Fugindo pela segunda vez

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Sam

Lia me buscou na esquina do evento, e enquanto me levava para casa, lhe contei tudo.

- Tá de brincadeira né? O senhor Baker realmente acreditou em um cara qualquer?

- Pois é, nem sei o que pensar sobre isso. Eu só preciso arrumar as minhas coisas e ir embora daqui o mais rápido possível.

Paramos em frente a grande casa que tanto eu admirei no primeiro dia da minha volta. Agora ela não passava de um detalhe mal visto. Toda aquela mudança, talvez tenha sido para combinar com o interior de meu pai, que também mudou com o tempo.

Entro fervorosamente, queria ser rápida e evitar encontros desagradáveis. Lia veio logo atrás para me ajudar.

Subi as escadas me lembrando de hoje mais cedo. Como um homem tão amoroso podia se tornar irracional daquela forma? Será que eu me enganei ao julgar ele como um homem bom, como um cara que subiu sem pisar em ninguém?

Posso dizer que sim, já que ele está pisando em sua filha nesse exato momento.

Entro em meu quarto, relutante, e começo a juntar todas as minhas roupas. Minha amiga olha ao redor e solta um suspiro.

- Tem certeza que quer ir? Você está de cabeça quente, não é a hora certa para fazer uma viagem.

- E o que você quer que eu faça Lia? Eu não posso ficar aqui...realmente não posso. - falo enquanto jogo as roupas dentro da mala.

- Talvez você possa passar a noite lá em casa, minha mãe não vai se importar, você sabe.

Paro por um instante, pensando na ideia de Lia.

- Vaaamos, uma noite para esfriar a cabeça. Vai ser melhor assim.

- Tudo bem...

Minha amiga sorri e me ajuda a levar tudo para o carro. Dou uma última olhada para a casa e então me sento no banco do passageiro.

(...)

Entramos na garagem e subimos para o seu quarto, que por incrível que pareça, era bem mais organizado que o meu.

Olho ao redor e dou de cara com pôsteres de uma banda que toca músicas apaixonadas, a encaro com a testa franzida.

- Pode ir parando aí, você não tem moral para julgar os meus gostos musicais!

- E você dizendo que as minhas músicas que eram muito frufruzinhas. - revezo o olhar entre o pôster e ela.

- As pessoas mudam ok?! - ela joga uma almofada em formato de nuvem.

- Hummm, mudam? Por acaso mudam...por alguém? - faço uma cara forçada de supresa. - Não posso acreditar! Lia Johnsons? Apaixonada? - abro a boca e a cubro com a mão, como se estivesse chocada com a revelação.

- Nem pense nisso Sam, eu só gosto da banda. Pare de inventar balbúrdias. - Lia cruza os braços e faz um bico exagerado.

- Uma coisa que aprendi sobre você, é que quando está escondendo algo, fica na defensiva. - falo de forma descontraída, enquanto me jogo em sua cama e pego o meu celular para checar as mensagens.

Havia várias mensagens, uma de meu pai e as outras de Josh. Me sento na cama irritada e me preparo para abri-las.

Lia se aproxima e observa a tela como eu.
- Tem certeza que é a melhor hora para lidar com isso?

- Pra ser sincera...eu não sei. Mas preciso tentar.

Aperto na mensagem do meu pai e logo o pequeno texto aparece. - "Me desculpe por falar daquele jeito com você. Espero que possamos resolver isso. Mas se escolher viajar...tome cuidado. Te amo, filha."

Respiro fundo e lhe respondo - "Talvez algum dia você entenda os meus motivos e consiga resolver isso consigo mesmo.
Vou amanhã para o aeroporto, não se preocupe."

Lia apenas olha em silêncio, como se não quisesse alterar o meu julgamento sobre a situação.

Passo a mão entre os meus cabelos com nervosismo, e abro a conversa de Josh. - "Sam, por favor. Eu fiz besteira...de novo, eu sei. Podemos conversar?"
"Está em casa?"
"Eu falei sem pensar, de certa forma senti ciúmes e sei que isso não faz muito sentido...mas estou tentando concertar as coisas!"
"Por que não atende a campainha? Merda"
"Seu pai chegou aqui e disse que você não está em casa, o que aconteceu?"
"Aonde você está?!!?!"

Meu peito dói após ler todas aquelas mensagens, coloco minha cabeça entre os joelhos e começo a chorar.

- Como eu vou ser forte ao ponto de confessar que estou indo embora novamente? Dizer que estou fugindo pela segunda vez? O deixando sozinho de novo...

- Você não tem a obrigação de salvá-lo, nunca teve. E não deve deixar de viver por causa disso. - Lia passa o braço pelas minhas costas e encosta a sua cabeça na minha. - Vai ficar tudo bem Sam...vai ficar.

(...)

Logo cedo eu me arrumo e entro no carro de Lia. A caminho do aeroporto, observo a cidade uma última vez.

A sorveteria do Jack, o Shopping, o Parque de Diversões...tantas lembranças e tantas pessoas. Eu estou deixando tudo para trás pela segunda vez.

(...)

Paramos em frente ao aeroporto principal de Ohio, e enquanto Lia tira minha mala do porta-malas, eu coloco minha mochila no ombro e verifico se estou com todos os meus documentos.

- Prontinho. - minha amiga aparece ao meu lado com a mala de rodinhas.

- Tudo bem, vamos entrar. - pego em sua mão e a guio para dentro do grande aeroporto.

Ela caminhou comigo até as cadeiras de espera e deixou a minha mala ao lado.

- Então é isso. - Lia sorri tristemente enquanto cruza os braços.

- Ah, venha aqui sua bobona! - a abraço com força e me seguro para não chorar.

Nós duas sabemos que não é um abraço de despedida, mas também não é um "até amanhã".

Não quero deixa-lá sozinha, Lia merece uma amiga melhor, uma pessoa que fique, e não que vá embora tão de repente como eu estou indo.

- Logo logo eu vou te visitar em NY. Comprar bolsas chiques e encher a cara até de manhã em baladas. - ela se afasta e me olha com um sorriso reconfortante - Agora vá de uma vez, se não eu vou mudar de ideia e te arrastar para o carro.

Lhe dou um beijo na bochecha e aceno para ela enquanto vou até a atendente fazer o check-in.

Só no momento em que a moça carimbou o meu passaporte é que caiu a ficha. Eu estava voltando para Nova York.

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Espero que tenham gostado do capítulo!
Um beijo ❤️

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