IMPURA

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Lily

Percebi o olhar do servo sobre mim, ele me encarava como se estivesse abismado. Não foi difícil supor do que se tratava.

-Sim, eu sou uma impura ...

Os olhos dele se arregalaram. Pela sua reação, percebi que cometi um erro. Mesmo assim, continuei:

- Eu nem devia estar aqui!

-Por que não?

Encostei a testa na mesa em profundo desalento.  Que tipo de pergunta era essa? Ele devia conhecer seu rei melhor que eu.

-É tão complicado! Se o comandante não me matar, o rei o fará!- Desabafei.

Disse e isso e levantei a cabeça abruptamente.

-E por falar no rei, ele está demorando, não?

-Quer vê-lo agora?

- Não! Não! Pelo contrário, só quero sair daqui sem ser vista. Ajude-me, por favor! -pedi.

Pelo modo que o homem me olhou, percebi que, para ele,  meu comportamento não fazia o menor sentido.

-A porta está livre!- ele apontou.

- Não! Por ali, não! Será que não entende? Preciso sair por outro lugar.

-Hum... por causa do vestido sujo?

-E por que isso importaria? É só um vestido! - resmunguei - Como você se chama?

-Aaron, minha senhora!

- Eu sou Lily! -Apresentei-me - Então, Aaron, para ser franca, estou fugindo da morte.  Deve saber que ser impura é uma sentença. Se você não me ajudar a sair daqui, o comandante Marek vai me matar e não será indolor, não depois de eu ter fugido de suas garras... por favor, se isso não for complicá-lo com o rei, ajude-me a escapar!

Aaron

Impura?

A palavra reverberava em minha mente.  Fiquei em transe por alguns minutos, era muita informação para assimilar; se eu havia entendido direito, aquela mulher estava fugindo de um comandante.
Que crime ela teria cometido? Estive me perguntando.

Senti-me propenso a ajudá-la, mas não sem antes esclarecer essa dúvida.

- Qual foi o crime que a senhora cometeu?

O olhar abrupto que ela me lançou, me confundiu. Havia um misto de indignação e fúria, quase uma advertência.

- Eu nasci! - ela disparou entre dentes.

-Isso não faz sentido...

- Não para você! - Ela me interrompeu -Pelo seu tamanho, posso jurar que é um puro, então, não sabe o que é ser perseguido por ser algo entre dois mundos! - ela desabafou furiosamente.

-Lamento!- Falei me retraindo.

Ela pareceu perceber meu desconforto.

-Perdoi-me! Você é tão vítima quanto eu!- ela pediu enquanto encarava minhas cicatrizes.

Percebi seu olhar; havia dor nela.

- Eu a ajudarei! Venha comigo! - pronunciei num único fôlego.

-Sério?

A animação incrédula dela não me foi despercebido.

-Vamos!- chamei, direcionando-me à porta por onde entrara.

Lily me seguiu, à passos largos, enquanto eu a conduzia por uma ampla cozinha, que estava deserta.

-Aí está! - apontei parando diante da porta de saída.

-Obrigada! Você salvou minha vida!

-Disponha!

Ela assentiu. Ia se retirar, mas subitamente, voltou-se para mim.

-Fique com isso!- ela disse pondo em minhas mãos algo enrolado em seu véu - Você fará melhor proveito do que eu!- Completou e então se precipitou para mim e estalou um beijo em minha bochecha.

Sem reação, vi a mulher disparar pela saída; levei a mão à bochecha beijada como se tivesse abobalhado.
Ao examinar o que havia enrolado na fina seda, deparei-me com a caixa de joias destinadas às noivas. Mal pude acreditar no que meus olhos viam. Nunca, nenhuma noiva abdicara delas.
Será que ela não sabia que as joias faziam parte do tesouro real? Somente as noivas do rei poderiam tê-las.

Lily fora a noiva mais fascinante que já recebi. Ela não era diferente apenas fisicamente, mas principalmente, em  sua conduta.
Eu dera um banho de vinho nela e ela não usou seu direito de castigar-me, sequer me repreendeu.
Havia algo naquela mulher que precisava ser desvendado.

Lily

Eu mal podia acreditar que saí ilesa do palácio.  Agora, carecia de um abrigo seguro, para depois tentar encontrar John.  Terminei por fazer uma prece para que ele estivesse bem.
Estive na espreita boa parte do dia, esgueirando-me sem me deixar notar. Foi assim que descobri que meu amigo fora capturado e arrastado para a masmorra, o que me deixou de mãos atadas.

Entrar lá para ajudá-lo exigiria um pouco mais de estratégia e cautela. No momento, eu precisava salvar minha própria pele, por mais egoísta que isso parecesse. A noite estava chegando e por desconhecer aquele lugar, eu teria dificuldades em achar um abrigo. Além do mais, desfilar por aí em trajes de noiva não parecia uma boa ideia.
Mas que opção eu tinha?
O povo dali não era do tipo que deixava roupas secando no varal. O remédio foi esperar a noite cair; a penumbra me camuflaria. Era isso que eu esperava.

Andei por ruas desertas, esperando não ser incomodada  pelas poucas pessoas que passavam.  Foi inevitável não notar o olhar de total desprezo que esses seres me lançavam, o que nem de longe me incomodava. Pelo contrário, diverti-me ao ver que aqueles narizes imputados me torciam os rostos desdenhosos.

O que estaria passando em suas cabeças?
Apesar que uma noiva maltrapilha devia ser algo difícil  de se ver naquele reino que respirava riqueza.

O planeta inteiro cabia na terra, sendo dezenas de vezes menor. Dividia-se em sete reinos e uma capital.  Cada reino tinha um monarca como governante e a capital era governada por um rei soberano sobre os demais.
Era a este rei que eu devia ter me apresentado -Markus- o soberano dos soberanos.

Pelo que eu sabia dele, era um homem cruel. Pelo menos, fora assim que Marek o descrevera. 



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