ACUSAÇÕES

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Markus

Percebi que ao lado desse meio humano chamado John, Lily tem um sorriso fácil, por isso o mantive por perto, mesmo sabendo que ele nutria por ela bem mais que um sentimento de irmão.
Mas eu estava ciente de que o sentimento não era recíproco, ela o amava, mas não como homem.
No decorrer daqueles dias ela não dormiu no quarto destinado à rainha, estivera no meu, na minha cama e nos meus braços.
Sim. Eu estava mais do que disposto a conquistá-la e fazê-la me amar.

Prudentemente, eu havia afastado Marek do palácio e ordenado uma investigação contra ele.
Sua união com Rarina fora acompanhada de perto por um sacerdote de minha inteira confiança e ele havia entregue as provas, de consumação da união, que eu havia exigido.
Mesmo assim, não parei de monitorá-los; eu queria ter a certeza de que minha ex-noiva seria bem tratada, sempre.
Por estar acompanhando-o de perto, não me surpreendi com sua chegada naquela manhã.
Levei-o para meu escritório particular. Estava curioso sobre o que ele tinha para me dizer desta vez.

-O que há comandante?! Não lembro de tê-lo chamado para uma audiência.

-Vim por minha conta! Eu precisava conversar com vossa majestade!

-Sobre?!

-Os impuros que o senhor mantém no palácio...

-Já não é mais só sobre a rainha?!

O interrompo com certa irritação.
Claro que ele percebe, porque parece bem desconfortável no assento à minha frente.

-Os dois são traiçoeiros...

-Como ousa?!

Minha pouca paciência acaba de se esvair.

-O senhor está apaixonado por ela e não percebe.- ele fala calmamente - Nunca a castiguei a toa, assim que nos casamos, ela tentou me trair, tentou fugir com seu amante John. Se não acredita em mim, pergunte a ela ou observe os dois juntos e verás que tenho razão...

-Cale-se!- falo em clara ameaça.

-Estou apenas tentando fazer o senhor enxergar que está cometendo um erro ao torná-la rainha do nosso povo. Essa impura vai traí-lo...

-BASTA! SAIA... AGORA!- falo entre dentes.

Marek não me questiona mais, apenas se levanta e sai. Mas a erva daninha que ele veio plantar, já estava no lugar.
E se ele tivesse falando a verdade?!
Eu mal a conhecia e já tinha me deixado levar. Não era assim que um soberano deveria se comportar.
Um novo sentimento me oprimia; algo que não soube identificar.
Saí dali transtornado e voei para os aposentos dela.
Para minha desgraça a encontrei com o IMPURO maldito; os dois estavam se abraçando.

Parti para cima dele e o fiz soltá-la à força.
Minha mão estava em seu rosto num tremendo sôco.
Mas ao invés de apenas um baque no chão, ouvi dois. O dele e o dela.
Mas por que ela estava desmaiada no chão?! Não toquei nela.
Nisso, Anne entra desesperada com uma toalha molhada nas mãos.
A serva fica pálida ao se deparar com a cena.

-O que está acontecendo aqui?!- questiono indo até Lily no chão, que está pálida como um papel.

-O senhor enlouqueceu?!- o impuro me questiona, mesmo eu lançando para ele um olhar assassino.

-O que você estava fazendo com ela?!

-Ajudando! Não está vendo que ela está passando mal?!

-Perdão, majestade! Fui eu quem o chamou quando ela começou a passar mal!- Anne me revela.

Olho para a mulher em meus braços e a ergo rapidamente.
O que diabos está acontecendo comigo?!
Onde foi parar meu discernimento?!

-Chame um curandeiro, agora!- exijo pondo-a na cama.

Observo John se erguer cambaleando, enquanto limpa sangue rubro do canto da boca.

-O senhor não me parece tão diferente de Marek e olhe que eu quis muito estar enganado.- ele me diz e vai embora.

De certa forma, suas palavras me alvejaram.
Eu não sou como o comandante, não sou cruel como ele.
Conheço perfeitamente sua reputação em batalha e sou mais diplomata.
Mas aqui e agora, agi como um completo estúpido e o pior de tudo, era ainda não estar certo da inocência dos dois.
Eu estava confuso. Meu sentimento por ela estava me cegando.

O curandeiro chegou rápido como se tivesse sido solicitado para cuidar de um incêndio.
Ele a monitorou e não havia nada de estranho nela.
Por fim, ele coletou amostras de seu sangue para análise.
Agora fiquei preocupado.
Será se exigi muito dela em nossas noites juntos?!

-Deixe-a descansar, majestade!- foi a recomendação médica.

-Leve-o para cuidar do meio humano!- ordenei à Anne, me recusando a chamá-lo pelo nome.

Olhei para Lily dormindo profundamente e meditei sobre as palavras do comandante.
Será se ela seria capaz de me trair?!
Levantei cerrando os punhos e comecei a andar de um lado para o outro.
Eu estava mais do que pronto para socar alguém, de novo.
Agora eu já não parecia mais um diplomata e sim um guerreiro querendo lavar sua honra, uma honra que eu nem tinha certeza que houvera sido manchada.
Maldito, Marek!

Subitamente, Lily começa a se contorcer na cama. Já conheço bem isso; sempre acontece quando ela tem pesadelos. Por muitas vezes a acordei no meio da noite por conta disso.
E lá vou eu, outra vez, fazer o mesmo.

-Lily, querida...

Faço carinho em seus cabelos, enquanto seguro sua mão.

-Acorde...

Ela se senta na cama quase de um salto e me olha assustada.

-Onde ele está?! O que fez com ele?!

-Então, é isso?!- não preciso dizer mais para acusá-la e e ela não tem dificuldade alguma de entender o que quero dizer.

-Isso o quê?!- ela me questiona claramente furiosa.

Posso ver a centelha queimando em seu olhar como um fogo abrasador, pronto para me consumir.

-Você só está tentando proteger seu AMANTE!- disparo sem nem pensar direito.

Num instante meu rosto está virado pro outro lado e queimando; ela me deu um tapa na face e que mãozinha pesada a dela.

-Sai daqui agora, seu cretino!- ela vocifera. - Você pode até me matar, mas não vou admitir que fale assim comigo, que lance dúvidas sobre meu caráter. Eu prefiro que me espanque até me deixar mole no chão, como Marek fazia, mas não me acuse desta forma miserável...

A voz dela saiu embargada e senti como se meu peito estivesse sendo perfurado por uma lâmina afiada.

-Lily...

-Não fale comigo! Sai daqui, AGORA!

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