NOSSO BEBÊ

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lily

Abro os olhos abruptamente como se tivessem feras ao meu redor, se bem que Marek se enquadra, perfeitamente, nessa descrição, mas estou sozinha.
O cheiro de orvalho chama minha atenção, isso significa que o quarto foi limpo e de fato, não tem mais vômito ali.
Minha noção de tempo foi pro espaço, só sei que ainda estou com a mesma roupa, com fome e precisando de um banho.
A questão é: não tenho tempo para nada disso.

Eu ter desmaiado apenas adiou meu castigo.
Meu Deus, eu estou grávida e nem consigo comemorar, ainda mais sabendo o que o comandante fará comigo.
Salto da cama e corro para a porta de uma sacada que identifiquei antes.
Merda! Deparo-me com uma floresta a perder-se de vista. Ele me trouxe de volta à Terra.
Esse monstro veio me enfiar num lugar ermo.
Miserável! Não posso evitar praguejar.

Se ele pensa que isso vai me impedir, está muito enganado.
Vejo o suporte das trepadeiras e não penso duas vezes, é por ali mesmo.
Procurando não me estatelar no chão, subo no parapeito da sacada e consigo agarrar o suporte, espero que aguente meu peso. Desço me enroscando nas plantas.
Para que diabos cultivar um jardim ali?
Não é que eu não goste de flores, simplesmente amo, mas ali é só minha prisão, não faz sentido.
Será se ele queria ter flores para pôr no meu túmulo?!
Mas que pensamento idiota.

Finalmente alcanço o chão e disparo na corrida sem nem mesmo saber para que direção ir. Tudo que quero é sumir dali; passo pelo deque de uma belíssima piscina e vejo uma trilha, é claro que eu preferia um carro, mas àquela altura, ia ser a pés mesmo.
Com certeza, minhas chances de sobrevivência na floresta eram melhores do que a de uma simples humana, o que não dava para escapar mesmo era nas mãos do Marek.

Corro naquela direção, mas, subitamente, um brutamontes atravessa na minha frente, me fazendo derrapar quando tento parar e cair de bunda no chão.
Inferno!
Esse era um dos soldados que estavam com ele quando me raptou.
Ouço passos atrás de mim e viro o rosto para ver quem vinha.
Droga, o comandante! Quem mais, afinal?!

Ele parece inabalável, há um sorriso em seu rosto.
Não tem como deixar de notar que ele acabou de sair do banho, ainda está de cabelo molhado, veste um calça branca e camisa na mesma cor, que está aberta mostrando toda a perfeição de seus músculos.
Se eu não o conhecesse de longa data, teria até suspirado.
Não era à toa que minhas "amigas" o consideravam um deus; o desgraçado era uma bela visão mesmo.

Juro que quando o conheci, que soube que me uniria a ele, até achei vantajoso tirar uma casquinha daquele homem maravilhoso, mas então, a realidade foi totalmente diferente.
Eu diria que a realidade foi um inferno em minha vida.
Tento manter um pouco da dignidade e me forço a ficar de pé para receber minha punição.
A vontade de chorar me sufoca.
O que será do meu bebê se ele me espancar como costuma fazer?!

Sinto um braço me enlaçar pela cintura e me dá um puxão para cima, fazendo-me ficar de pé mais rápido.

-Vamos para dentro, minha querida?!

Realmente, odeio o modo que ele está falando comigo.
Esse homem vai me esquartejar, tenho certeza.

-Marek, por favor, faça o que quiser comigo, mas não machuca meu bebê...

Imploro assim que entramos no quarto.
Ele me vira para ele de forma abrupta, seu olhar sobre mim é glacial.
Só consigo choramingar e tremer.

-Nosso bebê, CERTO?- Ele diz entre dentes.

Seu olhar selvagem me diz que não posso contrariar qualquer tipo de loucura que ele esteja desenvolvendo agora; meu instinto de preservação fala mais alto, aliás, ele grita.

-Certo, certo! Nosso bebê!- concordo.

Seu olhar se suaviza um pouco, mas seu agarre sobre mim, não. Ele me puxa para o banheiro e rasga meu vestido.
Começo a soluçar.
O que esse louco vai fazer comigo?!

-Você não precisa de nada que tenha vindo do rei, tire o resto e jogue no lixo. Deixei roupas novas sobre a bancada. Você tem vinte minutos para tomar um banho e se arrumar.

Ele dá a ordem e sai.
Respiro aliviada, embora eu já não saiba qual é a pior tortura, se a física ou a psicológica.
Só em não saber o que ele está tramando me deixa com os nervos à flor da pele.
Eu tenho que arranjar um jeito de sobreviver a isso, agora tem a vida do meu bebê em jogo.
Tomo um banho rápido e pego as roupas que ele deixou, na verdade, só uma camisola de flanela de algodão branca e longa e uma calcinha.
Bom, o que eu esperava?! Estou num maldito cativeiro.
Porém, é melhor do que ficar nua.

Retorno para o quarto e me surpreendo com Marek entrando com uma bandeja contendo um prato de sopa, um pratinho menor com frutas picadas, um copo de suco e um de água.

-Sente-se para comer! - ele ordena- Você tem que se alimentar bem, por nosso bebê!

Quando ele fala "nosso bebê" tenho vontade de jogar aquela sopa fumegante na cara dele, mas minha fome fala mais alto.
Realmente, preciso me alimentar, já nem lembro a última vez que comi.
Sento na cama mesmo e ele põe a bandeja em meu colo.
Meu estômago ruge com a necessidade do alimento.
E que sopa deliciosa! Não sou de recusar comida e sendo boa, pior ainda.
Ele havia preparado pequenas porções, mas o suficiente para me deixar satisfeita.

Assim que termino, ele recolhe a bandeja e põe na mesa de cabeceira e então, volta a se  sentar ao meu lado.

-Agora, vamos conversar...

Essas simples palavras já me deixam em alerta máximo.
Apenas meneio um sim com a cabeça e ele continua:

-Lily, você foi imprudente ao tentar fugir de mim...

-Não vai mais acontecer, eu juro!- Minto.

-Não, não vai mesmo...

A mão dele se fecha sobre meu tornozelo direito e ele aperta.
A dor aguda me faz gritar e me contorcer e quando ele finalmente me solta, eu já estava procurando ar nos meus pulmões.
A mão dele repousa em meu ventre, fazendo uma leve carícia.

-Eu não queria ter que fazer isso, mas foi para o seu próprio bem e o do nosso bebê, lá fora tem feras à solta...

-Aqui também tem! - grito por cima da dor.

-Descanse, minha querida!- ele diz numa tranquilidade de dar medo e sai.

Tento me levantar da cama e na hora que apoio os pés no chão, a dor no tornozelo me faz gemer.
Foi como imaginei, ele inutilizou meu tornozelo para que eu não tentasse fugir. Não estava quebrado, mas o machucado era o suficiente para me fazer desistir de qualquer caminhada.
Aquele miserável, maldito!
Respiro profundamente tentando me acalmar.
Preciso pensar, deve haver um jeito de fugir.
Não me darei por vencida. Nunca.


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