Minha Pessoa Abençoada - Livro 2 - Série Encantadores

Capítulo 16

7:46 p.m.

– Por que não adota um gato? – pergunto para Shane.

Estamos no cinema, aguardando o nosso filme começar, sentados na última fila, um do lado do outro.

– Porque eu não vou ter tempo pra cuidar do gato. Coitado do gato, aliás – ele responde.

Shane está num mau humor dos infernos. Se houvesse uma TPM masculina, seria nesta fase que eu diria que meu amigo está agora porque nenhum de nós conseguiu ainda entender o que se passa dentro da cabecinha dele. No começo, achei que fosse porque ele está homesick. Depois supus que o problema tivesse a ver com Cass. Depois com Zoey. Agora começo a achar que o problema é comigo.

Na verdade, o problema claramente é com ele. Shane não está feliz com alguma coisa dentro de si mesmo, mas dizer isso em voz alta pode magoá-lo e entristecê-lo mais do que ele já está.

– Bom, eu posso passar no apartamento pra cuidar do gato por um tempinho depois da aula quando eu não estiver trabalhando. Aí ele não fica sozinho – digo.

– Isso não vai resolver nada, baixinha. – Shane coça os olhos, que ficam levemente vermelhos quando ele termina de esfregar seus dedos ali.

– Te compro de presente uma passagem para Calgary – dou minha cartada final. Já não sei mais o que sugerir para ele ficar melhor.

Shane se afunda na cadeira do cinema, olhando para a tela um pouco perdido. Sei que uma passagem para Calgary, ainda no meio do nosso termo, só vai atrapalhar a vida de Shane. Tudo bem, ele poderia passar o final de semana e voltar sem se prejudicar na matéria da professora Wang, mas acho que nem para isso ele tem vontade.

– Eu posso me transportar para Calgary se eu quiser – Shane diz.

Me esqueci desse detalhe. Gasta um bocado de Enon e ainda pode ser perigoso para pessoas com pouca prática como nós, mas é totalmente possível.

– Shane, eu quero te ajudar – choramingo. Ver meu amigo nesse estado está me deixando triste.

– Só assiste esse filme comigo, então. É só disso que eu preciso agora.

Suspiro, me dando por vencida, e toco carinhosamente o braço dele. Sei que isso não será o suficiente porque não tem sido o suficiente há algum tempo. Shane está feliz com o trabalho, então sei que o problema não é esse. Aliás, desconfio que o problema não esteja debaixo do meu nariz porque eu já o interroguei a respeito de tudo o que envolve a sua vida hoje.

Menos uma coisa.

– É o Jake, não é? – pergunto.

Sem virar a cabeça, Shane me fita de soslaio ainda com o olhar baixo.

– O que é o Jake?

– O motivo para você estar assim.

Pensei em tudo e todos que o cercam e que fazem parte da sua rotina em Ottawa. Menos a pessoa que eu sei que ele gostaria que tivesse continuado em sua vida.

Desta vez, Shane não responde. Ele só se afunda ainda mais na cadeira, completamente torto e largado.

A amizade dos dois é a definição de Bromance. E um Bromance que completou aniversário de 10 anos recentemente. Digo, se Jake ainda estivesse conosco. Faço tanta força para não falar sobre Jake com Shane, mas agora acho que se eu tivesse trazido Jake mais vezes à discussão talvez Shane se sentisse mais confiante no meu propósito de desfazer o encanto.

– Você está sentindo falta dele, né? – digo.

– Um pouco.

– Shane...