Criatura Longínqua a Luz Da Lua

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     O céu brilhava uma luz pálida que cobria meus olhos, meu coração acelerava junto com o brilho e sons das Fogueiras, que queimavam sem pudor.

      Eu estava fraca, com medo, coagida, não conseguia me mover enquanto as pessoas nos cercavam.

     7...8...10... não conseguia contar, eu pensava que era uma pequena vila, mas naquele momento eu estava me sentindo como uma formiga cercada de enormes tamanduás, prontos para me devorar.

     As mulheres me observavam da janela, choros de criança inundavam meus ouvidos, seus olhos de medo e reprovação, seu semblante preocupado, seu coração cheio de amargura.

    Alguns homens chegavam mais perto, carregando tochas improvisadas, pedras de tamanhos distintos e enxadas em formato de confronto.

     Bel rapidamente se colocou na minha frente repetindo "Afastem-se!, Afastem-se!"

     Eu estava trêmula, não conseguia me mover, eles chegavam mais perto, tudo parecia estar caindo, eu tremia.

     O luar estava cada vez mais claro, iluminando meus cabelos, fazendo-os quase brilhar a luz da lua, isso não era um bom sinal.

     O vento não cessava, as fogueiras aumentavam e sua raiva também, suas hastes e enxadas subiam aos céus, com sua reprovação eminente.

      Respirei fundo, tentando recobrar minha consciência para não cair, coloquei um passo a frente e me pronunciei:
    - Parem! Eu não sou uma bruxa e não vou machuca-los, mas por favor parem!

     Um dos homens que tomava a frente saiu do grupo e chegou mais perto levantando uma foice de metal, quase do seu tamanho e tão aterrorizante quanto:
   - Não a ouçam! É uma bruxa, é o cabelo do diabo! Ela vai nos amaldiçoar a seguir o caminho das trevas! Vamos todos morrer, matem-na!

     Em um grunhido todos aprovaram seu manifesto e vieram para cima de nós, em um impulso, Bel apertou meu braço e correu por entre uma brecha do grupo, ela corria rápido, dava pra ouvir seu coração pulsando mesmo a velocidade que ela retinha, a adrenalina percorria em todo o meu corpo, me enchendo por inteira, nossos corações pareciam conectados com nossa velocidade.

     Seus cabelos e vestido seguiam seus passos, quase encostando em meu rosto, sentia minhas pernas ficando cada vez mais fracas, eu nunca estive tão amedrontada.

     Ela sabia disso, era como se, a cada aperto que dava em meu pulso, ela dissesse "está tudo bem, vamos ficar bem", e eu me senti mais segura, a Bel tinha esse poder, mesmo eu não a conhecendo direito.

     Corremos por entre a floresta, entrando por entre os arbustos, os galhos nós consumiam, senti eles rasgando minha pele, logo seguido de uma queimação.

     Não sei se foram minutos correndo, mas pareciam horas, a luz já estava em seu pico, fazendo toda a floresta brilhar, a dor só aumentava e os cortes também, era um lugar densa, com galhos, árvores e principalmente, espinhos

     Bel tentava esquivar de todos os que conseguia, mas a maioria a atingiu, tentei faze-lá parar, estava muito ferida, eu não queria que ela se machucasse mais por mim ou por minha causa

    Mas eu não queria morrer, eu sentia em mim, minha cabeça formava minha morte em cada detalhe e cor, a dor que eu sentiria, as perdas de voz e consciência, eu continuei pensando, imaginando e temendo, mas mesmo com isso, a Bel era mais importante.

      Travei meu braço, fazendo-a parar bruscamente, ela me olhou assustada:
   - Ainda estamos perto, eles vão te achar! Temos que correr!

    Ela puxou meu braço novamente, mas eu resisti
   - Não, vamos parar aqui, estamos longe, e você está ferida
   - Não liga pra mim, vamos logo!

   Seu rosto estava completamente sujo, arranhões cobriam sua face a deixando quase irreconhecível, além de seu vestido e sapatos estarem completamente rasgados e surrados.

    Ela havia absorvido tudo o que pode pra ela, os cortes, a sujeira e a culpa.

   - Bel, tem uma clareira não muito longe, eu vi as luzes (menti), vamos descansar
    - Mas... - ela tentou rebater
    - Tá bom?
    Ela continuava relutante, sabia que não queria parar.

    Em um salto eu a abracei, como se soubesse exatamente o que ela precisava, e de fato eu sabia, mas não sabia como.

   Tentei a reconfortar no meu abraço. segurando sua mão e colocando sua cabeça por entre meus ombros.

    - Ta bom? - repeti

     Ela me abraçou de volta, confirmando com a cabeça, parecia que queria chorar, fazia tempo que não a via assim, não sei se era por causa da dor dos cortes, ou pela culpa que ela talvez sentia por ter deixado isso acontecer, por mais que eu soubesse que no fim era eu que havia decidido isso.

     Ela sempre se culparia, eu também, se estivesse em seu lugar.

    - Não sei o que está pensando agora, mas se estiver se culpando, eu juro que vou te dar um tapa.

    Senti lágrimas percorrendo meu corpo, ela me abraçou mais forte.

   - Me desculpa... Hinf El... Me...

    - Vai querer o tapa? - disse rindo

   Não conseguia ver seu rosto, mas acho que ela sorriu também.

   Bel insistiu em ficar de vigia no primeiro turno, " Eu quero te cuidar!", Mas óbvio que eu não deixei "Você só vai me cuidar quando estiver bem, vai dormir!"

    No fim ela acabou cedendo

   Fizemos uma cama de folhas no chão, perto de um tronco de árvore que deve ter sido deixado por um lenhador inexperiente, ou uma catástrofe da natureza.

    Me sentei nele e olhei para o céu, finalmente contemplando sua beleza, a luz da lua estava realmente linda, seu brilho inundava a floresta escura, a deixando quase amigável, as folhas das árvores caiam no chão ao nosso redor, o outono finalmente estava chegando.

     Senti como se algo me invadisse, algo bom, e finalmente me senti segura.

     Como se cada uma daquelas estrelas estivessem brilhando apenas para mim, como se quisessem me mostrar algo, falando "olhe para nossa beleza, olhe para nós"

    Senti meus pés andando sozinhos, comecei a dar voltas em gestos de dança, em volta das árvores ao brilho da lua.

    Senti meu coração disparar, meus ossos relaxados, e minha mente completamente distante, comecei a dar piruetas e girar, imitando dançarinas que trabalhavam em lugares a noite, como os heróis das histórias que minha mãe me lia.

    Ali estava apenas eu, Eu e a lua

    Quando ouvi um barulho, um som abrupto, surgindo por entre a mata.

    Meu coração disparou, minha mente se dissipou dos bons pensamentos e a inquietude voltou a tona, passos e a respiração alta de alguém, como se classe pela minha atenção.

    Fui chegando perto, devagar, em sinal de defesa, pensando no pior "nós acharam?, Vão finalmente me matar?"

   Puxei uma dos galhos dos arbustos e quando menos percebi uma voz masculina falou em formato zombeteiro

    - Como vão moças bonitas, querem companhia?

    

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