Um chamado pra ansiedade

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    Um doce cheiro de torta recém assada cobria meu nariz dançando suavemente pela sala, meus olhos abriram suavemente em sinal de desejo, eu não estava mais no celeiro.

     Uma doce casa, rodeada de flores coloridas, que brilhavam por entre o tom pálido da madeira envelhecida, pequenos objetos feitos a mão se espalhavam pelo chão, a maioria não havia sido terminado.

     Mas havia um cheiro, que transparecia todo o lugar, um cheiro famíliar, que roubava a cena trazendo um aroma forte as minhas narinas.

    Incenso.

    Barulhos de passos ecoaram pela pequena sala de estar, estava em um sofá remendado de tons frios com um cobertor por cima de meu corpo gelado, mas foi só quando recobrei a consciência, que pude ver onde estava.

    - Ellie! Você finalmente acordou, estou terminando de fazer a torta, espero que não esteja com fome! - uma risada fraca mas estranhamente familiar veio as minha costas.

    Me virei rapidamente, encarando por alguns segundos tentando absorver o que via.

    Uma longa saia branca com rosas bordadas que dançavam por entre suas pernas grandes, um blusão feito a mão com fios da mais baixa classe, uma mulher, com seu enorme cabelo cacheado preso a um coque frouxo, indo para todos os lados, enquanto tentava não queimar a torta de maçã.

   Mãe...

    Ela a puxou com um pano, se virando a mim sorrindo - Está pronto meu amor, vem vamos comer! - seu doce sorriso me comovia, retirei as cobertas de mim, levantando, desejando inconscientemente para que se fosse um sonho, ele não acabasse.

    Mamãe colocou os pratos a mesa, me servindo consideravelmente do doce pedaço de maçã, ela me olhava, esperando que se juntasse a ela na mesa, não pude negar.

    - Espero que goste, é a sua favorita - me sentei a mesa, não deixando de a olhar, estava tão espantada e comovida, era tão bom vê-la.

   Peguei um pouco do meu prato, logo me deparando o quão doce estava, ela realmente nunca acertava as medidas certas, mas não pude culpa-la, eu nunca falei que estava ruim, então ela não tinha como saber.

   Ela olhava pra mim sorrindo, esperando uma resposta.

    - Está ótimo mamãe, obrigada...

     Ela abriu um largo sorriso, levantando-se e indo até a direção de seu altar, retirando e depositando ali 3 moedas de bronze que ganhava diariamente por ensinar as crianças da vila.

    Ela juntou seus braços fazendo uma oração silenciosa enquanto acendia uma vela.

    Sempre tive curiosidade em saber como ela conseguia fazer isso sem olha-la, mas talvez eu nunca pudesse entender de fato.

    Mamãe era muito religiosa, mas nunca me ensinou sobre, ela dizia "você pode ter opção assim como eu, mas eu ficaria muito triste se você saísse da católica", sabia de seu medo, já havia perdido a irmã por negligência religiosa, mais que ninguém, ela sabia o que acontecia caso descumprisse Deus.

    Ela levou a vela até mim a posicionando sobre minha cabeça, murmurando baixinho bençãos de suas crenças, eu nunca realmente fiquei doente, então não posso dizer que não funcionou.

   A observei, parecia tão concentrada, ela realmente amava isso, ter se desvincilhado, ir atrás do que acreditava ser o certo, eu sempre tive orgulho dela por isso, e mais que tudo, eu amava seu jeito rebelde e amoroso de ver o mundo com seus próprios olhos e crenças.

    Seus murmúrios começaram se tornar palavras, que chegavam de forma rude aos meus ouvidos, mas não conseguia decifra-los.

   Seus olhos abriram, e a vela se apagou, se abrindo em um enorme sorriso, ela colocou a vela a mesa se aproximando de mim, com sua boca em meu ouvido.

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