Minha Pessoa Abençoada - Livro 2 - Série Encantadores

Capítulo 22

2:50 p.m.

Passo uma página e depois outra. Depois mais outra. E aí olho de novo o símbolo que me falta. Eu sei, eu já deveria ter decorado todos os traços desse símbolo dos demônios, mas nem sei quando foi a última vez que dormi por uma hora seguida. Tenho passado as madrugadas em cima dos livros. Um dia desses esqueci até de tomar banho. Não estou mais conseguindo angariar Enon e meu pai disse que é por conta da exaustão. De vez em quando ele vem aqui na biblioteca para me trazer um copo de café, que eu acabo tomando até a metade porque a cafeína me deixa muito mais ansiosa do que já estou para encontrar esse símbolo.

Dou um longo bocejo e sinto os meus olhos ficarem um pouquinho úmidos. Acabo bocejando de novo. E de novo porque é só isso que eu faço o dia inteiro além de quase dormir em pé nessa biblioteca. Mesmo não roendo unhas, acabei com todas as minhas nesta última semana.

Nunca, em toda a minha vida, me vi ansiosa dessa forma. Acho que mesmo com o Enon mascarado, Marvin está influenciando as minhas emoções. Não tem outra explicação. Digo, é claro que não aguento mais esperar para ver Jake de novo. Estou morrendo de saudades dele e quero mais do que tudo abraçá-lo bem forte. Quero comemorar o seu aniversário ao seu lado, como não pude fazer no ano passado. Mas eu queria tudo isso um ano atrás exatamente da mesma forma. A única coisa diferente entre hoje e um ano atrás é Marvin nas minhas costas. Tão ou mais apaixonado do que eu por Jake. Eu nem entendo como Marvin pode amá-lo tanto.

Meu celular vibra sobre a mesa de madeira da biblioteca e corro para pegá-lo e interromper o barulho alto que a tremedeira toda dele está causando. Há um número desconhecido de Ottawa me ligando. A porta da biblioteca está muito longe para que eu só atenda depois de sair. Portanto, me enfio entre duas fileiras de livros, bem no fundo da biblioteca e atendo baixinho.

– Alô – digo.

– Vem ver a gente, mamãe Haley! – ouço a voz de Jasmine do outro lado da linha e um arrepio percorre toda a minha espinha.

– Jas?

– Você vem? – ela pergunta.

Antes que eu consiga responder, ouço o telefone sendo pego por outra pessoa pois a voz de Jas fica bem longe de repente.

– Oi, Haley – Mrs. Ghorbani me cumprimenta e meu pescoço fica duro na mesma hora. – Desculpa a empolgação das meninas. Eu falei que ia te ligar, mas a Jas nem me deu tempo de digitar o seu número, já foi tomando a dianteira.

– Sem problemas. Tudo bem? – pergunto receosa.

– Tudo ótimo. Bom, estamos aqui em Ottawa e eu vou levar as meninas a um parque perto da sua faculdade. Eu queria saber se você quer nos encontrar por lá. Elas estão enlouquecidas com a possibilidade de te ver. A Jas até colocou o cordão com o dentinho dela em uma bolsinha para te dar.

– Vocês não vinham em fevereiro?

– Nós viemos, mas mil coisas aconteceram de lá para cá e... Bom, eu te conto tudo se você tiver um tempinho hoje para nos ver e matar as saudades das meninas. Elas não param de falar no seu nome desde que chegamos aqui. Me desculpe por marcar em cima da hora.

Ouço as vozes dos meus bebês no fundo dizendo que me amam e que estão com saudades e meu coração se enche de amor de imediato. Amo Jas e a bebê Haley, e poder brincar com elas certamente vai ser o auge da minha semana se eu encontrar apenas com as duas. Mas não posso me iludir achando que esse convite não tem segundas intenções. Não confio em Mrs. Ghorbani o suficiente para ter certeza que ela levará as meninas para qualquer ponto de encontro. Sendo honesta, não confio nem que ela estará sem outro Heller se o seu objetivo com esse convite for me desintegrar.