DE VOLTA À MINHA PRISÃO

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Lily

Deus, não!

Acordo gritando e me dou conta de que estava apenas sonhando, na verdade, tendo um pesadelo e pelo visto, ainda estou presa em um.
Pela decoração do quarto, percebo que não estou mais no palácio.
Olho minhas roupas, ainda são as mesmas, ainda estou intacta.
As lembranças vêem como uma avalanche sobre mim.
Meu Deus, Aaron era o rei disfarçado! Mas que merda! Aquele cretino me enganou, me fez de trouxa esse tempo todo.
Descobri isso quando ele me beijou; depois de tanto tempo beijando e dormindo com o rei, não tinha como não reconhecer seu beijo.

E por falar em beijo, o que diabos aconteceu com Marek?! Por que aquele desgraçado me beijou?! Sinto repulsa só de lembrar da boca dele na minha, de sua língua me invadindo.
Céus, agora estou com vontade de vomitar, muita vontade.
Olho desesperada procurando a porta de um banheiro quando a bílis vem na minha garganta, mas não dá tempo.
Simplesmente forço a cabeça para fora da cama e vomito apenas o ácido do meu estômago, porque comida não tinha ali.
Mais arcadas me fazem ofegar.

-O que está acontecendo aqui?!

A voz de Marek reverbera no quarto me fazendo estremecer e sentir ainda mais náuseas.
Misericórdia, senhor! Por muito menos ele me espancou e agora que estou vomitando o quarto inteiro, ele não vai ter dó, nunca teve.
Desespero percorre meu corpo quando ele segura meus cabelos.
Ele vai acabar comigo aqui e agora.

-N-Não...

Outra arcada me faz curvar sobre a cama e novamente só o líquido amargo saiu. Meu abdômen doía de tanta força que eu fazia para vomitar o que não tinha.
Estranhamente, o aperto de Marek sobre meu cabelo era suave, não estava me machucando.

Quando finalmente consegui parar, recostei-me aos travesseiros. Meu corpo tremia, minhas mãos estavam geladas.
Pior era ter de enfrentar o comandante agora, eu não tinha forças.
Mas fiquei surpresa ao encará-lo; ele não estava com cara de quem ia me punir e quando ele ergueu a mão para tocar meu rosto, retraí-me instintivamente.

-Você está pálida, minha querida! Vou chamar um curandeiro, aliás, um médico para cuidar de você.

De repente, ele vem sobre mim e beija minha testa e depois sai.
O quê?! Mas o que está acontecendo aqui?!
O que esse homem está tramando?!
Será se ele bateu com a cabeça?!
Céus, e o que está acontecendo comigo?!

Obrigo-me a levantar e me afastar da cama; o cheiro de vômito está me causando mais náuseas.
Vou até uma porta e a empurro; como deduzi, era o banheiro.
Aproveito para lavar o rosto e escovar os dentes, para tirar aquele gosto horrível da boca.
Eu não me iludia,  aqui era meu cativeiro e certamente, teria tudo para minhas necessidades básicas.

Ouvi passos e corri para o quarto, embora tivesse vontade de me trancar ali, mas eu sabia que isso não deteria Marek. Eu já havia tentado isso antes e não deu certo, na verdade, terminei com algumas costelas quebradas, porque aquele maldito fez questão de quebrá-las, vagarosamente, causando-me o máximo de dor possível.
Ah, como eu o odiava!

Como previ, lá estava ele e não estava sozinho.

-Querida, você não devia estar de pé...

Não posso evitar franzir o cenho, nem fazer um gesto de desgosto.
Não gosto quando ele me espanca, nem gosto de como ele está falando agora; parece um psicopata.

A médica me olha com a complacência que imagino que todos eles tenham.
Enquanto Marek me conduz à cama com um cuidado que jamais teve comigo.

A médica, aliás, Sara, como pediu para ser chamada, verifica meu pulso, faz umas perguntas aleatórias, ao menos acho que são.
Já me sinto um pouco melhor e não quero nada disso.
Para que cuidar de mim se depois vai me machucar?!
Tenho vontade de gritar com ele.

A mulher continua me apalpando, apalpa meu ventre e se detém ali.

-Senhora, estamos muito longe de um hospital e não creio que seu companheiro vá arriscar uma viagem longa agora, - ela começa a falar e olha de relance para ele ali parado que nega com a cabeça.

Só agora percebo que a mulher diante de mim é uma mestiça, assim como eu.
Ela pega de dentro da bolsa um pequeno objeto e me entrega.
Encaro a coisa em minhas mãos e um arrepio percorre minha espinha.

Não, meu Deus, isso não!

Desespero me faz tremer à medida que ouço suas instruções de como usar a coisa e Marek me encara com um olhar glacial.
Não teve jeito, fui praticamente empurrada para o banheiro e fiz o que tinha que fazer.
Ouço uma batida insistente na porta, acho que demorei demais.
Saio sem nem olhar para a coisa em minha mão e quando Marek estende a mão me pedindo, aperto aquilo com força sem querer entregar.
Ele insiste, mas sem dizer uma única palavra.

Que opção tenho?!
Deposito o objeto na mão dele e fico ali parada sentindo cada parte de mim tremer com o pavor que se instala em cada poro da minha pele.
Ele olha o teste e depois o vira para a médica, que abre um sorriso.

-Meus parabéns ao casal, vocês vão ser pais.

Instintivamente minhas mãos vão para meu ventre.
Marek acompanha meu gesto com o olhar, sua expressão neutra não me diz nada.
Só consigo pensar que ele vai acabar comigo e com meu bebê.

Meu Deus, me ajude!

Vejo ele despachar a mulher, após ela entregar um papel com recomendações de vitaminas e uma dieta. Ele fala sobre um envelope na bancada próximo à saída, o pagamento.
Ela agradece e vai.
Quero gritar para que ela não me deixe ali sozinha com esse monstro.
Mas de que isso adiantaria?!

Ele me olha e dá passos na minha direção.
Sequer consigo me mover do lugar. Aperto ainda mais meu ventre como se pudesse proteger aquele serzinho daquele monstro cruel.
Lágrimas cobrem meu rosto e elas têm um gosto amargo de dor e desespero.
Minha visão fica embaçada e tudo começa a girar.
Não tenho controle sobre meu corpo e cambaleio.

-Lily...

As mãos de Marek me seguram com força e não me deixam impactar com o chão.
Tudo se torna um terrível borrão.
Apago, completamente.

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