A NOIVA, O COMANDANTE E O SERVO

1.2K 189 42
                                    

Marek

Eu estava muito nervoso, dando instruções para alguns guardas, tudo por conta daquela maldita impura, quando vi aquela distinta figura andar pelos corredores.
Dado a largura do passo, a mulher estava com pressa e aparentemente perdida.
Aproximei-me dela; eu era um guerreiro, mas também um cavalheiro, ao menos para as mulheres da minha espécie.

-Alto! - Foi inevitável dar esse comando militar.

A julgar pelo modo como ela paralisou, eu podia jurar que ela estava com medo.
Sim. Eu causava temor, mesmo nas mulheres de minha espécie. Tive de reconhecer isso. Não podia admirar-me dela estar tão tensa na minha presença.

Ela virou-se devagar para mim.

-Está no caminho errado, minha senhora! É por aqui! Acompanhe-me!- Instruí com minha postura mais cortês, afinal, eu não tinha a menor intenção de infligir medo a uma noiva do rei.

Ela me acompanhou em silêncio. Menos mal, eu não estava com humor para tagarelices. Porém, foi no mínimo estranho vê-la sem a companhia das servas.

Após alguns minutos de caminhada, paramos diante de uma porta que abria em par, que nesse momento abriu-se, deixando passar uma noiva furiosa.

-Acho que minha senhora não terá de esperar para se apresentar ao rei. -Falei contendo minha malícia, sabendo que esta seria mais uma a desapontar-se com o monarca.

Ela parecia relutante, o que já estava esgotando minha pouca paciência. Eu não podia ficar aqui perdendo tempo com uma noiva indecisa.

-Entre!- Falei entre dentes, tentando disfarçar minha irritação.

O incentivo surtiu efeito, ela entrou e fiz questão de cerrar a porta, antes que ela desistisse e me fizesse perder mais tempo.

Mulheres!

***

Lily

Eu mal respirava quando a porta se fechou. Marek não me reconheceu, mas eu soube que era ele assim que ouvi sua voz naquele corredor. Minha vontade foi de sair correndo, mas nada disso adiantaria. Também, estivesse à ponto de implorar por minha vida, mas aí ele começou a me tratar com cortesia, o que me surpreendeu. Aquele certamente não era o homem mau que eu conhecia, ele devia tratar com respeito as mulheres de sua espécie.

Minha respiração ainda estava pesada, como se eu tivesse corrido alguns quilômetros.

"Isso não estava no planos." Maldisse minha sorte.

Apresentar-me como pretendente do rei era a última coisa na minha lista de coisas absurdas que faria na vida.
Quando o fôlego voltou, concentrei-me no recinto -uma luxuosa sala de jantar- que mais parecia um sonho; lustres pendiam do teto em cores e texturas que só podiam ser joias preciosas.

Havia uma mesa posta, com todo tipo de iguaria e petiscos; a louça era um tesouro à parte. O piso do salão reluzia num tom dourado, como se acabara de ser polido.
Estive deslumbrada por algum tempo, até me dar conta de que não devia permanecer ali. Ia me retirar, quando uma voz chamou minha atenção.

- Não quer se sentar, minha senhora?

"Como não o notei ali?

Agora, eu teria de lidar com o próprio rei.
Virei-me na intenção de lhe fazer uma reverência e qual não foi a minha surpresa ao deparar-me,apenas, com um servo.

Instintivamente me retrai; meus sentidos de auto preservação analisaram o perigo em potencial, já que o homem diante de mim, era visivelmente mais robusto do que o comandante e pelo que pude observar, não se tratava de gordura debaixo daquelas roupas simples de serviçal, e sim, músculos, uma montanha de, pelo menos, dois metros de altura.

-Minha senhora...

Ele me chamou de volta à realidade.

-Sim?

- Não vai se sentar?

"Não ". Neguei em pensamento.

-Oh... sim!- foi a resposta.

Ele, gentilmente, puxou uma cadeira para mim, que me sentei como se tivesse sentado em espinhos, apesar do conforto do assento.

-Vinho?- ele ofereceu- Sua majestade não demorará! -Anunciou.

Imagino que tenha me dado essa informação por ter me visto olhar por toda parte. Na verdade, eu estava procurando uma rota de fuga.

-O vinho, por gentileza!- solicitei com resignação.

Quando ele terminava de guarnecer a taça, esta entornou, derramando o líquido rubro em meu vestido, principalmente no véu.
Quase proferi um xingamento, mas me detive ao vê-lo se curvar, amedrontado. Parecia-me algo incomum, um homem daquele tamanho com medo; foi então, que notei marcas em seus braços. Provavelmente, sofrera muitos castigos físicos e alguns bem recentes. Só de imaginar, senti meu estômago revirar.

Aaron

Mantive-me curvado, esperando uma reação enfurecida da mulher à minha frente, no entanto, ela estava quieta. Sequer podia supor o que se passava em sua cabeça, pois o véu tomava-me a visão de sua expressão.

-Perdão, minha senhora!- implorei, rompendo o silêncio - Não me castigue! - supliquei.

-Levante-se!

Foi o que ouvi, e pela voz da mulher, reconheci que ela não estava furiosa. Talvez, contrita.

-Minha senhora...

-Acalme-se! Não há motivos para tanto, é só um véu e um vestido...

Desta vez, a voz dela soou embargada. Talvez, estivesse triste pelo dano que causei ao seu vestuário.
Subitamente, ela puxou o véu e jogou-o de lado.
Eu petrifiquei. Não tive como não olhá-la profundamente. Está mulher era diferente das outras, que faziam questão de vir sem seus véus e bem maquiadas e adornadas, expondo tudo que se podia expor.

Está, pelo contrário, não havia nada em seu rosto, nada pendia em suas orelhas ou pescoço. Era só sua beleza natural.
Seus viçosos cabelos negros a destoava das outras noivas com seus belos cabelos loiros ou castanhos. Era pouco comum as mulheres de sua espécie terem cabelos tão escuros.

Essa diferença a tornava, especialmente, bela aos meus olhos.

IMPUROSOnde histórias criam vida. Descubra agora