Capítulo 2

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Algum dia de 1969, eu estava decidida a não levantar da cama. Meu despertador foi lançado pelo meu bagunçado estúdio/apartamento, no coração da Califórnia. Adormeci feliz. Enquanto as pessoas iam para suas gaiolas empresariais, nessa ensolarada segunda feira, estava eu, esparramada em minha cama que estava provavelmente manchada de vinho.

A vida que nunca imaginei mas sempre quis.

Não mais que uma hora mais tarde, batidas estrondosas na porta inundaram a grande sala.

— INFEERRRRNO!!! - Abafei a maldição em meu travesseiro. Uma voz começou a acompanhar as batidas em minha porta.

— Acorda, Samanta! Minha flor tropical! Luz de minha pupilaaa! - A voz esganiçada de Robb cantarolava enquanto sua mão batia insistentemente em minha porta.

— Em plena segunda feira, Robb?! Você sabe as regras, vá pra merda. - Gritei cobrindo minha cabeça com o travesseiro e trocando impacientemente de posição na cama.

— Eu tenho dois presentes, vê se não me maltrata, broto. - Ele cessa as batidas e logo em seguida dá uma última, forte e solitária - Abre logo, caralho!

— A madame tá impaciente? - Abri a porta com uma de minhas mãos apoiadas em meu quadril. Ele entra imediatamente e se joga no sofá. - Que presentes são esses?

— Bem, bem... você me pede pra lhe ajudar em seus projetos e depois fica dando piti por acordar numa segunda. Mas, como não sou alguém rancoroso, vamos aos negócios.

— Ah deus, se soubesse não haveria me embriagado ontem. - Digo sentando pesadamente de pernas cruzadas na outra ponta do sofá - Desembucha.

— Ser sócio de um Beatnik seria menos estressante. Primeiro aos refrescos - Falou acendendo um cigarro e me dando outro. - Com uma boina você seria uma mistura perfeita de cigana e francesa.

— Por favor, foco.

— Você tem uma viagem marcada hoje. Irá para Plumpton.

— Que? Que diabos vou fazer em PLUMPTON?

— O seu trabalho, ora pomba! Lá tem uns nômades nudistas, uns hippies, que firmaram acampamento por lá.

— Ah, Robb! Só o que tem em San Francisco são malditos hippies pelados! Não preciso atravessar quase meio mundo para encontrá-los!

— Você disse que estava atrás de lançar obras primas fotográficas em sua exposição! Eles são perfeitos, e o local também acredite. Vai ser quase como se não existisse espaço e tempo, mágico! Richard já os viu quando estava em suas "férias'' - Ele fez aspas com os dedos -, ele jura que ninguém os fotografou ainda e que são realmente quase parte da paisagem de tão belos.

— Ele provavelmente estava chapado. - Ironizei já no fundo aceitando o fato de que ficaria horas presa em um voo, apesar de toda birra.

— Eu sei que você está adorando isso. Desde quando recusa uma viagem?

— É. Você ganhou.

— Ah, um detalhe, você só pode entrar pelada no acampamento deles. Mas vejo que não será problema.

— Ué? - Perguntei confusa.

— Mulher, você está nua.

—... De novo?! - Olho para baixo incrédula. Sim, de novo. Não me preocupo nem em me cobrir mais.

— Deus abençoe meus olhos puros de um anjo gay. Bem, dando as últimas coordenadas, você ficará hospedada em um chalé próximo a onde Richard disse que eles firmaram campo. Não precisa ir direto os fotografar, relaxa um pouco. Aproveite e conheça o local, explore!

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