Cidade em decomposição

17 4 18
                                    


Meus sentidos cintilavam com a cor púrpura da cidade a noite, que emanava em meus olhos como um feixe de luz vindo diretamente do céu

Pessoas bem vestidas, com roupas de diversas camadas e tamanhos, enfeitavam as ruas pálidas com sorrisos ao anoitecer

Pude sentir meu coração pulsar conforme meus olhos passavam por entre seus rostos, me senti totalmente maravilhada observando meu entorno.

Não sabia que havia uma cidade portuária tão próxima dali, um enorme centro comercial cheio de pessoas e casas, vendendo diversos tipos de produtos caçados ou forjados.

Eliard me conduzia pelas ruas, passando por entre as pessoas, enquanto vigiava fixamente suas costas para saber se o acompanhava.

Meu coração batia um pouco mais forte em relação ao cenário que vinha em minha volta, seus olhos verde escarlate ofuscavam minha visão tanto quando os vestidos ornamentados a ouro das senhoras que passavam ao nosso lado

Pude ver seu sorriso brilhar por entre as conversas paralelas das pessoas ao redor, por alguns segundos, seus olhos pareceram uma pintura de *da Vinci

- Cuidado para não se perder my lady - disse enquanto dava passos atrás, pegando meu ritmo ao caminhar, agindo como uma tocha a um minerador, iluminando meus passos na rua pouco iluminada

- Eu não vou - sibilei, ainda maravilhada ao meu redor, a luz fraca de velas iluminavam as barracas que se estendiam por toda a estrada de terra, as casas erguidas com cores pastéis davam um tom melancólico a noite, como estátuas de um castelo.

Meus olhos viravam-se para todas as direções, enquanto tentava não perder Eliard de vista, observando sempre seu topete vermelho cobre por entre a cabeça das pessoas.

Quando por um segundo, me senti mais quente.

Um calor momentâneo caía sobre minha mão desnuda, a segurando de forma gentil, fazendo-me perder a concertação por um breve momento.

- Para ter certeza - ele sorriu, puxando-me por entre as pessoas com seu tom caloroso e melancólico, que so ele poderia ter

Fiquei um pouco assustada naquele instante, mas não estava brava, sua mão era quente e dava-me uma sensação breve de conforto, parecendo uma mãe pássaro cobrindo seu filhote com suas asas na hora de dormir.

Aceitei-a, fazendo-o aumentar seus passos, enquanto me guiava por entre a cidade, parando em uma casa de madeira, decorada com cores neutras e uma placa entalhada em seu entorno

"Taverna"

Dei um passo a trás, um pouco cautelosa o fixando de forma sombria.
Por um momento, duvidei de suas intenções.

- Não se preocupe querida, é um velho conhecido meu, não irei lhe dar nada que não queira - seu sorriso caloroso fez-me repensar se era realmente certo o acompanhar até lá, mas não podia simplesmente dar meia volta ou fazer uma cena.

Eu o segui
Seria imoral

Dei um passo a diante, observando com mais calma seus detalhes.

A parede a esquerda estava manchada com um líquido escuro, e em suas dobraduras, um pequeno tufo de mofo se espalhava como um verme em fase de reprodução, algumas flores em vasos finos cobriam as janelas, colocadas estrategicamente para esconder as avarias da soleira.

Dois homens de cabelo ralo e roupas excêntricas sentavam-se em bancos na sua frente, rindo enquanto bebiam falando sobre algo que tive de me esforçar para compreender.

- Vós Misser esteve a ouvir sobre vossa majestade? - o da esquerda, mais alto que seu amigo, balbuciava palavras por entre os goles, batendo na mesa em desdém, seus olhos pareciam avelãs torradas, e sua roupa tão mal engomada que pude sentir o cheiro.

Queime a Bruxa Onde histórias criam vida. Descubra agora