5

92 17 25
                                    

SIMON

Na noite do aniversário do cretino, eu estava em casa com Chaz, tentando impedi-lo de roubar os scones que eu tinha trazido do trabalho e comia no sofá. Quando enfim consegui distrair o gato, jogando a bolinha vermelha para ele pegar, desbloqueei o celular e abri o instagram.

Comecei a assistir os stories de Aggie, até que surgiu uma selfie com ele. Agatha, como sempre, belíssima, e Baz... estava sorrindo. Mostrando os caninos – afiados como as presas de um vampiro – que matinha escondidos por detrás dos lábios sempre que se aproximava de mim. Baz nunca me mostrava seus sorrisos genuínos... sua risada...

O tempo do story acabou, mas a foto era acompanhada de uma série de vídeos recém postados: Basilton conversando alguma coisa com Ginger, Basilton rolando os olhos para Agatha e reclamando da filmagem, Basilton incomodado com o coro de "parabéns pra você", Basilton sendo beijado pelo namorado...

Eu não devia ter comido todos os scones que trouxe, ou devia ter passado menos manteiga neles, porque sei que foi isso que me impediu de dormir, que causou o desconforto no fundo do meu estômago naquela noite.


BAZ

Eu bebi mais do que planejava. E estaria tudo bem: é meu aniversário, eu sou adulto, responsável pela minha bunda, mas... Lamb veio para casa comigo.

Ele foi ao banheiro e eu segui para o closet – não é um pouco de álcool que me fará dormir com algo que não seja meu pijama de seda. Contudo, esse "pouco" de álcool é mais que suficiente para me fazer confundir as coisas. Levo alguns segundos para perceber que abri a gaveta de gravatas e menos de um para começar a fazer merda.

Meu cérebro, ligeiramente embaralhado, decide que é uma boa ideia pegar aquela gravata específica. Ela se desenrola teatralmente em meus dedos, marsala, como sangue escorrendo em minha palma. É uma bela sucessão de erros: pego a gravata, lembro daquela noite, lembro dele, encosto a gravata em meu nariz e respiro profundamente.

O ponto crucial é que: quando percebi que tinha trazido a gravata errada para casa, ao invés de fazer qualquer coisa lógica, pensada, sã, racional... eu simplesmente a enfiei na gaveta. Eu nem sequer mandei lavar! O que significa que, quando eu puxo o ar para os meus pulmões, ainda há um mínimo resquício do perfume dele ali.

Lamb me encontra dentro do closet. Cheirando o tecido e chorando ridiculamente.

– Baz? Amor... o que foi? – ele está menos bêbado que eu. – Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

– Sim... Sim, aconteceu – eu deveria ter parado por aí.

– O quê? O que foi?

– Lamb, você está apaixonado por mim? – eu digo no meu tom de voz habitual, talvez um pouco mais arrastado. Os olhos dele parecem confusos por um momento, mas logo se suavizam.

– É claro que sim! Baz! Claro que estou. Você não tem que se preocupar com isso, príncipe Basil.

– Bom... mas eu não – o sorriso dele diminui gradativamente. Maldito álcool.

– Hum... o quê?

— Eu não estou. Não estou apaixonado por você, Lamb.

– Ah.

– Eu gosto de você. Gosto da sua companhia. Gosto quando a gente transa. Mas não sou apaixonado por você. Não consigo... não sei se vou conseguir me apaixonar por você um dia. Não... acho que não – despejo em cima dele o que vinha guardando só para mim.

scones de cerejaOnde histórias criam vida. Descubra agora