Capítulo 27

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Não é possível. Não pode ser isso. Como Jake seria um Heller? Ele passou dez anos ao lado de Shane. Shane teria notado. Eu teria notado. Digo, eu acho que teríamos notado, apesar de na época não sabermos o que eram Hellers. Eu teria percebido algo minimamente estranho através da nossa empatia, mesmo sem saber se a empatia continuaria igual nesse caso.

Começo a buscar no meu passado qualquer outro indício do que acabei de supor. Porque não tem sentido Jake ser o Heller que me marcou e ter aberto um canal para me matar e no final das contas ele perder a avó, o irmão e a namorada no processo. Aliás, Jake não é um assassino. Sempre brinquei que ele era um viking e gostava de matar monstros online, mas eu duvido que ele mataria pessoas inocentes, com quem ele conviveu pelos últimos 10 anos, apenas para me desintegrar.

No entanto, a Professora Wang disse que a minha marca tinha um cheiro forte de mágoa e Jake de fato parecia magoado comigo quando deixou a minha casa da última vez que ele foi lá. Além de ela achar que eu conhecia a pessoa que me marcou há mais de uma década e que o cheiro estava passando para o Shane. Talvez porque Shane conhece Jake há mais de uma década.

E eu nunca fui até a casa dele para saber se as paredes estavam revestidas de encantos como foi na casa da família Sanders.

Não enxergo outra razão para eu ter ficado obcecada com Jake se não que ele mesmo tenha me feito sentir isso através das suas intenções. Mas qual seria o ponto de Jake me querer apaixonada se ele não tem mais lembranças boas de mim? E como diabos ele perdeu todas as lembranças boas de mim? Não consigo entender o porquê por trás disso tudo. Não pode ser isso. Tem que ser outra coisa.

Ouvimos a sirene dos bombeiros chegando ao mesmo tempo que as pessoas disparam para fora do bar correndo, machucadas, algumas deslizando pelas escadas, mas todas com muita pressa. Tento encontrar Jake no meio da multidão em vão. Ele não saiu ainda. Todos os clientes se afastam da entrada o máximo que conseguem para abrir espaço mesmo com um pouco de fumaça ainda saindo pela mesma porta que eles.

Nadia deixa o bar sangrando. Meu primeiro impulso é ir até ela para ajudá-la, mas eu duvido muito que ela queira me ver depois do que o que o meu pai falou. As palpitações no meu peito, que agora devem estar atingindo a faixa dos 150 por minuto, me paralisam quando, enfim, enxergo Jake tranquilamente saindo do bar. Ele desce as escadas despreocupado, olha para os lados como se estivesse procurando algo e após alguns segundos, vai embora na direção da sua casa.

Ele foi o último a deixar o bar. E o único a sair sem desespero.

Meu estômago se embrulha e meus olhos marejam no mesmo minuto.

– Filha, fecha as mãos – meu pai diz e eu o encaro sem entender. – Você está perdendo Enon. Feche as mãos.

Olho para baixo apenas para enxergar uma fumaça branca deixando as pontas dos meus dedos. Comprimo as mãos com força, tentando controlar o máximo que posso as lágrimas, mas não consigo.

Como se meu pai não tivesse me dado uma bronca e me constrangido na frente da minha chefe apenas alguns minutos atrás, ele me puxa mais para perto, para um abraço, quando começo a chorar.

Jake é um Heller.

Jake me marcou.

Não há outra explicação para ele ter sido o último a sair do bar e o único tranquilo com a situação toda. Ele sempre foi ansioso e tinha reações rápidas a tudo. Eu imaginei que ele seria o primeiro a se jogar para fora do bar para salvar a própria vida. Mas não. A não ser que algo tenha mudado na personalidade dele no último ano, Jake sabia que não estava correndo perigo. Provavelmente porque como foi ele quem criou a explosão, ele também deve saber algum encanto para não se machucar.

Minha Pessoa Abençoada - Livro 2 - Série EncantadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora