CAPÍTULO 27 - A CHAVE

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"Tudo ocorreu tão rapidamente... A chave e o restante"

Uma nova noite começava a surgir, tornando as chamas ardentes a única luz do lugar.

O crepitar do fogo era o último som que provavelmente ouviria na minha vida.

O caldeirão havia sido enchido com água, e muitas vasilhas de legumes tinham sido trazidas e despejadas dentro dele. Mas o ingrediente que faltava, por sua vez, éramos nós.

Com o passar de minutos o local ao redor do caldeirão foi sendo ocupado por olhos famintos, enquanto apenas um assistiria o espetáculo na primeira fila.

Na parte central do acampamento, ao lado esquerdo do fogo, uma cadeira almofadada na cor vermelho vivo com panos dourados sobre suas curvas sucedeu de ser posta, para o Machado aproveitar o cenário da melhor forma.

Quando este apareceu, a sua aparência de um velho lenhador manifestou uma suavidade incomum, até os seus gestos no caminho para seu assento estavam leves, tão leves que poderia flutuar. Porém assim que sentou - se o silêncio foi quebrado por causa da sua risada histérica, que cada vez mais passava a transformar - se em um sorriso maléfico em nossa direção.

No momento que acalmou o seu espírito de histeria, os seus lábios curvaram - se, e sua língua soltou as palavras: — Que comece a diversão da noite.

De imediato alguns dos seus subordinados levantaram, logo apontando para o primeiro escolhido.

As cordas das mãos e dos pés de Miguel foram desatadas sem muito esforço e pressa, como se pensassem "temos todo o tempo do mundo"

O meu querido amigo não tinha modos de reagir a aquela situação, ele permanecia desacordado, portanto indefeso.

Desesperada pela vida daqueles que apoiaram - me tanto, tentei escapar. Mas por fim acabei não obtendo resultados, a minha força tinha sumido.

"Estava na hora de perder a esperança também?..."

A minha vista embaçou depressa, muitas lágrimas desciam incontrolavelmente, enquanto soluçava em pensamentos deploráveis.

"Ele vai morrer sem ter ninguém que lute por sua vida... Todos nós vamos morrer sem ver ninguém que amamos... Iremos morrer sem mesmo poder dizer adeus!"

Apesar da minha circunstância virei o meu rosto para o lado oposto do caldeirão, vendo distorcido o William, com seus cabelos escuros jogados sobre sua face caída.

Por alguma razão soltei palavras inaudíveis, esperando que as ouvisse, mesmo sabendo que ele e ninguém iria as escutar. Porquanto sobrava - me chorar e lamentar tal destino.

Todavia, repentinamente a voz de Machado incendiou o acampamento com ordens para matar - me antes de Miguel, então os que carregavam meu amigo paralisaram seus corpos em um canto o segurando, dando espaço para os de mais passarem comigo. 

— O que fazem seus IDIOTAS?!!! – gritou Machado exaltado. — Eu ordenei que a matassem, não falei matem e comam... Será que devo explicar tudo?

Todos os olhares pararam sobre ele assustados e confusos. Haviam preparado o caldeirão para o quê então?

"O que está acontecendo?" 

— Irão ficar encarando - me por quanto tempo seus IMPRESTÁVEIS?... PEGUEM QUALQUER PORCARIA E ACABEM COM ELA, AGORA!!!

"POR QUÊ?"

Não deu tempo para terminar de pensar, centenas de flechas alumiadas surgiram por sobre o céu como uma chuva de estrelas cadentes. Acompanhadas por pedras, lanças e espadas, mas não em mim, somente sobre aqueles que nos fizeram o mal. 

"No início era difícil explicar, como podiam armas acertar certeiramente o verdadeiro inimigo?"

O Machado havia descido de seu trono escarlate e provavelmente se refugiado, não tinha pista de seu paradeiro em meio ao incêndio. A loucura e o desespero tinha tomado todos os cantos, muitos corpos de várias maneiras estavam caídos sobre o chão, inclusive o do Miguel. Felizmente as chamas não chegavam perto dele, elas o evitavam magicamente.

Finalmente com o cair de outras lanças o caldeirão cedeu e derramou no solo sua água borbulhante e cheirosa, apagando algumas nascentes do ardor. Em seguida cordas flutuaram e amarraram - se aos seres que ali permaneceram, os apertando muitíssimo, concluí. Pois a boca que misteriosamente em nenhuma circunstância tinha apresentado - se existir, começou a abrir a partir do que considerei serem as bochechas. Ela foi alargando e contorcendo, crescendo até o peitoral num vazio escuro sem dentes e língua.

"Que tenebroso..."

Magicamente meus membros presos foram soltos, podendo enfim sentir a agradável sensação de esticar - me para todos os lados, contudo deixei essa alegria para uma hora tardia, uma vez que meus companheiros precisavam das minhas mãos.

Desamarrei em primeiro lugar a Mirella com muito esforço, estava sentindo - me demasiadamente fraca. Mas a coloquei encostada no toco, depois senti seu pulso que batia normalmente, apesar da sua aparência decaída. 

Quando levantei minha cabeça girou, estava fraca e tinha erguido - me depressa, por isso tropecei para trás, tendo sido rapidamente segurada por mãos fortes. Obviamente olhei para cima atemorizada. Mas por sorte recebi um sorriso amistoso.

— Não se assuste, ela nos chamou. – disse para mim, com o dedo indicador apontando para a chave no colar.

— ...

"As palavras simplesmente não conseguiram sair de meus lábios... A chave disse ele"

Afastei - me dele e o encarei ainda com receio. Eu estava vulnerável a aquela situação, portanto o medo achava - se crescente. Mesmo assim, ele aproximou - se e agachou na minha frente pegando minha mão esquerda, aonde a beijou. Nesse momento senti profundamente no meu ser a minha fraqueza desaparecer, havendo ficado apenas um ronco no meu estômago.

"Ai, que vergonha!"

— Espero que isso a faça confiar na minha pessoa.

— Quem é você?

— Acho que a pergunta certa é... Quem somos nós?

Dito isto, muitos vestidos iguais a ele apareceram. E com eles estava o Machado preso em correntes.

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⏰ Última atualização: Jul 31, 2021 ⏰

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