O RAPTO DA RAINHA

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Markus

Retornei ao palácio como um raio. Em poucos minutos, eu já não era mais um serviçal, mas o rei.
Para meu desespero, Lily não foi encontrada em canto algum do lugar e nem Marek ou os soldados.
Maldito fosse! Como ele teve a ousadia de levá-la?!
Eu o faria pagar com a vida pelo ultraje.

Mandei uma escolta militar à residência do traidor, mas apenas Rarina e os servos estavam na casa.
Céus, para onde ele a havia levado?!
Agora eu precisava correr contra o tempo ou talvez, nunca mais a veria.
Obriguei-me a afastar isso da minha mente. Eu precisava de clareza para lidar com a situação.

A essa altura, eu não precisaria de quaisquer outras provas para acusar o comandante diante do conselho. O rapto da rainha já era mais que suficiente e foi o que fiz.
Imediatamente, ele foi declarado um pária e subiu ao topo da lista de criminosos galácticos procurados. Levar uma rainha era o pior crime que se podia cometer, de acordo com as leis intergalácticas. Marek seria sentenciado à morte por isso e eu pessoalmente queria ter o prazer de matá-lo.

Eu me sentia como um animal feroz encurralado e descobriria mais tarde que as coisas ainda podiam piorar, e muito.
Mas, por enquanto, eu estava de mãos atadas, o que dava para fazer estava sendo feito e só me restava aguardar por notícias.
Então, tratei de ocupar minha mente com outros assuntos que demandavam minha atenção.

***

-O que eu estou fazendo aqui?!

Olho para John, que está sendo contido numa cama, ao passo que eu estou em outra esperando ele cooperar e fornecer material genético para análise.
Se eu estiver certo, terei de aturá-lo daqui por diante.
Ignoro os protestos dele, totalmente.

Minha mãe se chamava Hannah, assim como a dele, certamente deveria ter outras mulheres por aí com esse nome, mas eu não dispunha de tempo para cogitações e resolvi ser prático. Um teste genético resolveria a questão.
Sempre fui o único descendente do rei, mas filho de sua segunda esposa.
Não era comum um soberano ter mais de uma mulher como oficial, mas como a rainha era estéril, meu pai escolheu uma nova esposa, no caso, minha mãe.

Não necessariamente as noivas deviam se apresentar puras, era o ideal, mas havia excessões, principalmente nos arranjos políticos.
Soube que minha mãe sempre fora condescendente com os mestiços e uma fiel defensora de seus direitos e que também amava visitar a Terra, isso antes de se unir ao meu pai.
Daí minhas suspeitas.
Pena que ela não estava mais aqui para esclarecer isso pessoalmente.

-Tudo que está acontecendo é culpa sua! Se Marek machucar Lily, e ele vai fazer, será sua culpa! Ela era sua responsabilidade...

Agora terei de aguentar esse mestiço me dizer essas coisas.
Estou por um triz e descontar toda minha frustração nele me parece uma boa opção nesse momento.
Pior é admitir que ele tem razão.
Eu facilitei as coisas e aquele maldito a levou bem debaixo do meu nariz.

-Sim! Era minha obrigação protegê-la!- Disse apenas.

Ele me encarou confuso. Talvez não esperasse que eu iria concordar com suas palavras.
Passei a observar nossos mestres da ciência indo e vindo com seus tubos de ensaio.
Vejo uma figura conhecida se aproximar; era Claus, o curandeiro que atendera minha rainha mais cedo.

-Majestade?!- ele me faz uma sutil deferência e prossegue - Tenho um assunto urgente a tratar...

-Meu senhor?!- um mestre nos interrompe - Já temos o resultado!- ele diz calmamente.

-Um momento, Claus!- peço e então me dirijo a Nell- Pode falar!

-As análises confirmam o grau de parentesco, majestade! Como suspeitou, o mestiço é seu irmão.

John, que estava atento à conversa, nos olha com olhos arregalados.
Encaro-o de volta; quem diria que no meio daquele pandemônio, faríamos uma descoberta como essa?

-Bem-vindo à família, irmão!

-Mas que merda...

Ouço-o dizer e não deixa de ser divertido olhar para a cara pálida dele.
Essa novidade me deixa feliz, afinal nunca tive laços co-sanguíneos com ninguém, exceto meus pais, que já descansavam há vários ciclos.
Pelo que Nell nos informou, John era um pouco mais velho que eu em termos terrestres, mas aqui tínhamos uma relativa diferença de tempo em relação ao que se passava no planeta água, portanto, aqui eu era décadas mais velho que ele.

De todo modo, pela lei, John não tinha direito ao trono por não ser filho, de pelo menos um, da casa real. Minha mãe tinha status de segunda esposa, mas não de rainha.
Ainda assim, meu irmão teria status de príncipe, eu me encarregaria disso.

-Fico feliz de saber que tenho uma família!- Digo para ele.

-Sério?!

-Sim...

-Então, o senhor vai apreciar o que tenho para dizer.- Claus nos interrompe com certa urgência.

-Fale!- Encaro-o muito sério por conta de sua impertinência.

-As análises da rainha confirmam uma alta taxa do hormônio Gonadotrofina coriônica humana-HCG...

-E isso quer dizer...?!

-A rainha está grávida!- Ele dispara.

-O que disse?!- pergunto incerto de ter ouvido corretamente.

-A rainha vai ter um bebê...- Ele fala como se estivesse desenhando a informação.

Dessa vez o surto é do meu, agora, irmão.

-Merda, merda! Acabei de deixar de ser filho único e ainda vou ter um sobrinho! Mas que droga... Merda Lily, não era assim que eu imaginava as coisas...

-E como você imaginava?!- questiono-o ignorando momentaneamente minha recente descoberta, embora meu coração esteja martelando em meu peito a todo vapor.

Mas dependendo da resposta desse mestiço, volto a ser filho único nós próximos minutos.
Ele parece entender a ameaça velada e muda de assunto.

-Droga, Marek está com ela! Espero que aquela maluca não o provoque, não dá para prever o que ele fará e se ele a espancar nesse estado, você sabe o que pode acontecer...

Subitamente, minha visão se tornou só um borrão vermelho; ouço gritos longínquos no recinto.
Vejo alguns soldados entrando para conter a tempestade.
Céus, eu sou motivo de tudo.
Muitos braços fortes estão me segurando.

-Ponham ele para dormir!- ouço o grito de John por cima das demais vozes.

-Perdão, majestade!- Claus pede antes de me aplicar um tranquilizante.

Ainda o vejo em vermelho, tudo está em vermelho. Tem homens caídos e coisas quebradas, aliás, quase tudo ali foi quebrado.
Simplesmente surtei com a simples menção de Marek machucar minha rainha que agora espera meu herdeiro.
Se ele ousar tocar nela, vou arrancar cada pedacinho da pele dele numa sessão de tortura que o fará implorar pela morte.
Fiz esse juramento, antes de apagar completamente.

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