Não solte a minha mão

Espuma demais

Josh

Eu não entendo o porque a Sam ficou tão brava, apenas perguntei se tinha sido de propósito. Pra ser sincero eu realmente acreditei que ela tinha se jogado em cima de mim, mas pelo o que parece ela machucou o pulso e acredito que não faria uma burrice dessa de propósito. Bom, eu espero.

Sam entrou na enfermaria e eu decidi não esperar minha vez para ser atendido, apenas senti algumas dores por causa da queda. Nada que um baseado não resolva.

Me afasto da escola o bastante para ninguém encher o meu saco, pego um do bolso da jaqueta e o isqueiro que ganhei do meu pai.
Quando estou prestes a acender alguém me interrompe.

Shely me encara com um olhar divertido e diz - interessante a sua forma de se automedicar...ou foi uma enfermeira travessa?

- Não viaja Shely, eu apenas não quero voltar para a aula - minto.

Ela me olha com os olhos semi cerrados quando percebe algo em meu rosto que muda totalmente o seu olhar. Foi de um olhar divertido para um de ódio.

- O quê é isso no seu rosto?! Um arranhão? Ela te arranhou?!

- Pra ser sincero eu nem sabia que tinha algo no meu rosto, não senti nada.

- Você tá chapado? Como não sentiu um arranhão desse no rosto? Vem, vamos nos sentar no pátio do campus, vou olhar como está.

- O quê? Pra quê? Não é nada de mais, eu não preciso que você olhe nada.

- É claro que precisa Josh, nós lá sabemos o que tem nas unhas sebosas daquela garota? Vamos logo - ela cruza os braços com uma cara fechada.

- "Por que essa garota insiste tanto em ir para o pátio? O que ela quer com isso?" - fico refletindo enquanto guardo o meu baseado, pelo jeito vai ficar para depois.

Shely pega na minha mão enquanto me guia para um banco com sombra. É mais fácil ceder aos caprichos de Shely do que ficar debatendo, as vezes ela parece ser apenas uma criança manhosa. Vou deixar ela dar uma olhada rápida para depois não ficar atrás de mim querendo dar uma de médica. Antipática do jeito que é, nunca vai passar na faculdade de medicina.

Mas também não é como se ela realmente quisesse, esse é o sonho dos pais dela que já são médicos e acreditam que é "coisa de família".

Sento no banco e respiro fundo, já me preparo para escutar coisas desagradáveis.

Shely olha rapidamente na direção da escola e começa o seu discurso - Caramba Josh, como ela pode arranhar o seu rosto desse jeito? Aquela vadia deve ter ficado com raiva por você simplesmente não ter feito questão dela - ela solta um suspiro pelo nariz e continua - Com certeza ela queria te provocar, aquela esquisitona é apaixonada por você e não entende que ela nunca vai estar no seu nível.

Eu fico alguns segundos a encarando e pensando sobre o assunto, em seguida levanto e saio andando - Ei! Josh! Ainda não acabei! Aonde você vai?! - Shely grita, mas eu não respondo. Não tenho tempo para essa merda agora.

Volto para a escola e encontro a professora Soares na sala dos professores como ela pediu, pelo jeito ela precisa discutir sobre uma coisa comigo.

- Bom, Josh...não é surpresa para ninguém que as suas notas em Arte não estão nada boas e o meu medo é que você não consiga recuperar depois. Eu tive uma idéia após o acidente de hoje cedo e dessa forma podemos matar dois coelhos com uma cajadada só!

- Você quer que eu mate coelhos professora? Uau, não sabia que a senhora curtia essa vibe de usar sangue como tinta - digo fazendo uma expressão de assustado. É claro que não é para isso, mas a professora é tão inocente que chega a ser engraçado ela levando a sério.

- O-oque? Não não é isso Josh, eu sou vegetariana e nunca faria algo do tipo com animais. Foi apenas uma expressão, eu quero dizer que vamos resolver dois problemas de uma só vez.

- Eu sei professora, foi apenas uma brincadeira - vejo ela expressar alívio - Enfim, qual é a proposta?

- Como a Sam machucou o pulso da mão em que ela usa para pintar, eu pensei em vocês dois fazerem dupla para os projetos até quando a torção dela sarar. Ela vai te ajudar com as ideias e te ensinar algumas coisas, você pinta e aprende. Dessa forma os dois saem ganhando e tiram uma boa nota sem se prejudicarem.

Eu penso por alguns segundos e aceito, até porque não tenho muita escolha...eu preciso dessa nota.

- Ah! Josh me faça um favor, avise a Sam sobre isso. Preciso da resposta dela amanhã de manhã.

- Humm...ok - passo a mão na parte de trás do meu pescoço pensando em como vou contata-lá.

Saio da escola decidido a ir na sua antiga casa, pego a minha moto e deixo o capacete da Shely com uma amiga dela que estava ali perto, pelo jeito ela vai ter que se virar para ir embora hoje.

Chego na frente da casa de Sam e toco a campainha, chamo pelo seu nome mas ninguém me atende. Tento abrir a porta e ela está destrancada, eu entro com cuidado, a chamo mais uma vez e escuto uma música vindo do segundo andar - "Aquela idiota deve estar em seu quarto ouvindo música alta, por isso não consegue me ouvir".

Subo as escadas impaciente procurando de onde vem aquela sinfonia, passo pelo seu quarto, pelo quarto do seu pai e nada. Vou na direção da sala de estar e vejo que tem uma porta aberta com a claridade passando por ela, decido dar uma olhada.

Eu me deparo com a Sam na banheira lendo um livro tranquilamente, bom...pelo menos estava tranquila até me ver. Ela levou um bom susto e acabou deixando o seu livro cair na água. Que desastrada. Não me choquei tanto com a situação, até porque estava com espuma o bastante para eu não conseguir ver nada. Mas acho que ela não pensa bem assim.

- Q-que merda é essa Josh? O que você tá fazendo aqui? Vire pra lá!

- Não fique tão chocada docinho, você não é a primeira mulher nua que eu vejo e com certeza não será a última.

Ela revira os olhos enquanto eu mostro o meu melhor sorriso - Como você é imaturo - ela diz me encarando séria.

- Eu só vim te passar uma proposta da professora Soares, ela deu a chance de fazermos os trabalhos juntos para não nos prejudicarmos - encosto meu ombro na estrutura da porta enquanto espero a resposta dela.

- Mas por que logo você? Por acaso está encrencado na matéria dela? - ela me encara com desconfiança.

- Pode se dizer que sim, mas também pelo fato de você ter machucado o pulso e ter ficado impossibilitada de fazer algo que eu posso fazer, sabe...fiquei comovido e aceitei fazer essa caridade - dou de ombros e continuo a falar antes que ela possa me insultar - Enfim, eu até queria ficar e participar da festinha...mas preciso ir. Quando aparecer algum trabalho me procure.

Ela está vermelha, será que tem alergia desses sabonetes que está usando?

Como ela fica em silêncio eu decido sair da casa, acho que isso significa um sim.

O que acharam desse capítulo? Espero que tenham gostado. Se gostou deixe seu voto e comente! ❤️