Capítulo 12

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O dia seguinte amanheceu lentamente, as nuvens demoraram a se afastar com a chegada do sol, quase toda manhã foi nublada. Esse era o lado ruim da Europa. Me sentia doente sem sol, precisava o sentir beijando minha pele, nem que fosse um pouquinho. Hoje parecia fazer mais frio que o normal e a maconha da noite anterior havia me deixado um pouco avoada. Não queria ver a cara assanhada de Robert, mas uma hora tenho que sair.
Jimmy já havia se levantado. Conseguia ouvir baixinho, ele dedilhando o violão na poltrona da sala, provavelmente. Me estiquei devagar e sentei na cama. Acordar em dias frios sempre foi difícil. Me preparei pra sair do quarto, e a medida que meu cérebro acordava começou a me lembrar incessantemente de recortes da noite passada. Por que os homens são desse jeito? É tão difícil pra eles serem sinceros? Eu não saberia o que fazer se descobrisse Jimmy mentindo pra mim.
Abri a porta do quarto, ele estava sentado de costas, na poltrona, tocando concentrado. Robert deitava no sofá ao lado, parecia ler um livro, um caderno e caneta estavam na mesinha de centro. Ambos não notaram minha presença ao abrir a porta. Ótimo.

- "Todas as fontes com o rio se fundem
E os rios com o oceano;
Os ventos, pelos ares, uns aos outros se unem
Com fragrante emoção;
Nada fica sozinho neste mundo;
Tudo, por fado antigo,
Entre si se mistura e se confunde:-
Porque não eu consigo? - Robert sentou recitando em voz alta. Ele levantou rapidamente o olhar do livro, tomando conhecimento de minha presença. Olhou-me por alguns instantes, havia surgido uma sombra de sorriso em sua face. Voltou a recitar - " Olha! As montanhas beijam o firmamento,
A onda, a onda enlaça;
Nenhuma flor-irmã tem valimento
Se o irmão não abraça;
A luz do Sol envolve a terra à roda,
Raios do luar beijam os mares: -
Mas toda esta ternura que me importa... - Olhou para mim novamente e finalizou - Se tu não me beijares?" - Percy Shelley! Esse cara é um gênio. - Disse e olhou para Jimmy.

- Aham - Jimmy concordou, ainda meio desatento, dedilhando seu violão - Um pouco dramático, não acha?

- O nome é romantismo. Você não entenderia. Tem a capacidade romântica do Nosferatu.

- Você devia usar essas palavras espertas pra terminar de escrever as letras de ontem, engraçadinho...

- Será que um dia serei capaz de escrever com tanta inspiração como Percy? - Robert fez um expressão sonhadora. Parecia um garoto. Argh, era fofo.

- Acredito que o jeito que você escreve já é o bastante.

- Bom, isso é o mais próximo de um elogio que conseguirei por aqui, tô satisfeito. - Pegou o caderno e a caneta e começou a escrever.

- Bom dia, baby. - Sentei no braço da poltrona e dei um beijo em Jimmy. Pude ouvir Robert engolindo seco, mas não tirou sua visão do caderno.

- Bom d... - Quando virou para mim seu sorriso desapareceu enquanto arregalava os olhos, assustado - Samanta, pelo amor de deus! - Ele saltou do sofá, colocando o violão em minha frente. Robert deixou escapar um sorriso e escondeu a cara atrás do caderno. - Que diabo deu em você? Vai vestir uma roupa!

Ah não, de novo não. Sinto meu rosto esquentar de vergonha. Apesar de não ser uma visão nova pra nenhum dos dois na sala. Robert olhou de relance, ainda sorrindo, e se pôs a escrever novamente

- Ô, droga! - Levantei com o violão cobrindo pobremente minha nudez - Eu poderia jurar que havia dormido completamente vestida! - Era ridículo, realmente dava vontade de rir, porém não me arrisquei. Ele parecia bravo. Corri para dentro do quarto novamente. Ele veio atrás de mim, fechando a porta.

- Samanta, que merda? - Falou com uma mão na cintura e a outra levantada, em questionamento.

- Desculpa Jimmy. Devo ter tirado a roupa enquanto estava dormindo. - Disse me vestindo rapidamente.

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