com a Criança nos braços, depois encarou Bel, que ainda fazia o sinal a olhando com raiva.

Ela rangiu os dentes, parece que entendeu o recado

- Claro que eu pagarei pra vocês! - ela expressava um sorriso totalmente falso.

Mas se envolvesse um almoço de graça, eu realmente não me importava.

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